Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
Ciclo Origens da Academia - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Afonso Arinos, filho<br />
A referência aos “poucos [...] eleitos pela <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> ain<strong>da</strong> incompleta” resulta,<br />
como é sabido, do fato que os fun<strong>da</strong>dores originais eram trinta, mas eles<br />
optaram por adotar o mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> Francesa, com os seus quarenta<br />
membros. E Nabuco assinalava. “O número <strong>de</strong> quarenta era quase forçado,<br />
por que não dizê-lo? Tinha a medi<strong>da</strong> do prestígio, esse quê simbólico <strong>da</strong>s<br />
gran<strong>de</strong>s tradições [...]: as proporções justas <strong>de</strong> qualquer criação humana são<br />
sempre as que foram consagra<strong>da</strong>s pelo sucesso. Não tomamos à França todo o<br />
sistema <strong>de</strong>cimal? Podíamos bem tomar-lhe o metro acadêmico.”<br />
Por esse motivo, o último remanescente <strong>de</strong>ntre os primeiros acadêmicos,<br />
Carlos Magalhães <strong>de</strong> Azeredo, com quem convivi em Roma nos anos cinqüenta,<br />
quando o chamei fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>, corrigiu-me: “Fun<strong>da</strong>dor fun<strong>da</strong>do”.<br />
E explicou por quê.<br />
Assim, tanta honra trouxe a <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> a Joaquim Nabuco quanto este a ela.<br />
Pois o arauto <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, o apóstolo <strong>da</strong> Abolição, o historiador imperial, o<br />
<strong>de</strong>fensor incansável dos interesses nacionais no exterior quando o governo republicano<br />
exigiu o seu concurso <strong>de</strong> monarquista convicto, <strong>de</strong>votou, até o fim<br />
(embora quase sempre afastado do Brasil em missões diplomáticas), interesse<br />
ativo e constante pela <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Brasileira</strong>. Nabuco compôs, com Rio Branco<br />
e Rui Barbosa – ambos também acadêmicos –, a tría<strong>de</strong> simbólica <strong>da</strong>s virtu<strong>de</strong>s<br />
pátrias na fase <strong>de</strong> transição entre o Império e a República, porém sua glória<br />
imperecível estará sempre na coragem moral com que soube superpor, aos interesses<br />
<strong>de</strong> classe e <strong>da</strong> família, a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> concreta, atuante e vigorosa com<br />
os oprimidos, humilhados e ofendidos.<br />
Mas, naqueles tempos inaugurais <strong>de</strong> incertezas, <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s financeiras<br />
e logísticas, Nabuco estava longe <strong>de</strong> prever que o <strong>de</strong>stino <strong>da</strong> <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong><br />
<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Letras</strong> fosse um porto seguro. Para ele, “a homens <strong>de</strong> letras que<br />
se prestam a formar uma aca<strong>de</strong>mia não se po<strong>de</strong> pedir fé; só se <strong>de</strong>ve esperar<br />
<strong>de</strong>les a boa-fé. A questão é se ela bastará para garantir a estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />
companhia exposta, como esta, a tantas causas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sânimo, <strong>de</strong> dispersão e<br />
<strong>de</strong> indiferentismo. Se a <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> florescer, os críticos <strong>de</strong>ste fim <strong>de</strong> século terão<br />
razão em ver nisso um milagre”.<br />
78