Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - Uem
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2.1 A RELAÇÃO TEXTO E IMAGEM: ESTUDOS TEMÁTICOS E ESTRUTURAIS<br />
Aguiar e Silva (1990), <strong>em</strong> seu livro Teoria e Metodologia Literárias, ao discutir a<br />
relação da literatura com a pintura, traça um percurso histórico, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antiguida<strong>de</strong> até o<br />
movimento da poesia concreta, para expor como se evi<strong>de</strong>nciam o que chama <strong>de</strong> “inter-<br />
relações”. Consi<strong>de</strong>ra, assim, que os estudos das relações entre texto e imag<strong>em</strong> têm orig<strong>em</strong><br />
r<strong>em</strong>ota e já eram motivos <strong>de</strong> especulações há muito t<strong>em</strong>po, como <strong>de</strong>monstra o dito<br />
aforismático <strong>de</strong> Simóni<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Céos (recolhido por Plutarco 1 ), poeta que viveu entre os séculos<br />
VI e V a. C, <strong>em</strong> que a “pintura é poesia muda e a poesia é pintura falante”. (AGUIAR e<br />
SILVA, 1990, p. 163). O autor sublinha ainda a contribuição <strong>de</strong> Plutarco, para qu<strong>em</strong> “a arte<br />
da poesia é uma arte imitativa e que é uma faculda<strong>de</strong> análoga à pintura, tornando-se assim<br />
claro que a analogia entre as duas artes se funda na imitação (mimẽsis) da realida<strong>de</strong>”. Nessa<br />
perspectiva, a pintura é consi<strong>de</strong>rada como uma “expressão artística paradigmática”, pois<br />
realizaria, melhor do que qualquer arte, a relação mimética com o real.<br />
Platão, Aristóteles e Horácio, segundo Aguiar e Silva (1990, p. 163), têm também<br />
gran<strong>de</strong> importância para o <strong>de</strong>senvolvimento das teorias acerca das “inter-relações” entre texto<br />
e imag<strong>em</strong>. Para Platão, <strong>em</strong> a República, a relação entre poesia e pintura evi<strong>de</strong>ncia-se na<br />
comparação entre poeta e pintor, ao acusar ambos <strong>de</strong> não se preocupar<strong>em</strong> com a verda<strong>de</strong>. Em<br />
a Poética, Aristóteles discute as afinida<strong>de</strong>s existentes entre as duas artes no que se refer<strong>em</strong> à<br />
imitação, <strong>de</strong>stacando os meios utilizados pela pintura, cores e formas, e pela poesia,<br />
linguag<strong>em</strong>, ritmo e harmonia. Por sua vez, o paralelo mais famoso e influente teria sido<br />
formulado por Horácio, <strong>em</strong> Epistola ad Pisones (vv. 361-364):<br />
Ut pictura poesis; erit quae, si propius stes,<br />
te capiat magis, et quaedam, si longius abstes;<br />
haec amat obscurum, nolet haec sub luce ni<strong>de</strong>ri,<br />
indicis argutum quae non formidat acumen 2 .<br />
(HORÁCIO apud AGUIAR e SILVA 1990, p. 164).<br />
A fórmula ut pictura poesis, para Aguiar e Silva (1990, p. 164), não estabelece uma<br />
comparação estrutural entre as duas artes; limita-se apenas a significar que alguns po<strong>em</strong>as são<br />
lidos com agrado uma só vez e que outros po<strong>de</strong>m ser lidos com agrado muitas vezes, como<br />
1 Filósofo e biógrafo grego que teria nascido <strong>em</strong> 45-46 e morrido <strong>em</strong> 119-120.<br />
2 “Como a pintura é a poesia: coisas há que <strong>de</strong> perto mais te agradam e outras, se a distância estiveres. Esta quer<br />
ser vista na obscurida<strong>de</strong> e aquela à viva luz, por não recear o olhar penetrante dos seus críticos; esta, só uma vez<br />
agradou, aquela, <strong>de</strong>z vezes vista, s<strong>em</strong>pre agradará”. (Tradução <strong>de</strong> R.M. Rosado Fernan<strong>de</strong>s, na sua edição<br />
bilíngue <strong>de</strong> Horácio, Poética, Lisboa, s.d., p. 109-110 apud AGUIAR e SILVA 1990, p. 164).<br />
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