Antropofagia à moda da casa - Conexão Professor
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Desenho de<br />
Leo Martins<br />
do canto não poderiam<br />
desembocar em<br />
outra coisa. Mesmo<br />
tendo gravado como<br />
solista-cantor uma<br />
composição de Lamartine<br />
Babo, João<br />
de Barro não prosseguiu<br />
nesta carreira,<br />
investindo mais na<br />
composição, e foi aí<br />
que novo capítulo de<br />
sua vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> nossa<br />
vi<strong>da</strong> musical começou<br />
a ser escrito.<br />
Com seus vários<br />
PASTORINHAS<br />
(Noel Rosa e João de Barro)<br />
A estrela d’alva<br />
No céu desponta<br />
E a lua an<strong>da</strong> tonta<br />
Com tamanho esplendor<br />
E as pastorinhas<br />
Pra consolo <strong>da</strong> lua<br />
Vão cantando na rua<br />
Lindos versos de amor<br />
Lin<strong>da</strong> pastora<br />
Morena <strong>da</strong> cor de Ma<strong>da</strong>lena<br />
Tu não tens pena<br />
De mim que vivo tonto com o<br />
teu olhar<br />
Lin<strong>da</strong> criança<br />
Tu não me sais <strong>da</strong> lembrança<br />
Meu coração não se cansa<br />
De sempre e sempre te amar.<br />
parceiros, destacando-se Alberto Ribeiro, mas sem<br />
esquecer Alcir Pires Vermelho, Noel Rosa, Antonio Almei<strong>da</strong>,<br />
José Maria de Abreu, Norival Reis, Braguinha<br />
inundou o país com músicas que até hoje estão na<br />
memória e na emoção de grande parte de brasileiros<br />
de várias gerações. Criou cantigas de ro<strong>da</strong>, histórias<br />
infantis, letras para músicas de filmes de Walt Disney,<br />
fundou e dirigiu gravadoras (Continental e To<strong>da</strong>mérica)<br />
e sempre se fez presente no carnaval. São quase<br />
mil títulos em todos os gêneros.<br />
Sempre alegre, de bem com a vi<strong>da</strong>, sorriso<br />
permanente nos lábios, Braguinha era um encontro<br />
desejado. Carioca até a medula, dedicou <strong>à</strong> sua<br />
ci<strong>da</strong>de, nossa ci<strong>da</strong>de, algumas <strong>da</strong>s mais lin<strong>da</strong>s<br />
canções de que se tem notícia: Copacabana, Rio<br />
– o gostosão, Fim de semana em Paquetá, Convite<br />
ao Rio, e não se cansou de cantar a beleza<br />
<strong>da</strong> mulher brasileira: Lin<strong>da</strong> Morena, Lourinha, A<br />
Mulata é a tal, O que esquenta é mulher. Sua produção<br />
foi enorme e constante, mesmo quando as<br />
marchinhas carnavalescas, gênero que ele cultivou<br />
como poucos, pareciam ter morrido. Eis que ressurge<br />
nos anos 70, numa gravação de Gal Costa, a<br />
marcha Balancê, sucesso de 1937, e domina todos<br />
os bailes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, continuando a ser canta<strong>da</strong> nos<br />
salões e nas ruas.<br />
O ASSUNTO É...<br />
Um fato inesquecível, que causou indescritível<br />
emoção em todos quantos o assistiram, de longe<br />
ou de perto, foi no desfile <strong>da</strong>s escolas de samba<br />
do carnaval de 1983, inauguração do sambódromo,<br />
quando a Estação Primeira de Mangueira,<br />
sendo a última a desfilar, deu a volta na praça <strong>da</strong><br />
Apoteose e retornou no sentido contrário, para a total<br />
surpresa e imensa<br />
alegria de todo o<br />
CARINHOSO<br />
público presente. O<br />
(Pixinguinha e João de Barro - letra) enredo era Yes, nós<br />
temos Braguinha,<br />
Meu coração<br />
Não sei por que<br />
título que já havia<br />
Bate feliz, quando te vê<br />
sido usado em um<br />
E os meus olhos ficam sorrindo show de Sidney Mil-<br />
E pelas ruas vão te seguindo ler e Paulo Afonso<br />
Mas mesmo assim, foges de mim Grisolli, no Teatro<br />
Ah! Se tu soubesses<br />
Casa Grande. Em<br />
Como sou tão carinhoso<br />
ambas as ocasiões,<br />
E muito e muito que te quero Braguinha estava<br />
E como é sincero o meu amor integrado ao acon-<br />
Eu sei que tu não fugirias mais de mim tecimento,acres- Vem, vem, vem, vem<br />
centando com a sua<br />
Vem sentir o calor<br />
Dos lábios meus<br />
presença mais sen-<br />
À procura dos teus<br />
tido <strong>à</strong> homenagem.<br />
Vem matar esta paixão<br />
No dia 29<br />
Que me devora o coração<br />
de março de 2007,<br />
E só assim então<br />
Braguinha com-<br />
Serei feliz, bem feliz.<br />
pletaria cem anos.<br />
Muitos festejos<br />
estavam programados,<br />
alguns até aconteceram e, durante o<br />
carnaval, seu nome e sucessos foram evocados<br />
pelos milhares de foliões que invadiram pacificamente<br />
as ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, num banho de alegria.<br />
Aliás, parecia mesmo uma cerimônia de exorcismo,<br />
para afastar os demônios <strong>da</strong> insegurança, <strong>da</strong><br />
impuni<strong>da</strong>de, do desrespeito ao ci<strong>da</strong>dão, do descaso<br />
dos poderosos. As estatísticas apontaram que<br />
nunca tantos cariocas ficaram na ci<strong>da</strong>de durante<br />
o carnaval. Era como um desafio coletivo, imensa<br />
catarse a dizer: estamos aqui, para celebrar a vi<strong>da</strong><br />
e a beleza, nos versos e nas músicas de Braguinha<br />
ou João de Barro, se preferirem.<br />
Ao longo deste texto, alguns dos seus grandes<br />
sucessos foram lembrados; muitos outros poderiam<br />
ser citados com a mesma proprie<strong>da</strong>de. São canções<br />
que o povo canta e continuará cantando – Pirata <strong>da</strong><br />
perna de pau, Chiquita bacana, Toura<strong>da</strong>s de Madri,<br />
A sau<strong>da</strong>de mata a gente, Balancê, Turma do funil.<br />
Mas permitam-me esta observação: se Braguinha<br />
tivesse apenas feito as letras de As pastorinhas<br />
e Carinhoso, já seria um gênio <strong>da</strong> raça.<br />
HAROLDO COSTA<br />
Jornalista<br />
Membro do Conselho Estadual de Cultura/RJ<br />
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