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Versão eletrônica - Furb

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mantas que serviam de agasalho nas noites de inverno; cuidavam de sua prole; faziam<br />

pequenas panelas de barro e cestos de taquara para a guarda de alimentos; limpavam animais<br />

e aves e cuidavam do preparo da comida; colhiam, estocavam e maceravam o pinhão e com<br />

ele faziam um tipo de farinha; preparavam bebidas fermentadas com mel e xaxim. Durante os<br />

deslocamentos, às mulheres cabia carregar toda a tralha doméstica (SANTOS, 1997, p. 15).<br />

As crianças iam sendo socializadas na vida do grupo, num processo crescente de<br />

aprendizado que lhes deveria garantir a sobrevivência futura. O conhecimento era passado de<br />

geração a geração por meio dos ensinamentos dos mais velhos, cabendo aos mais jovens<br />

ouvir e repassar estes ensinamentos. As doenças eram raras. Com a chegada do frio e as<br />

chuvas, os Xokleng enfrentavam estas intempéries como fatos da natureza.<br />

Os Xokleng formavam um povo. Possuíam língua, cultura e território que os<br />

diferenciavam dos outros povos indígenas. A família, o nascimento das crianças, a vida em<br />

grupo, a divisão dos alimentos faziam parte do cotidiano. Os mesmos possuíam uma noção de<br />

grupo muito forte, pois identificavam a si próprios como “nós” e todos os demais estranhos,<br />

como os “outros” (SANTOS, 1997, p. 16).<br />

Como seus antepassados, os Xokleng buscam manter esta noção de grupo coeso,<br />

onde a dificuldade que passa o outro também é a sua dificuldade. Observa-se isto claramente<br />

na fala de um dos membros da comunidade:<br />

“Eu sou índia e eu vou lutar pelo que os meus índios querem. Mesmo sendo muito<br />

jovem. Não importa minha idade, se disserem que tem índio morrendo lá distante, vou até lá<br />

e se for preciso morro junto com eles. Eu não vou deixar um índio morrer e ficar olhando,<br />

não posso fazer isso. É a mesma coisa se estão matando um irmão meu. É assim que o índio<br />

pensa” (W.K.P.A., 19 anos).<br />

A partir da fala desta jovem índia, percebe-se que dentro da comunidade, cada<br />

pessoa é vista como parte do outro. Conforme fala de Todorov (1999), o mesmo ressalta que<br />

a descoberta que o “eu” faz do outro é um assunto profundo. Podem-se descobrir os outros<br />

em si mesmo e perceber que não se é uma substância homogênea e, radicalmente, diferente de<br />

tudo o que não é si mesmo; o eu é um outro. Mas cada um dos outros é um eu também,<br />

sujeito como eu. Nisto reflete que o que nos torna diferentes, é somente meu ponto de vista,<br />

segundo o qual todos estão lá e eu estou só aqui, podendo realmente separá-los e distingui-los<br />

de mim.

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