CORRENTES ATLÂNTICAS 132 Se Cuba foi o berço do bolero, o México e Porto Rico perfilharam-no e universalizaram-no, fazendo <strong>de</strong>le, <strong>de</strong>finitivamente, verso e dança, intimida<strong>de</strong> ímpar, colóquio e sensualida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o par ia fundindo sentimentos e ansieda<strong>de</strong>s, alimentando sonhos e utopias românticas. O bolero em tempo <strong>de</strong> amor Alberto Mosquera Moquillaza 133
A Buenavista Social Club, a banda cubana do momento, tem o mérito <strong>de</strong> ter afrontado a globalizada indolência sentimental com que o Oci<strong>de</strong>nte encerrou o século XX. Os seus sons e boleros clássicos, com tantos ou mais anos que os seus cansados mas rejuvenescidos cantores, voltaram a electrizar multidões, como se tivéssemos entrado no túnel do tempo para nos reencontrarmos com a paixão e o sabor <strong>de</strong> que os nossos pais e avós fizeram gala, quando, apesar da dureza da vida, o cantar e o bailar, ao aproximá- -los, os tornava verda<strong>de</strong>iramente humanos. Para o gozo do amor não há limites no tempo porque, assim como po<strong>de</strong> haver amores que durem toda uma vida, também po<strong>de</strong>m existir os tempestuosamente efémeros, mas <strong>de</strong> marcas in<strong>de</strong>léveis, e – porque não? – os amores <strong>de</strong> ocasião. A ida<strong>de</strong> tampouco é uma barreira intransponível: em cada um <strong>de</strong> nós, homem ou mulher, po<strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r-se um Florentino Ariza ou uma Fermina Daza, os velhos amantes <strong>de</strong> O Amor nos Tempos da Cólera que, com os seus corações estilhaçados – não precisamente pelo tempo, mas pelo amor – alcançaram o paraíso no final das suas vidas. «Eu creio, com Florentino Ariza, que, se a gente continua, o corpo continua. E eu creio que a gente continua se há amor. Sempre», diria García Márquez, autor <strong>de</strong>sse monumento literário, numa entrevista em torno do amor, da velhice e da morte. DOS GARDENIAS Dessas encruzilhadas <strong>de</strong> paixões, com os seus altos e baixos, surgiu e expandiu-se o bolero para levar ao êxtase os encontros furtivos ou abertos, consentidos ou proibidos, ou para mitigar na nostalgia a dor da separação ou da traição trapera; ainda que muitos prefiram a encantadora celestinaje dos seus versos e compassos para exclamar, com a cumplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Isolina Carrillo: «Dos gar<strong>de</strong>nias para ti:/ con ellas quiero <strong>de</strong>cir:/ «Te quiero, te adoro, mi vida»./ Ponle toda tu atención,/ que serán tu corazón y el mío/»; ou, quiçá, a partir da nossa ansiosa sauda<strong>de</strong>, alentados pela criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> María Graver, <strong>de</strong>sejar: «Si yo encontrara un alma/ como la mía,/ ¡cuántas cosas secretas/ le contaría!:/ un alma que, al mirarme, sin <strong>de</strong>cir nada,/ me lo dijese todo/ con la mirada;/ un alma que embriagase/ con suave aliento,/ que al besarme sintiera / lo que yo siento.» Não interessava que Carrillo fosse cubana ou mexicana; o mais importante era a sua linguagem, a do amor, cultivado e enriquecido em cada um dos boleros que os inspirados criadores nos foram entregando,
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