Antropofagia à moda da casa - Conexão Professor

Bazar do Renascimento, de Jerry Brotton,
Grua Livros, apresenta interessantes revelações:
estuda a história “lendo” quadros
famosos e obras de arte, interpretando seus indícios
explícitos e implícitos. Nega a efervescência
renascentista ocorrida em parte da Europa
como “global”, mostrando que o Renascimento
não é italiano nem repentino como se supõe.
Afirma-o influenciado pelo mundo islâmico que,
por sua vez, resgata, preserva, reflete, expande e
difunde a cultura clássica. Revela que as “guerras
santas” do medievo europeu não impediram
o rico e variado comércio entre cristãos, judeus
e/ou maometanos.
Demonstra quão ricas e variadas eram as
trocas artísticas entre oriente e ocidente, e que Da
Vinci e outros prestavam ou ofereciam seus serviços
como artistas, engenheiros bélicos ou construtores
a antagonistas, cristãos ou muçulmanos.
Assinala que a Reforma e a Contra-Reforma nada
tinham de religiosas, e só buscavam poder e riqueza.
Assim, a venda de indulgências, que revoltou
46
NOSSA BIBLIOTECA
Bazar do Renascimento
O
al-Andalus
(antiga
Vandalicia
– “terra dos
vândalos”) era a
parte muçulmana
da Península
lbérica desde a
invasão por Tarique
Ibn Ziyad,
em 711 d.C. O
Gharb-al-Andalus,
ou al-Gharb
– compreendia
a ex-Lusitânia
romana e o oeste da Estremadura espanhola.
Nesta obra, editada pela Gryphus, a trama
junta Ali, filho de mãe romana e pai greco-bizantino
(convertido ao Islã), administrador fiscal da
terra, como narrador. O rico, culto e epicurista
junta os Hohenstaufen, embaixadores do Sacro
Império Romano-Germânico; os Fili, mundanos e
cosmopolitas; Ben, médico e cientista judeu e sua
mulher; Antonio e Ordoña, galegos gastrônomos;
Lutero, se destinaria
a financiar
a construção
da Basílica
de São
Pedro. Enfatiza
que as
viagens, descobrimentos,
avanços
científicos e
literários mudaram
a visão de mundo. Mostra como a
imprensa foi alavanca do “progresso” humano.
Sobre o autor
Jerry Brotton é professor de Estudos Sobre o
Renascimento, no Queen Mary, University of London.
Autor de outros títulos como Trading territories: mapping
the early modern world (Reaktion, Londres, 1997,
e Cornell University Press, 1998) e The Sale of the Late
King’s Goods: Charles I and his Art Collection (2006).
AI-Gharb 1146
www.grualivros.com.br
o Rei do Sal, administrador almorávida, fetichista
e poeta e lbn, árabe, homossexual e árbitro das
elegâncias, para inaugurar sua residência. Lá degustam
iguarias, compartilham da atmosfera, participam
de divertimentos eróticos e refletem sobre
os “grandes do mundo”: Afonso Henriques de Portugal,
Afonso VII de Leão e Castela, Abd el-Mumin,
califa almóada. Discutem geometria, arte, perfumes,
teoria das cores, antissemitismo, interditos e
transgressões, fundamentalismos e terror.
O mundo tolerante em que conviviam as
três religiões monoteístas, ameaça desmoronar:
Afonso Henriques toma Lisboa e os Almorávidas
são dominados pelos ascéticos e reacionários Almóadas.
AI-Gharb 1146 é onírica fantasia sobre
como seria um Portugal muçulmano.
Sobre o autor
Alberto Xavier (1942) é lisboeta, professor e
Doutor em Direito pela Universidade de Lisboa. Radicou-se
no Brasil, onde exerce vida universitária e é
advogado empresarial. Tributarista, é autor de bibliografia
na sua especialidade. Tem publicações no
Brasil, em Portugal e outros países.
www.gryphus.com.br