Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Alberto Venancio Filho<br />
Coelho Neto:<br />
“A <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Brasileira</strong> nasceu no escritório <strong>da</strong> Revista <strong>Brasileira</strong>, noprimeiro<br />
an<strong>da</strong>r <strong>de</strong> um prédio humil<strong>de</strong> na antiga Rua Nova do Ouvidor. Duas<br />
salas acanhadíssimas: re<strong>da</strong>ção em uma, secretaria em outra. Dos sócios <strong>da</strong><br />
casa, o menos assíduo era o sol, representado, quase sempre, pelo gás, porque,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a esca<strong>da</strong>, tinha-se a impressão <strong>de</strong> que, em tal cacifo, mal os galos<br />
começavam a cantar matinas, a noite recolhia a sua sombra...<br />
Foi em tal pobreza obscura que nasceu a <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>. Fraca, entangueci<strong>da</strong>,<br />
morre não morre, só não sucumbiu porque teve a <strong>de</strong>svelá-la a <strong>de</strong>dicação dos<br />
seus fun<strong>da</strong>dores, que a aleitavam com esperanças, leite muito <strong>de</strong>ssorado, e<br />
envolviam-na, para aquecerem-na, em faixas <strong>de</strong> entusiasmo.<br />
Lúcio era o mais corajoso e solícito dos aios <strong>da</strong> pobrezinha. Foi ele<br />
que a vacinou com a linfa <strong>da</strong> perseverança. Foi ele que a curou <strong>da</strong> coqueluche,<br />
que lhe pôs ao pescoço o colar <strong>de</strong> âmbar para evitar as crises <strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>ntição, que a batizou no templo <strong>da</strong>s musas e que lhe incutiu na alma a<br />
gran<strong>de</strong> fé, tônico que a fortaleceu para vencer os percalços <strong>da</strong> primeira<br />
infância...<br />
Foi em tal pobreza obscura, como a do presepe (honni soit qui mal y pense!)<br />
que nasceu a <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>, e, se anjos não esvoaçaram no beco, anunciando o<br />
natal <strong>da</strong> instituição, cá em baixo, na terra rasa, teve a recém-nasci<strong>da</strong> vozes<br />
que, se não a glorificaram com hosanas, fartaram-se <strong>de</strong> a arrasar, anunciando-lhe<br />
a morte com prognósticos ridículos.”<br />
Portanto, ali, na re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Revista, reunidos para o chá <strong>da</strong>s 4 horas, é que viria<br />
a renascer a idéia <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>.<br />
Muitos outros subsídios po<strong>de</strong>riam ser citados em apoio à tese <strong>de</strong> que Lúcio<br />
<strong>de</strong> Mendonça foi o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>, mas os <strong>de</strong>poimentos<br />
aqui coligidos já provam <strong>de</strong> forma insofismável essa autoria.<br />
É curioso assinalar que na sessão inaugural <strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>, em 20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />
1897, Lúcio <strong>de</strong> Mendonça não compareceu justificando a ausência por carta.<br />
54