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A INVENÇÃO DA AMÉRICA 84<br />

85<br />

nor<strong>de</strong>ste da Califórnia, o que reflecte a sua<br />

busca incessante. Na ilha <strong>de</strong> S. Miguel<br />

(Açores) subsiste ainda o eco <strong>de</strong>ssa<br />

primeira i<strong>de</strong>ntificação na Lagoa das Sete<br />

Cida<strong>de</strong>s. Perduram ainda, nomeadamente<br />

na cartografia mexicana, topónimos que<br />

ilustram a emocionalida<strong>de</strong> dos viageiros:<br />

do <strong>de</strong>slumbramento – El Encanto, Islas Encantadas,<br />

La Encantada, El Edén, El Delirio,<br />

El I<strong>de</strong>al, Las Delicias, Esmeralda, Eldorado<br />

(em Nuevo León, San Luis <strong>de</strong> Potosí,<br />

Sinaloa), Paraíso (em Campeche, México,<br />

Oaxaca, Yucatán, Querétaro, Quintanaro,<br />

Guanajuato) – ao <strong>de</strong>sencanto – El<br />

Purgatorio, El Infierno, El Triste, El Perdido,<br />

El Olvido, El Imposible.<br />

No campo da evocação, as efeméri<strong>de</strong>s<br />

religiosas constituem o principal critério<br />

usado pelos primeiros navegadores.<br />

Cristóvão Colombo usou a nomenclatura<br />

cristã, logo na 1.ª viagem, no baptismo das<br />

terras que avistou: San Salvador, Navidad,<br />

Santa María <strong>de</strong> Guadalupe, Santa María <strong>de</strong><br />

Monserrate, Once Mil Virgens, San Juan<br />

Baptista... Assim também o Brasil, primeiro<br />

«Terra dos papagaios», seria baptizado Terra<br />

<strong>de</strong> Santa Cruz por Pedro Álvares Cabral,<br />

embora o nome actual, <strong>de</strong> origem mítica<br />

(Hy Bressail ou Brazil) ou profana, cedo se<br />

impusesse, mau grado o protesto <strong>de</strong> João<br />

<strong>de</strong> Barros (1555) e <strong>de</strong> Pêro <strong>de</strong> Magalhães<br />

Gândavo (1576). Os conquistadores espanhóis<br />

baptizaram inúmeras vilas e cida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> acordo com o calendário litúrgico:<br />

Pedro <strong>de</strong> Alvarado fundou um povoado,<br />

entre o Volcán <strong>de</strong> Agua e o Volcán <strong>de</strong> Fuego,<br />

a que chamou Santiago <strong>de</strong> los Caballeros <strong>de</strong><br />

Guatemala, esperando por uma segunda-<br />

-feira, 25 <strong>de</strong> Julho, para baptizar a vila com<br />

o nome do santo padroeiro <strong>de</strong> Espanha;<br />

Santa María <strong>de</strong> la Victoria (em Tabasco), Los<br />

Reyes (Lima, Peru), fundado no dia da<br />

Epifania,Triunfo <strong>de</strong> la Cruz (Honduras), ou<br />

Santa Cruz (na ilha <strong>de</strong> Cozumel), Santa Fe<br />

(<strong>de</strong> Bogotá), Gracias a Dios, Nombre <strong>de</strong><br />

Dios, Corpus Christi (no Rio da Prata e no<br />

México), ou Santo Domingo, ou ainda São<br />

Salvador da Baía, São Paulo, Santa Catarina,<br />

São Luís do Maranhão (Brasil). No campo<br />

da simbologia cristã, o calendário litúrgico<br />

foi o principal sistema <strong>de</strong> referência usado<br />

por navegadores ibéricos. Contudo, os<br />

espanhóis e, em menor grau, os portugueses<br />

não se limitaram à liturgia, adoptando<br />

também os dogmas como critério <strong>de</strong> baptismo<br />

– Trinidad, Triunfo <strong>de</strong> la Cruz,<br />

Espíritu Santo, San Salvador, Corpus Christi.<br />

Por vezes, o novo nome concilia diferentes<br />

critérios, como Villa Rica <strong>de</strong> la Veracruz, na<br />

costa oriental do México: «E logo or<strong>de</strong>námos<br />

<strong>de</strong> fazer e fundar e povoar uma vila,<br />

que se nomeou a Villa Rica <strong>de</strong> la Veracruz,<br />

porque chegámos quinta-feira da Ceia, e<br />

<strong>de</strong>sembarcámos sexta-feira Santa da Cruz, e<br />

rica por aquele cabaleiro que... se chegou a<br />

Cortés e lhe disse que mirasse as terras<br />

ricas...» (Oviedo).<br />

O viageiro europeu lia o novo à luz do<br />

familiar, pelo que o sistema classificativo<br />

traduz uma gramática percepcional que<br />

evoca a semelhança e a analogia da configuração<br />

externa visível. Os espanhóis foram<br />

prolixos na evocação do espaço ausente: à<br />

ilha <strong>de</strong> Haiti, ou Bohio, Colombo chamou<br />

La Española porque «A ilha é muito<br />

gran<strong>de</strong>... vi que é toda muito lavrada... este<br />

porto... ao cabo <strong>de</strong>le tem duas bocas <strong>de</strong> nós<br />

que trazem pouca água; em frente <strong>de</strong>le há<br />

umas vegas as mais formosas do mundo e<br />

quase semelhantes às terras <strong>de</strong> Castela,<br />

antes estas têm vantagem, pelo qual pus<br />

nome à dita ilha a ilha Espanhola»<br />

(Colombo, 1492); na primeira incursão<br />

pelo México, um grupo <strong>de</strong> portugueses da<br />

hoste <strong>de</strong> Cortés rebaptizou o povoado <strong>de</strong>

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