Antropofagia à moda da casa - Conexão Professor
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ILUSTRAÇÃO E CARICATURA<br />
Fig. 1 – Une vente d´esclaves <strong>à</strong> Rio-de-Janeiro<br />
Do Baú do Cau Barata, o traço satírico francês<br />
JOHN WESLEY FREIRE & HELENICE VALIAS<br />
A<br />
partir <strong>da</strong> Independência, estrangeiros, em especial<br />
franceses, passaram a ter acesso legal ao<br />
Brasil. Aqui vivendo, muitas vezes caricatura-<br />
no Rio de Janeiro e um Retrato do Imperador D. Pedro<br />
II. Biard chegou ao Brasil em 1858, fixando-se no Rio.<br />
Viajou, depois, pelo Amazonas e Pará e retornou para a<br />
vam o exótico que presenciavam e, bem “gaulesamen- Europa em fins de 1859. No Rio de Janeiro, fez desenhos<br />
te”, representando-o com ironia, como fazemos ao con- e procurou, em Paris, artistas para executá-los.<br />
tar pia<strong>da</strong>s sobre estrangeiros. Suas imagens mostravam<br />
Gravou este desenho de Biard o parisien-<br />
a exuberante paisagem, o ridículo <strong>da</strong> mimetização de se Adolphe Gusmand (1821-1905), estabelecido em<br />
usos e costumes europeus e os “cruéis” procedimentos Montmartre, que apresentou diversas de suas gravuras<br />
<strong>da</strong> escravidão, que horrorizaram “civilizados”, como, nos Salões de Paris, entre 1848 e 1880. De sua oficina,<br />
por exemplo, Charles Darwin. Ignoravam muitos deles o muitos trabalhos de Gustave Doré, expostos nos Salões<br />
que seus patrícios faziam nas “colônias de exploração” de Paris, e outros estampados na revista Monde Illustré.<br />
pelo mundo. Se soubessem talvez não nos achassem A ilustração retrata cena freqüente <strong>à</strong> época: num<br />
tão desumanos ou tão pouco “cristãos”.<br />
leilão, velhos “cartolas” bem trajados escolhem escravos,<br />
Pesquisador de nossa história, Carlos Eduardo criança assusta<strong>da</strong> se agarra <strong>à</strong> saia <strong>da</strong> mãe, que tem os<br />
Barata a tem relatado iconograficamente, fruto de “ga- dentes examinados por possível comprador, como se faz<br />
rimpagens” aqui e além-mar. Com<br />
com animais. No ambiente vislum-<br />
imagens e texto, prepara e publica<br />
bram-se móveis, instrumentos mu-<br />
na internet apresentações, audiovisicais<br />
e outros possíveis compradosuais<br />
ou slide-shows como se fala<br />
res de escravos.<br />
em informatês, estranha língua que<br />
Cau considera Biard “artista<br />
quer deletar o português…<br />
com tino caricaturista, retratando<br />
A seguir, algumas pérolas do<br />
satiricamente tipos e costumes ca-<br />
acervo de Cau Barata, conosco comriocas.<br />
O movimento, o relaxamento,<br />
partilha<strong>da</strong>s.<br />
quem sabe até o ‘jeitinho brasileiro’,<br />
Desenho de François-Auguste<br />
jogando conversa fora, enquanto o<br />
Biard, fig.1, (também autor de outros<br />
tempo passa, como em muitas <strong>da</strong>s<br />
quadros), pintor e desenhista (1798-<br />
prosas do nosso interior.”<br />
1882) nascido em Lion e falecido em<br />
Na figura 2, funcionário en-<br />
Fontainebleau. Participou de diversos<br />
trega Uma chave do Palácio (Impe-<br />
Salões de Belas-Artes, entre 1824 e<br />
rial) do Rio de Janeiro (a uma au-<br />
1868. No salão de 1861, apresentou<br />
tori<strong>da</strong>de?). É assinado por Biard e<br />
este desenho Uma ven<strong>da</strong> de escravos Fig. 2 – Une clé du palais de Rio-de-Janeiro<br />
Edouard Riou (1833-1900). Este,<br />
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