Antropofagia à moda da casa - Conexão Professor
Antropofagia à moda da casa - Conexão Professor
Antropofagia à moda da casa - Conexão Professor
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
EDUCAÇÃO EM DIÁLOGO<br />
lavras que são o<br />
Foto: João Guilherme Cunha – Acervo Projeto Portinari<br />
procede de quem<br />
alento <strong>da</strong> presença<br />
aju<strong>da</strong> a crescer,<br />
civilizadora.<br />
de quem impul-<br />
Às margens<br />
siona o próximo<br />
dos igarapós e dos<br />
a transformar-se,<br />
igarapés, próximo <strong>à</strong><br />
a modificar-se,<br />
choupana de sapé<br />
a sofrer a meta-<br />
que é a escola, enmorfose<br />
que a<br />
quanto tremula no<br />
educação impõe.<br />
mastro a bandeira<br />
Educar, po-<br />
brasileira em franrém,<br />
não é empogalhos,<br />
ele mostra<br />
brecer quem é po-<br />
aos alunos o pribre,<br />
quem padece<br />
meiro livro que co-<br />
<strong>da</strong> penúria social,<br />
nhecem. Uma cena<br />
para oferecer-lhe<br />
que de certa feita<br />
uma educação de<br />
presenciei no Ama-<br />
segun<strong>da</strong> classe, a<br />
zonas e persegueme<br />
até hoje. Ali<br />
pretexto de fazê-<br />
Suely Avellar apresenta Portinari aos ribeirinhos. Pantanal Matogrossense lo entender o que,<br />
está ele, investido<br />
de outro modo,<br />
de autori<strong>da</strong>de quase litúrgica, a falar- lhes do que é não estaria <strong>à</strong> altura <strong>da</strong> sua compreensão.<br />
novo. A fazer-lhes ver que ca<strong>da</strong> aluno, de onde proce- Educar não é humilhar o aluno privando-o<br />
<strong>da</strong>, pertence <strong>à</strong> esfera <strong>da</strong> língua portuguesa, graças <strong>à</strong> de um sa ber que o pode elevar a um patamar supe-<br />
qual expressa sua humani<strong>da</strong>de, suas urgências oníririor. Nem lhe ofertar o ensino idêntico ao que tem<br />
cas, a geografia tridimensional de sua terra que, por ele em <strong>casa</strong>, no seu cotidiano espezinhado.<br />
si, é um projeto imaginativo.<br />
Educar não lhe é <strong>da</strong>r a metade de uma língua<br />
Ao atraí-los para o centro <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong>de cultu- que con sagra os erros trazidos de <strong>casa</strong>, a caricatura<br />
ral, o pro fessor demonstra-lhes que são um a mais do que ele representa, e fazer dele um experimen-<br />
na extensa ca deia de pequenos heróis. Enquanto to pe<strong>da</strong>gógico que ignora a redenção civilizadora.<br />
assegura-lhes que o prazer, originário do conheci- Não é privá-lo de um co nhecimento que o leve um<br />
mento, <strong>da</strong> sabedoria, corresponde ao gozo <strong>da</strong> carne, dia a igualar-se ao saber de quem pode mais que<br />
<strong>à</strong> alegria do amor, ao misteri oso sentimento que ele, teve mais chances que ele, ouviu melhor que<br />
invade a todos quando a inteligência, uma vez ma- ele, leu melhor que ele.<br />
nifesta, ilumina a floresta.<br />
Educar é também desconsiderar os obstácu-<br />
Aristóteles, no livro Política, dizia que para los <strong>da</strong> mi séria e do obscurantismo, e fazer a crian-<br />
governar é preciso haver sido antes um governado. ça sonhar, o ado lescente derrubar os entraves cul-<br />
Parafraseando o filósofo, para ser um professor há turais, para que pleiteiem um mundo <strong>à</strong> altura <strong>da</strong><br />
que ter sido um aluno. Uma perspectiva que, apli- sua imaginação.<br />
ca<strong>da</strong> ao mestre, jamais esgota o seu processo edu- Educar é fazer o aluno fruir dos bens do placacional.<br />
Uma vez que o saber, em uma progressão neta em to<strong>da</strong>s as suas manifestações. Para que sua<br />
insaciável, está sempre desatualizado, ignora ain- fantasia, seu verbo, sua linguagem, sejam libertárias,<br />
<strong>da</strong> o que será forçado a registrar no dia seguinte. destemi<strong>da</strong>s, sem freios. É fazer do ato de pensar um<br />
Daí ser forçoso reconhecer que o estatuto cultural feito tão natural quan to respirar. Um dom ao alcance<br />
atualiza-se mediante a absoluta rendição em face de todos, independente de sua condição.<br />
de novos saberes.<br />
Educar é defender o exercício e a prática que<br />
Mas, enquanto o professor padece de contí- transfor mam o sujeito passivo em sujeito <strong>da</strong> própria<br />
nua trans formação, é <strong>da</strong> sua liturgia apresentar- história. É <strong>da</strong>r fé a quem esteja na sala de aula de ser<br />
se diante do aluno como uma figura transcendente ele uma enti<strong>da</strong> de inviolável, uma aposta do futuro.<br />
que, mediando o saber e a ignorância, exerce seu Educar é prender o aluno <strong>à</strong> escola, empenhar<br />
ofício com inconteste autori<strong>da</strong> de. Uma autori<strong>da</strong>de todos os recursos para evitar a evasão escolar, a<br />
que dispensa a intimi<strong>da</strong>de licenciosa, o uso do tra- fuga <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. É despertar nele o desejo de vir a ser<br />
tamento desrespeitoso, a pretexto de distor cidos um projeto existencial magnífico, sem brechas,<br />
direitos democráticos.<br />
fissuras. De vir a ser no futuro um congressista,<br />
Assim, mestre é mestre, aluno é aluno. Ambos um artista, um escritor, um operário, um mestre.<br />
guar <strong>da</strong>ndo entre si a distância propícia ao afeto e ao Alguém que, ao explorar sua irrenunciável voca-<br />
respeito, que consoli<strong>da</strong> a autonomia de ca<strong>da</strong> qual, os ção para a vi<strong>da</strong>, nela inclua como meta o saber, o<br />
direitos de todos. Mesmo porque a palavra autori<strong>da</strong>de des ven<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> inteligência, o coração arden-<br />
7