A BIBLIOTECA DE BABEL 70 Aventuras e <strong>de</strong>sventuras <strong>de</strong> uma biblioteca nos trópicos Lilia Moritz Schwarcz 71
O TERREMOTO DE 1755 OU «O MAL VEM DA TERRA» Em Portugal contava-se que o rei D. João I, conhecido como O <strong>de</strong> Boa Memória (1356-1433), já possuía uma boa biblioteca – ou livraria, como se chamava na época. D. Duarte (1391-1438), seu sucessor, <strong>de</strong>u continuida<strong>de</strong> à coleção, sendo ele mesmo um poeta e escritor. E assim caminhou a tradição: D. Afonso V (1432-1481) reuniu tantas obras valiosas que sua biblioteca passou a ser reconhecida como uma das mais famosas e completas do Velho Mundo. O fato é que no século XVIII o acervo real português era motivo <strong>de</strong> orgulho e avaliado como um dos melhores conjuntos bibliográficos <strong>de</strong> toda a Europa. D. João V (1689-1750) costumava dizer que os muitos mil volumes que compunham a Real Biblioteca quase não cabiam mais em seu gran<strong>de</strong> edifício, no Palácio da Ribeira, e tinham importância maior que todo o ouro remetido do Brasil. Por sinal, o Seiscentos português é sempre lembrado em função da riqueza e do luxo que o ouro do Brasil trouxe para a corte portuguesa. Gran<strong>de</strong>s festas, procissões, edificações majestosas como Mafra, uma corte mais mundana... muitos eram os sinais do brilho fácil que chegava em Lisboa. Junto com tanto fausto, também a Real Biblioteca foi sendo aumentada, bem ao gosto dos tempos: livros, incunábulos, códices, manuscritos, mapas, obras <strong>de</strong> arte e alguns objetos para romper com a monotonia dos livros. Por essas e por outras é que a livraria real era quase um troféu, uma es- Livros narram histórias, mas assim «ajuntados» valem até boas aventuras. Para o país recém-in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, uma Biblioteca como essa contava muito: era a tradição acumulada que permanecia em uma nação <strong>de</strong> tradição recente e a ser inventada pécie <strong>de</strong> ícone da erudição e do conhecimento possíveis e assim acumulados. Mas a sina <strong>de</strong>ssa biblioteca iria mudar. No só o monarca D. João morria em 31 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1755, como no sábado, 1.º <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1755, Dia <strong>de</strong> Todos-os-Santos, um gran<strong>de</strong> terremoto caiu sobre Lisboa. Dizia uma testemunha, Francisco José Freire, em suas Memorias das principaes provi<strong>de</strong>ncias que se <strong>de</strong>rão no Terremoto, que pa<strong>de</strong>ceo a Corte <strong>de</strong> Lisboa no anno <strong>de</strong> 1755 que «[...] às nove horas e quatro minutos da manhã, estando o céu limpo, o ar sereno e o mar em calma, se viu Lisboa surpreendida com um Terremoto dos mais horrorosos que a tradição conserva, ou <strong>de</strong>screvem os livros. Seus efeitos provam esta verda<strong>de</strong>; porque em tão breve tempo <strong>de</strong>ixou reduzidos a ruínas quase todos os edifícios da mesma cida<strong>de</strong>, sepultando nos estragos um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> seus habitadores, especialmente nos templos, que por ser dia <strong>de</strong> tanta solenida<strong>de</strong>, todos se achavam assistidos <strong>de</strong> numeroso povo». Pouco sobrou da capital dos portugueses. Devastada, elevava-se a mais <strong>de</strong> 30 mil o número <strong>de</strong> habitantes mortos por entre os escombros. E o que nos interessa mais <strong>de</strong> perto: o Paço da Ribeira foi <strong>de</strong>struído e, com ele, quase toda a Livraria <strong>de</strong> El Rey, que mais se parecia nesse momento com um amontoado <strong>de</strong> cinzas. Esse artigo conta um pouco da história <strong>de</strong>ssa Real Biblioteca que, reconstruída logo <strong>de</strong>pois do terremoto, se converteu em uma das metas políticas do governo pombalino. Depois disso acompanharia, com um pouco <strong>de</strong> atraso, a família real ao
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