Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Cícero Sandroni<br />
to que o procuravam, na Gazeta <strong>da</strong> Tar<strong>de</strong>, jornal abertamente abolicionista. Mais<br />
tar<strong>de</strong>, quando Patrocínio per<strong>de</strong>u a Gazeta e fundou a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio, também dirigi<strong>da</strong><br />
por Raul Pompéia, Alcindo acompanhou-o. O escritor Artur Mota – que<br />
por duas vezes tentou ingressar nesta <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> e, mesmo frustrado em seu <strong>de</strong>sejo,<br />
jamais <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> reverenciá-la, em sua biografia <strong>de</strong> Alcindo Guanabara,<br />
publica<strong>da</strong> na Revista <strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> – conta que, ain<strong>da</strong> consi<strong>de</strong>rado foca por to<strong>da</strong> a<br />
re<strong>da</strong>ção, certo dia, ao chegar, foi avisado <strong>de</strong> que José do Patrocínio e Pompéia<br />
estavam em São Paulo, certamente em busca <strong>de</strong> recursos para manter o seu jornal.<br />
Por falta <strong>de</strong> pagamento, o pessoal <strong>da</strong> re<strong>da</strong>ção resolvera fazer uma pare<strong>de</strong>,<br />
como se chamava a greve, naquele então. O rapaz não hesitou e disse a Serpa<br />
Júnior, o gerente <strong>da</strong> folha, que não se preocupasse, ele faria o jornal sozinho.<br />
Fechou-se na sala <strong>da</strong> Re<strong>da</strong>ção, escreveu artigo <strong>de</strong> fundo, a sessão humorística,<br />
ecos, crônicas, crítica, noticiário geral e mandou tudo para as oficinas. Artur<br />
Mota conta que os colegas <strong>de</strong> Alcindo ficaram fascinados com a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
trabalho e o talento do rapaz e, em vez <strong>de</strong> acusá-lo <strong>de</strong> fura-greve, resolveram<br />
homenageá-lo com um banquete. A partir <strong>de</strong> então José do Patrocínio entregou-lhe<br />
a crônica política e ele passou a fazer a campanha abolicionista, sob o<br />
pseudônimo <strong>de</strong> Aranha Minor.<br />
Artur Mota soube <strong>da</strong> história em que Alcindo aparece no papel <strong>de</strong> furagreve<br />
por “conservar-se (a narrativa) entre os que se <strong>de</strong>dicam ao trabalho na imprensa,<br />
transmiti<strong>da</strong> por tradição oral às gerações posteriores”. O texto consta<br />
dos anais <strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>. Mas mesmo numa fase em que o<br />
jornalismo passava por sua época romântica, on<strong>de</strong> profissionalismo e boêmia<br />
se confundiam, é <strong>de</strong> se estranhar que a corporação <strong>de</strong> um jornal homenageasse<br />
um foca fura-greve. A história revela o talento e a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong><br />
Alcindo Guanabara, atestado também pelo <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Mario Hora no livro<br />
48 anos <strong>de</strong> jornalismo que Josué Montello reconta no seu livro Anedotário geral<br />
<strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>:<br />
“Ao tempo em que dirigia A Imprensa, Alcindo Guanabara realizava o<br />
prodígio <strong>de</strong> ditar a três re<strong>da</strong>tores, simultaneamente, enquanto passeava <strong>de</strong><br />
64