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O IMPÉRIO DO - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

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çao que não tém acesso aos meios nem por isso são caos. Caos só existe a nível da representação so-<br />

cial mas da libido. Sobre a questão levantada por Arlindo Machado, que <strong>de</strong>screveu o processo <strong>de</strong> "pi-<br />

rataria da comunicação" <strong>de</strong>senvolvido por brasileiros através do uso alternativo do vi<strong>de</strong>ocassete,<br />

Guattari respon<strong>de</strong> entusiasmado: se o Brasil continuar nessa ebulição social, talvez seja preciso man-<br />

dar para a França esse elevador <strong>de</strong> revoluções moleculares (. . .1. Nos países europeus o que é caracte-<br />

rístico é que as profissões sejam extremamente enquadradas nos sistemas <strong>de</strong> hierarquia, o que faz<br />

com que a menor transformação seja tomada no quadro das hidras estatais, com uma tecnologia al-<br />

tamente elaborada, para operar com vetores tupiniquins. Há re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida alternativa, <strong>de</strong> multipli-<br />

cação <strong>de</strong> grupos primários e há políticas elaboradas para criar estatutos pouco Institucionalizados pa-<br />

ra financiar rádios livres, comunida<strong>de</strong>s alternativas <strong>de</strong> psiquiatria. A tentação das prppostas oficiais<br />

cria uma situação difícil. O que ocorreria se em creches alternativas como as <strong>de</strong> Pinheiros (bairro <strong>de</strong><br />

burguesia) um governo socialista as financiasse esperando em contrapartida receber serviços políti-<br />

cos? Neste caso, talvez, o financiamento nem se coloque, pon<strong>de</strong>ra Guattari. Mas globalmente é preci-<br />

so que se pensem estratégias para a questão. Na França está se discutindo um financiamento não es-<br />

tatal mas dos setores marginais para que se possa sair da tría<strong>de</strong>: ou Estado ou capital privado ou misé-<br />

ria total. Pensa-se na criação <strong>de</strong> uma nova fundação <strong>de</strong>mocrática, <strong>de</strong>scentralizada, setorial que assuma<br />

problemas <strong>de</strong> financiamento sem recusar o contacto com o Estado mas que o negocie. Há que se con-<br />

jugar o financiamento estatal, o privado e o auto-financiamento. A questão da auto-gestão é que po-<br />

<strong>de</strong>rá levá-la a um nível superior.<br />

IGREJA INICIA O "ADEUS A ARISTÓTELES"<br />

José Marques <strong>de</strong> Melo<br />

Luis Ramiro Beltrán, pesquisador boliviano, sem dúvida nenhuma uma das figuras mais represen-<br />

tativas do pensamento latino-americano sobre comunicação, cunhou com extrema felicida<strong>de</strong> a ten-<br />

dência que ganha corpo no mundo <strong>de</strong> hoje: "A<strong>de</strong>us a Aristóteles". Com essa expressão, Beltrán pre-<br />

ten<strong>de</strong> caracterizar toda a busca empreendida pelo Brasileiro Paulo Freire, pelo venezuelano Antônio<br />

Pasquali, pelo belga-chileno Armand Mattelart, entre tantos outros, que se esforçaram por sistemati-<br />

zar teoricamente uma mudança profunda nos processos sociais <strong>de</strong> comunicação, abandonando <strong>de</strong>fi-<br />

nitivamente os esquemas verti ca listas, uni<strong>de</strong>recionais, dominadores <strong>de</strong> reprodução das criações sim-<br />

bólicas, substituindo-os por novas experiências horizontais, bi<strong>de</strong>recionais, libertadoras <strong>de</strong> apreensão<br />

da realida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> repartição fraterna <strong>de</strong>ssas configurações culturais.<br />

Dizer "A<strong>de</strong>us a Aristóteles", contrapondo os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong> persuasão aos proces-<br />

sos <strong>de</strong> comunicação e <strong>de</strong> participação, tem sido uma preocupação dominante, nos últimos anos, em<br />

gran<strong>de</strong> parte dos círculos acadêmicos, profissionais e nos movimentos populares <strong>de</strong> todo o continen-<br />

te.<br />

A Igreja, particularmente a Católica, não obstante o papel <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança que vem assumindo na<br />

transformação da realida<strong>de</strong> socio-econômica latino-americana, em conseqüência da sua opção pre-<br />

ferencial pelos pobies, nem sempre se mostrou sensível a essa novu concepção <strong>de</strong> comunicação. O<br />

documento <strong>de</strong> Puebla indica uma mudança <strong>de</strong> sistema referencial, quando admite fortalecer peque-<br />

nos meios <strong>de</strong> comunicação que possam dar "voz aos que não tem voz" (comunicação alternativa).<br />

Persiste todavia a ambigüida<strong>de</strong>, quando o mesmo documento insiste no uso dos gran<strong>de</strong>s meios (co-<br />

municação <strong>de</strong> massa) para reproduzir, e conseqüentemente ampliar, o raio <strong>de</strong> audiência da mensa-<br />

gem evangélica. Ou seja, mantêm-se duas estruturas paralelas e contrapostas. No nível micro-social,<br />

operam-se processos dialógicos e participativos; no nível macro-social, conservam-se mecanismos<br />

massif icadores e propagandfsticos.<br />

Esse impasse e essa ambigüida<strong>de</strong> parece que começaram a ser refletidos e melhor compreendidos<br />

no seminário sobre "Igreja e Nova Or<strong>de</strong>m da Comunicação", realizado em Embu (São Paulo), no pe-<br />

ríodo <strong>de</strong> 8 a 12 <strong>de</strong> outubro. Foi um encontro promovido pela UNDA-AL, Associação Católica Lati-<br />

noamericana para o Rádio e a Televisão, com o respaldo do Departamento <strong>de</strong> Comunicação Social<br />

do CELAM (Conferência Episcopal Latinoamericanal e da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos<br />

do Brasil), tendo o apio institucional da UNESCO.<br />

Tratou-se <strong>de</strong> um evento singular, e portanto histórico, para a comunicação latinoamericana. Pe-<br />

la primeira vez, reuniram-se comunicadores cristãos e não-cirstãos, a convite da própria Igreja, para<br />

discutir questões sociais, econômicas e tecnológicas da maior significação política, tendo como pon-<br />

to <strong>de</strong> convergência os processos <strong>de</strong> comunicação vigentes na América Latina. A intenção do seminá-<br />

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