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Antropofagia à moda da casa - Conexão Professor

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Foto: Euzivaldo Queiroz<br />

<strong>da</strong> população brasileira, o individualismo, em defesa<br />

do espírito libertário no qual se estriba, assu me<br />

a responsabili<strong>da</strong>de social que lhe é devi<strong>da</strong> graças<br />

aos benefícios provindos do exercício <strong>da</strong> própria liber<strong>da</strong>de.<br />

Nesta espécie de escola, cabem to<strong>da</strong>s as perguntas<br />

e a admissão de todos os problemas nacionais.<br />

E nem po deria ser diferente, se o Brasil in<strong>da</strong>ga-se<br />

<strong>à</strong> exaustão como agir perante o aluno que,<br />

recém-chegado <strong>à</strong> escola, traz consigo, como única<br />

bagagem, uma cultura primária, o conhecimento<br />

escasso, quase inexistente, <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de circun<strong>da</strong>nte.<br />

Um aluno que, marginalizado <strong>da</strong>s benesses<br />

culturais, e ofuscado pelo brilho do mundo, apenas<br />

dis põe <strong>da</strong>s migalhas que a grei familiar, desfalca<strong>da</strong><br />

de tudo, assegurou-lhe como única herança de<br />

amor e de atribu to moral.<br />

Este quadro social, a condenar os brasileiros<br />

ao de gredo, impõe, em contraparti<strong>da</strong>, a in<strong>da</strong>gação:<br />

acaso cabe <strong>à</strong> escola consoli<strong>da</strong>r estes valores, conservar<br />

o aluno em um estado indigente, a pretexto<br />

de não desmoronar suas convicções familiares, de<br />

não ofender suas raízes, seu orgulho cultural? Acaso,<br />

em nome de uma ideologia hi pócrita, de uma<br />

valorização cultural localista, é válido privá-lo dos<br />

benefícios provindos de uma revolução mental,<br />

mantê-lo afastado de um sistema linguístico sofisticado,<br />

isolá-lo do protagonismo social? E negar-lhe,<br />

Escola indígena waimiri atroari. Norte <strong>da</strong> Amazônia.<br />

Acervo Proindio/UERJ<br />

6<br />

EDUCAÇÃO EM DIÁLOGO<br />

como consequência, o privilégio de usufruir de uma<br />

reali<strong>da</strong>de progressista, só por haver nascido em um<br />

berço social mente condenado?<br />

As respostas doem, assim como as perguntas.<br />

Contu do, o que impulsiona a socie<strong>da</strong>de moderna<br />

é a inabalável convicção de que educação e cultura<br />

se destinam, indis crimina<strong>da</strong>mente, a pobres e<br />

ricos, <strong>à</strong> mulher e ao homem, sem distinções de credos,<br />

etnias, gênero, preferências sexuais, <strong>da</strong>s categorias<br />

que expressam a diversi<strong>da</strong>de e o pluralismo<br />

do planeta. Um príncípio soberano a reque rer que<br />

as cama<strong>da</strong>s desfavoreci<strong>da</strong>s do Brasil ingressem<br />

preferencialmente nas projeções <strong>da</strong>s estatísticas<br />

oficiais que, em geral, pautam suas decisões considerando<br />

os seg mentos sociais produtivos.<br />

Vivemos todos em uma galáxia humanística.<br />

E não devemos perder de vista aqueles conceitos<br />

que cobram <strong>da</strong> escola e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de uma<br />

poética <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Uma poética capaz de valorizar<br />

ao mesmo tempo a aventura de viver e o convívio<br />

com o saber. Empenha<strong>da</strong> em acreditar que<br />

o pensar, mesmo de alta elaboração, não sendo<br />

em si excludente, arrasta em seu interior, em sua<br />

disciplina expansionista, to<strong>da</strong>s as categorias sociais,<br />

todos os sentimentos engendrados pelo ser<br />

humano.<br />

Como consequência desta crença, há que<br />

humanizar o humano. Recuperar o logos na sua<br />

dimensão dupla, de razão e de conteúdo de linguagem.<br />

Há que reconhe cer a escola e a socie<strong>da</strong>de<br />

como responsáveis por uma pe<strong>da</strong>gogia que, havendo<br />

falhado na formação de princípios que alargam<br />

o espírito humano, terminou por vertebrar<br />

o sujeito social. E que, ao oferecer ao ci<strong>da</strong>dão o<br />

arremedo de uma democracia plena, concede-lhe,<br />

isto sim, falsas prerrogativas. Em especial quando<br />

se descui <strong>da</strong> de seus direitos e imprime <strong>à</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

ilusões irrea lizáveis.<br />

Com frequência desconfio de sermos vítimas<br />

de uma impostura social por parte de quem,<br />

a pretexto de adiar soluções de problemas asfixiantes,<br />

cria nomenclaturas vácuas, alia-se ao politicamente<br />

correto, com tal artifício dissimulando<br />

questões reais.<br />

Dificilmente o Brasil será uma nação soberana<br />

se não proclamar a cartilha como uma alavanca<br />

simbólica. Sem ela, uma legião de desesperados,<br />

desfalca<strong>da</strong> de fé no siste ma social, há de refugiar-se<br />

na violência, na morte preco ce. Para estes revoltados,<br />

a cela, substituindo a educação que redime o<br />

homem, torna-se uma impiedosa carta de alforria.<br />

A despeito, contudo, do fracasso dos sucessivos<br />

gover nos de enfrentarem a falência educacional,<br />

subsiste a fi gura heroica do professor que, levando<br />

a mochila nas costas, com os pés cansados, rastreia<br />

o Brasil. E oferta aos alunos, assombrados ante as<br />

primeiras manifestações <strong>da</strong> educação formal, as pa-

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