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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - Uem

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Diante das súplicas da monja, Santa Maria aparece para lhe conce<strong>de</strong>r um milagre.<br />

Assim, diz ao anjo que a acompanha: “‘Tira-ll' aquel fill' agynna / do corp' e criar-llo manda |<br />

<strong>de</strong> pan, mais non <strong>de</strong> borõa.’”. (AFONSO X, 1959, p. 158). Na vinheta 8, ilustração da cena,<br />

figuram a monja adormecida e <strong>de</strong>itada no chão, um anjo com a criança nos braços e Santa<br />

Maria lhe or<strong>de</strong>nando que o leve dali. A estátua da Virg<strong>em</strong>, no altar, é representada amamenta<br />

o filho, mas agora t<strong>em</strong> o lírio nas mãos, símbolo <strong>de</strong> sua pureza. Esses el<strong>em</strong>entos que<br />

compõ<strong>em</strong> o mito mariano indicam a complexida<strong>de</strong> do arquétipo ao reunir maternida<strong>de</strong> e<br />

virginda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>monstrando que somente a Maria é possível a imaculada conceição. A monja,<br />

uma vez que gerou o filho, fruto da carne, é pecadora. Segundo Dalarun (1991, p. 42), a<br />

concepção <strong>de</strong> virginda<strong>de</strong> mariana, não faz <strong>de</strong> Maria um mo<strong>de</strong>lo próximo das mulheres, mas a<br />

projeta <strong>em</strong> um céu inacessível, por meio <strong>de</strong> uma “maternida<strong>de</strong> virginal” impossível as <strong>de</strong>mais.<br />

Na sequência da narrativa verbal, <strong>de</strong>pois do milagre realizado, foi-se Santa Maria e “a<br />

monja ficou sãa”. A expressão utilizada no texto, “sãa”, revela a concepção que se tinha das<br />

religiosas que engravidavam, como se estivess<strong>em</strong> doentes e precisass<strong>em</strong> ser curadas.<br />

Contudo, a monja havia gerado uma criança, o instinto maternal havia aflorado, por isso busca<br />

pelo filho que havia sido levado pela santa, mas a procura é vã: “e por el foi mas coitada | que<br />

por seu fill' é leõa”. (AFONSO X, 1959, p. 159). A mãe não viu o filho, conforme a narrativa<br />

poética, por um longo t<strong>em</strong>po, até que já era uma anciã. Num dia, <strong>em</strong> que as monjas rezavam<br />

no coro da igreja, entra um moço, muito formoso correndo, e elas pensaram ser filho <strong>de</strong><br />

fidalgos: “viron entrar y un moço | mui fr<strong>em</strong>osỹo correndo, / e cuidaron que fill' era | d'<br />

infançon e d' infançõa.”. (AFONSO X, 1959, p. 159).<br />

Na vinheta 9, que ilustra a cena, estão as monjas disposta <strong>em</strong> um coro, com livros <strong>de</strong><br />

orações, enquanto entra o menino, acompanhado por um anjo, uma alusão ao fato <strong>de</strong> ter sido<br />

criado por Santa Maria. O jov<strong>em</strong> entra cantando, “<strong>em</strong> mui bõa voz e crara”, “Salve Rainha”, e<br />

olha <strong>em</strong> direção às religiosas, que se entreolham. Há também um altar, mas s<strong>em</strong> a imag<strong>em</strong> da<br />

santa. O menino está com vestes suntuosas, o que explica as monjas ter<strong>em</strong> pensado que era<br />

filho <strong>de</strong> fidalgos. O gesto do anjo, com a mão posada sobre o ombro do menino, indica a<br />

intervenção divina, <strong>de</strong> Santa Maria, junto ao filho da monja que agora lhe pertencia.<br />

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