Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
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Lúcio <strong>de</strong> Mendonça, o fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> ABL<br />
grupo <strong>de</strong> contos rústicos – “Coração <strong>de</strong> caipira” (1877), “João Mandi”, “Mãe<br />
Cabocla” (1885), posteriormente coligidos em Esboços e perfis (1889)–ochavão<br />
<strong>de</strong> um camponês até então socialmente indiferente, portador <strong>de</strong> valores do<br />
sentimento em seu não escrito código <strong>de</strong> honra rural: código que, se não respeitado<br />
em seu rígido equilíbrio arcaico, po<strong>de</strong> ocasionar a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> to<strong>da</strong><br />
individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoal e coletiva.<br />
Para Alexandre Eulálio:<br />
“Lúcio <strong>de</strong> Mendonça está entre os melhores contistas <strong>de</strong> sua época: autor<br />
<strong>de</strong> um romance dos mais curiosos e representativos do nosso naturalismo,<br />
foi poeta <strong>de</strong> certo modo único no gênero na história literária do Brasil.<br />
Dono <strong>da</strong> língua, que dominava com espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong> e brilho, suas crônicas<br />
e recor<strong>da</strong>ções têm raro sabor evocativo, e tanto aí, como no campo <strong>da</strong> ficção,<br />
pouca gente soube escrever e <strong>de</strong>screver como ele.<br />
A revisão <strong>de</strong> sua obra literária, extensa e varia<strong>da</strong> como é, se faz ca<strong>da</strong> vez<br />
mais necessária. Como contista, foi o primeiro a realizar o regionalismo na<br />
história curta, ultrapassando os precursores do gênero <strong>de</strong> Bernardo Guimarães,<br />
do grupo <strong>de</strong> Apolinário Porto Alegre ou Franklin Távora.”<br />
Ain<strong>da</strong> segundo ele, Lúcio iria tentar um regionalismo <strong>de</strong> outra espécie, através<br />
<strong>da</strong> dramatização psicológica <strong>da</strong>s personagens, que tomam reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
ação ou do drama, todos apresentam, on<strong>de</strong> tem origem a gran<strong>de</strong>za rudimentar<br />
trazi<strong>da</strong> <strong>de</strong> histórias como “Cabocla”, “Coração <strong>de</strong> caipira”, “O hóspe<strong>de</strong>”,<br />
“João Mandi”, seus contos mais conhecidos e <strong>de</strong> maior fama.<br />
Múcio Leão também aponta o regionalismo, em alguns contos <strong>de</strong>liciosos<br />
como “O hóspe<strong>de</strong>”, mas assinala que o que mais gravou na imaginação foi o intitulado<br />
“Coração <strong>de</strong> caipira”, representação <strong>de</strong> episódios a que Lúcio assistira<br />
no interior <strong>de</strong> Minas, quando ao surpreen<strong>de</strong>r a mulher infiel o marido <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />
matá-la, mas a pedido do patrão a perdoa, e ao mesmo tempo adoece gravemente.<br />
Às portas <strong>da</strong> morte, a mulher <strong>de</strong>seja lhe pedir perdão, mas ele a expulsa e<br />
man<strong>da</strong> o amigo comum dizer:<br />
– Diga a essa ca<strong>de</strong>la que eu estou morto.<br />
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