Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Afonso Arinos, filho<br />
fim. “A substituição interina do nosso ilustre secretário-geral pôs-me na<br />
contingência <strong>de</strong> ocupar a atenção <strong>de</strong>sta assembléia, lendo o relatório do movimento<br />
<strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>. Nunca a substituição me foi mais penosa. Não porque<br />
me doa o amor-próprio ferido, sentindo que todos hão <strong>de</strong> estar a evocar<br />
a bela figura eloqüente <strong>de</strong> Joaquim Nabuco e a fazer uma comparação, que<br />
só po<strong>de</strong> ser esmagadora. O amor-próprio <strong>de</strong>saparece neste momento. O que<br />
há apenas é, ao contrário, que eu reclamo para mim ser, nesta assembléia,<br />
quem mais sente a <strong>de</strong>sproporção entre o substituído e o substituto, e, por um<br />
<strong>de</strong>sdobramento cerebral, enquanto profiro estas palavras mal alinha<strong>da</strong>s, lembro<br />
o que seria aqui a voz eloqüente do dominador <strong>da</strong>s multidões, que tanto<br />
soube outrora arrastar um povo inteiro à conquista <strong>da</strong> re<strong>de</strong>nção para uma<br />
raça oprimi<strong>da</strong>, como saberia, hoje, tornar-se persuasiva para nos falar <strong>da</strong> arte<br />
e do belo.”<br />
Em novembro do mesmo ano, Joaquim Nabuco escreve a Machado <strong>de</strong><br />
Assis <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo o voto dos ausentes, ain<strong>da</strong> polêmico, e se precata contra<br />
possíveis frau<strong>de</strong>s: “Como vai a nossa <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>? Eu realmente penso que aos<br />
ausentes <strong>de</strong>via ser <strong>da</strong>do o direito <strong>de</strong> voto. Era mais honroso para os eleitos reunir<br />
o maior número possível <strong>de</strong> votos. VV. estatuiriam o modo <strong>de</strong> enviar a<br />
nossa chapa, ou <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r alguém <strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> votar pelos ausentes. Não haveria<br />
perigo <strong>de</strong> ata falsa nem <strong>de</strong> fósforos. O procurador ao votar, por exemplo,<br />
por mim, <strong>de</strong>clararia que eu lhe escrevera (mostrando o documento) para votar<br />
por mim, nessa eleição, no candi<strong>da</strong>to F. Talvez o voto dos ausentes <strong>de</strong>vesse ser<br />
aberto e <strong>de</strong>clarado. Quem são os candi<strong>da</strong>tos às duas ca<strong>de</strong>iras?”<br />
Uma semana <strong>de</strong>pois, ele volta a interpelar Machado: “O Arinos escreveu-me<br />
que é candi<strong>da</strong>to, e que os ausentes votam. Des<strong>de</strong> quando? Como?<br />
Quem são os seus candi<strong>da</strong>tos? Muitas lembranças a todos que em nossas letras<br />
se acolhem do seu lado e professam o lema: ‘Um só rebanho, um só pastor’.”<br />
No mês seguinte, nova carta ao presi<strong>de</strong>nte, conseqüência <strong>da</strong> anterior: “Aí<br />
vai o meu voto. Dou-o ao Afonso Arinos por diversos motivos, sendo um <strong>de</strong>les<br />
ser a vaga do Eduardo Prado. (Arinos era casado com Antonieta, sobrinha <strong>de</strong> Eduardo<br />
Prado, filha do Conselheiro Antônio Prado e irmã <strong>de</strong> Paulo Prado.) Para a ca<strong>de</strong>ira do<br />
84