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Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras

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Domício Proença Filho<br />

dância. Arrisco-me por enten<strong>de</strong>r que todo texto é diálogo. Com muito mais<br />

razão o texto crítico. E porque é sempre oportuno voltar a aspectos pouco claros<br />

na imagem historiciza<strong>da</strong> do escritor.<br />

Para tratar <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis e <strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>, nos termos que me foram<br />

propostos, buscarei apenas, nos limites <strong>da</strong> presente situação <strong>de</strong> fala, selecionar<br />

alguns traços do seu perfil. Como ser humano, como funcionário, como<br />

acadêmico. Destaca<strong>da</strong> a sua vinculação com a Casa. Situados ambos no contexto<br />

sociocultural <strong>da</strong> época. Seleção implica necessariamente omissões. Procurarei<br />

que não sejam significativas. As tintas e a linha do <strong>de</strong>senho me foram forneci<strong>da</strong>s,<br />

entre muitos, por Josué Montello, Luís Viana Filho, Raymundo Magalhães Jr.,<br />

Jean-Michel Massa e Lúcia Miguel-Pereira, biógrafos do escritor; pelos machadólogos<br />

Valentim Facioli e Alfredo Bosi, além dos textos <strong>da</strong> sua correspondência<br />

ativa e passiva e <strong>da</strong>s atas <strong>da</strong>s sessões <strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> realiza<strong>da</strong>s entre 1897, <strong>da</strong>ta<br />

<strong>de</strong> sua instalação, e 1908, ano <strong>da</strong> morte do seu primeiro presi<strong>de</strong>nte.<br />

Seja-me permitido recor<strong>da</strong>r, para efeito <strong>de</strong> contextualização, alguns fatos <strong>de</strong><br />

relevância sobre o Brasil <strong>de</strong>sses tempos.<br />

A época em que Machado <strong>de</strong> Assis vive é, no Brasil, sabemos todos, marca<strong>da</strong><br />

pelo signo <strong>da</strong> crise e <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça. Trata-se <strong>de</strong> um tempo brasileiro em que<br />

uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mentalmente agrária, latifundiária e escravocrata, abre espaço<br />

para a presença <strong>de</strong> fortes dimensões burguesas e urbanas, abolido, gra<strong>da</strong>tivamente,<br />

o trabalho escravo.<br />

Desenvolve-se e amplia-se a lavoura cafeeira. Ganha <strong>de</strong>staque a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

mercantil, o comércio interno e externo. As gran<strong>de</strong>s somas disponíveis, por<br />

força <strong>da</strong> eliminação <strong>da</strong> escravatura, são em gran<strong>de</strong> parte objeto <strong>de</strong> reinvestimento<br />

em empreendimentos urbanos. Ferrovias, telégrafo e portos favorecem<br />

o progresso. Prepara-se o advento <strong>da</strong> industrialização. A imprensa estabiliza-se.<br />

A socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>scobre a rua, com seus entretenimentos, entre eles o teatro,<br />

as novi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>, as festas.<br />

Esse progresso traz a ascensão <strong>da</strong> classe média, ain<strong>da</strong> que com consciência<br />

<strong>de</strong> classe bastante reduzi<strong>da</strong>. E o seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comportamento, na economia,<br />

na política, nas atitu<strong>de</strong>s, é <strong>da</strong>do pela classe dominante, que, ciosa e experiente,<br />

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