Antropofagia à moda da casa - Conexão Professor
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O<br />
52<br />
O ASSUNTO É...<br />
Concurso Público<br />
debate sobre<br />
a melhoraria<br />
quali<strong>da</strong>de do<br />
serviço público parece<br />
já ter cansado a<br />
opinião pública. O que<br />
chama a atenção é que o<br />
tema aparentemente se<br />
esgotou pela incapaci<strong>da</strong>de<br />
de se promoverem<br />
mu<strong>da</strong>nças significativas,<br />
coletando modelos<br />
e experiências que justifiquem<br />
ultrapassar os<br />
inevitáveis obstáculos<br />
políticos, corporativos<br />
e jurídicos.<br />
CLAUDIO MENDONÇA<br />
Vários países estão<br />
reeditando modelos<br />
de produtivi<strong>da</strong>de, em especial para o magistério, nos<br />
quais, basicamente, tentam atrelar os ganhos de aprendizagem<br />
dos alunos a remuneração maior aos professores.<br />
Este é o caso do estado do Kansas nos Estados<br />
Unidos, o mais antigo; há, ain<strong>da</strong>, a certificação de professores<br />
no estado de Illinois, além <strong>da</strong> recente proposta<br />
do Secretário (nome <strong>da</strong>do ao Ministro) <strong>da</strong> Educação <strong>da</strong>quele<br />
país, e o programa chileno Docentemás.<br />
Apesar disso, existe uma instituição que não<br />
tem recebido a devi<strong>da</strong> atenção do setor público brasileiro.<br />
Refiro-me ao concurso público. Não pretendo<br />
fazer defesa do que a lei já obriga, nem clamar<br />
por mais concursos, pois nos últimos anos isso tem<br />
acontecido “aos montes”, beneficiando os chamados<br />
cursinhos e as instituições avaliadoras. Não há cobrança<br />
quanto <strong>à</strong> quali<strong>da</strong>de do serviço. Quando não<br />
há escân<strong>da</strong>lo, tudo vai bem, respeitado o elementar<br />
dever de honesti<strong>da</strong>de e transparência.<br />
Mas afinal, quem é o efetivo cliente do serviço<br />
de seleção pública? A maioria vê essa ativi<strong>da</strong>de como<br />
mera contratação de instituição do ou pelo governo,<br />
que o faz para cumprir a lei face <strong>à</strong> necessi<strong>da</strong>de de<br />
pessoal. Só isso. O resto diz respeito ao edital padrão,<br />
<strong>à</strong>s “pegadinhas” nas provas, a prazos, recursos, e paramos<br />
por aí. O estágio probatório em nosso país é<br />
mera formali<strong>da</strong>de burocrática.<br />
Será que aquele jovem mergulhado em livros desde<br />
a tenra infância é capaz de gerir programas e políticas<br />
públicas de alcance social, exarar sentenças, cercear liber<strong>da</strong>des<br />
e definir alocações orçamentárias, por exemplo?<br />
A esmagadora maioria dos aprovados nesses<br />
concursos são alunos recém-formados e sem experi-<br />
ência de atuação. Por<br />
acabarem de sair dos<br />
bancos escolares, encaram<br />
bem a rotina<br />
dos cursinhos onde<br />
são literalmente adestrados.<br />
Mas podemos<br />
abrir mão <strong>da</strong> vivência,<br />
engajamento e experiência<br />
profissional para<br />
aprovar apenas pessoas<br />
comumente sustenta<strong>da</strong>s<br />
pelos pais, com<br />
grande capaci<strong>da</strong>de de<br />
memorizar conceitos e<br />
virar noites de estudo?<br />
As provas, em<br />
raríssimos casos avaliam<br />
habili<strong>da</strong>des e<br />
competências, como ler, interpretar e compreender<br />
textos; capaci<strong>da</strong>de de solucionar problemas, interrelacionar<br />
pensamentos, idéias e conceitos; sistematizar<br />
informações, dentre outras. Em pleno século XXI<br />
ain<strong>da</strong> não oferecemos computadores aos candi<strong>da</strong>tos<br />
– as provas são feitas com papel, lápis e caneta.<br />
Some-se a isto o fato de que ninguém regula ou fiscaliza<br />
as instituições executoras de concurso. E o que<br />
é pior, quem as contrata, a mais <strong>da</strong>s vezes, não é o<br />
responsável pela gestão do serviço público que vive o<br />
problema lá na ponta e sim o chefe do RH junto com<br />
a assessoria jurídica.<br />
Assim os aspectos administrativos do concurso<br />
são amplamente debatidos, mas ninguém se pergunta<br />
sobre o perfil do profissional. Na FESP, após<br />
um processo seletivo, constatou-se que 263 professores<br />
de Filosofia, História, e Língua Portuguesa se<br />
graduaram com baixíssima capaci<strong>da</strong>de de leitura e<br />
interpretação de textos. E aí começa a caríssima e comumente<br />
ineficaz luta do governo pela capacitação<br />
profissional do já empossado no emprego, que exercerá<br />
sua ativi<strong>da</strong>de por 30 a 35 longos anos.<br />
A partir dessa reflexão, ci<strong>da</strong>dãos e governo, temos<br />
que reunir os efetivos empregadores do setor público<br />
com os dirigentes universitários e discutir que<br />
tipo de profissionais estão sendo graduados e depois<br />
selecionados pelos concursos, para definir que processo<br />
seletivo o Brasil efetivamente precisa.<br />
CLAUDIO MENDONÇA<br />
Presidente <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Municipal de Educação de Niterói