O IMPÉRIO DO - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
O IMPÉRIO DO - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
O IMPÉRIO DO - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
tes. A televisão náb escapa a isso. Dizer "Dona Benta" implica em sua visualização, <strong>de</strong>safio aqui du-<br />
plo, na medida em que uma boa percentagem das crianças que vêm assistindo à série pela televisão<br />
já leram, algum dia, um ou outro livro <strong>de</strong> Lobato, e têm uma visualização bastante objetiva das per-<br />
sonagens. Basta lembrarmos que modificações recentes introduzidas na série não <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> provo-<br />
car comentários nos telespectadores, mirins ou adultos.<br />
É indiscutível, por outro lado, a importância da transposição do livro para este multi-meio efi<br />
cientfssimo que é a televisão. O "tubo", como o <strong>de</strong>nominam os norte-americanos, não apenas pela<br />
multiplicida<strong>de</strong> quase infinita <strong>de</strong> sua audiência, como pela efetivida<strong>de</strong> múltipla da mensagem que é<br />
capaz <strong>de</strong> alcançar, transforma qualquer ilustre <strong>de</strong>sconhecido em sucesso absoluto, quanto mais a<br />
literatura <strong>de</strong> Monteiro Lobato, sobejamente conhecida.<br />
Mas o que muda nesta transposição? Lembro-me que em tempos idos, foram sérias as críticas<br />
quanto aos "<strong>de</strong>svios" que a série teria provocado. Verificando, porém, o atual momento, já com cin-<br />
qüenta capítulos no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, po<strong>de</strong>-se observar que, embora a narrativa não pertença<br />
diretamente a Lobato, constituindo-se em homenagem evi<strong>de</strong>nte ao escritor, uma vez que o incor-<br />
pora como personagem em visita ao sítio, a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao espírito da literatura lobatiana é bastan-<br />
te gran<strong>de</strong>. Afinal, a Cuca, como o Saci, constituíram um dos elementos <strong>de</strong> maior interesse <strong>de</strong> Loba-<br />
to, que publicou inclusive como primeira obra <strong>de</strong> sua autoria uma pesquisa em torno da figura do<br />
negrinho <strong>de</strong> uma perna só, e ao longo <strong>de</strong> toda a vida sempre privilegia cultura e a sabedoria popula-<br />
res, inclusive indo contra os gramáticos, como se vê em tantas passagens <strong>de</strong> suas narrativas, ou pela<br />
atenção que conce<strong>de</strong> às lendas. Terá sido esta tendência uma contrapartida <strong>de</strong> "mea-culpa" aos<br />
ataques inicialmente formulados na figura <strong>de</strong> Jeca Tau? Eis aí uma curiosa questão.<br />
A observação á série da televisão, porém, coloca-nos o uso do pressuposto das imagens visuais<br />
tradicionais das personagens: Dona Benta, como Tia Nastácia, Pedrinho como Narizinho, a sem-<br />
pre fascinante Emilia como o Viscon<strong>de</strong>, seguem á risca a visualização tradicional. Até mesmo o Saci<br />
surpreen<strong>de</strong> pela fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>. Acrescentaram-se personagens, é certo, inventaram-se novas situações<br />
como o enredo atualmente apresentado. Mas o clima permanece. O que mudou foi o ritmo.<br />
Por exemplo, à linearida<strong>de</strong>, preten<strong>de</strong>u-se substituir pela simultaneida<strong>de</strong> das ações. No entanto,<br />
o ritmo contínuo, bem marcado, equilibrado, que o texto nos apresentava, per<strong>de</strong>u-se. Por que?<br />
Parece-me haver uma contradição entre a rapi<strong>de</strong>z pretendida com a simultaneida<strong>de</strong> e a exigência<br />
que o conceito da série, através do "capítulo", propõe para a televisão: o enredo se torna arrasta-<br />
do, por vezes melodramático, pois o texto <strong>de</strong>ve ce<strong>de</strong>r lugar à imagem e a observação <strong>de</strong> entrelinha<br />
ao "dose" ou ao "traveling" que, em certo momento, — corta a empatia entre espectador e a coi-<br />
sa narrada.<br />
A montagem que a suíte <strong>de</strong> televisão exige parece contrapor-se diretamente a esta perspectiva<br />
sugerida pelo texto, <strong>de</strong> tal maneira que, apesar <strong>de</strong> se manter o clima das personagens, per<strong>de</strong>-se o<br />
envolvimento, a empatia que elas provocam no texto, mas <strong>de</strong> que normalmente se mostram incapa-<br />
zes no ví<strong>de</strong>o.<br />
Sei que existem estudos que chegam mesmo a medir a duração <strong>de</strong> cada "take" na televisão, por<br />
exemplo, na telenovela ou no noticiário, bem como a conseqüência psicológica e <strong>de</strong> efetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
mensagens que isso alcança. Caberia pensar, conseqüentemente, porque, em "O Sítio do Pica-pau<br />
amarelo" as tomadas são mais longas. Verificar a relação <strong>de</strong>sta duração com as mensagens veicula-<br />
das e, enfim, o que se per<strong>de</strong>, como o esboçamos, com tal situação, em relação ao texto lobatiano.<br />
Observe-se, por exemplo, como, <strong>de</strong> uma cena para outra, trata-se <strong>de</strong> "encher o miolo" do enredo,<br />
repetindo-se <strong>de</strong> capítulo para capítulo as mesmas situações, inclusive mediante o uso <strong>de</strong> frases<br />
absolutamente artificiais, que nada acrescentam á ação dramática em si. Eis uma tarefa que se apre-<br />
senta aos pesquisadores <strong>de</strong> comunicação, e para bem breve.<br />
MONTEIRO LOBATO PARA CRIANÇAS E JOVENS<br />
Edmir Perrotti<br />
A situação <strong>de</strong> países como o Brasil no cenário mundial é tão problemática que a idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>sen-<br />
volvimento acaba tomando aí medidas gigantescas, capazes <strong>de</strong> gerarem equívocos <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m,<br />
<strong>de</strong> levarem a opções injustificáveis, <strong>de</strong> enredarem em suas malhas cabeças extremamente lúcidas<br />
bem como pessoas dotadas da maior generosida<strong>de</strong>. Acometendo a todo mundo, nesses países, a<br />
febre do progresso transforma-se em categoria mítica que se basta a si mesma e que, enquanto<br />
13