Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - Uem

soberanos referidos. Esses trovadores constituiriam a “geração do meio”, são alguns
participantes desta fase: Pai Gomes Charinho, almirante de Afonso X e de Sancho IV (1284-
1295), Martim Soares, Joam Airas, Pêro da Ponte, o próprio rei D. Afonso X, o italiano
Bonifácio Calvo, os portugueses que se exilaram na corte de Afonso X por causa da luta entre
os irmãos D. Sancho II de Portugal (1223-1245), ao qual eram fiéis e D. Afonso III (1245-
1279): Airas Peres Vuitorom, Diego Pezelho, Vasco Gil, Gil Peres Conde e talvez Afonso
Mendes de Besteiros. Eram ainda da corte portuguesa de Afonso III: Mem Rodrigues de
Briteiros, Fernam Fernandes Cogominho, Joam Lobeira, Fernam Garcia Esgaravunha, Joam
Peres d’Avoim, Joam Soares Coelho. Os três últimos teriam visitado também a corte
castelhana de Afonso X, participando de disputas poéticas com trovadores e jograis
pertencentes àquela corte. (VIEIRA, 1992, p. 29).
O caráter dirigido da poesia praticada pelos trovadores da “geração do meio” chama a
atenção de Vieira (1992, p. 29). Em sua maioria, tratam-se de cantigas na forma de tenção 19 ,
feitas muitas vezes em parceria, cujos interlocutores constituem um pequeno grupo. Era
comum também uma cantiga provocar a resposta de um ou mais poetas e tomarem o aspecto
de apartes em um debate, passando a constituir um ciclo. As cantigas de escárnio e maldizer
bastante favorecidas pelo grupo, por exemplo, ao fazerem referências a outros poetas,
permitem localizar um trovador dentro dos grupos ativos nas cortes.
Tavani (2002, p. 352) considera que a geração intermediária contribui, mais e melhor
do que as outras, para o desenvolvimento e a consolidação de uma tradição lírica de vastas
proporções e de requintada qualidade técnica: “[...] A lírica galego-portuguesa recebe destes
poetas também um alargamento dos horizontes temáticos e técnicos, desconhecido da geração
precedente que, pelo contrário, parecia, sobretudo, interessada em aperfeiçoar os ‘modelos’
específicos do seu ‘saber’ poético”. (TAVANI, 2002, p. 352).
Nesse momento histórico, desenvolve-se um ambiente cultural cheio de efervescência,
aberto à circulação das ideias e das técnicas entre Castela, Portugal e Galiza, como também às
inovações que vinham de além Pireneus. A corte de Afonso X é, por exemplo, um ambiente
frequentado por trovadores e jograis provençais que ininterruptamente o escolhem como meta
de suas viagens e onde geralmente são acolhidos com hospitalidade e generosidade pelo Rei
Sábio, quando as condições políticas lhe permitiam. Entretanto, como destaca Vieira (1992, p.
30), mediante esse período de intensa atividade poética, sobrevém, após a morte do rei
trovador, um período de declínio na corte castelhana, com a subida ao trono de D. Sancho IV.
19 Espécie de desafio ou debate poético.
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