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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - Uem

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movimentos literários: o do norte, épico, guerreiro, fazendo da luta o t<strong>em</strong>a capital, e do sul,<br />

sentimental, cortês, elegante, refinado, transformando a mulher no santuário <strong>de</strong> inspiração.<br />

O fato dos trovadores en<strong>de</strong>reçar<strong>em</strong> os po<strong>em</strong>as às mulheres casadas é também um<br />

aspecto singular da literatura provençal. Segundo Lapa (1973, p. 12-13), a explicação para<br />

isso é que a menina solteira dispunha <strong>de</strong> pouca importância social, s<strong>em</strong>pre sob o po<strong>de</strong>r<br />

paterno e inibida <strong>de</strong> influência social. Como a canção <strong>de</strong> amor provençal é um louvor<br />

interessado, não po<strong>de</strong>ria ser en<strong>de</strong>reçado à donzela <strong>de</strong>vido à insignificância jurídica que a<br />

impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar os presentes (as doãs), que tanto interessavam aos trovadores. Outro fator,<br />

apontado pelo autor, teria contribuído também para o caráter voluntariamente adulterino: “O<br />

verda<strong>de</strong>iro amor adquire-se pela experiência psicológica, por um cotidianismo <strong>de</strong> análise<br />

interior, por certa madureza, enfim, a certa plenitu<strong>de</strong> física e moral, que a donzela ainda não<br />

atingira”. (LAPA, 1973, p. 12-13). Os trovadores teriam ido ainda mais longe, ao<br />

<strong>de</strong>nunciar<strong>em</strong> nas canções a incompatibilida<strong>de</strong> entre o amor e o casamento.<br />

Aparent<strong>em</strong>ente imoral, a negação do casamento explica-se justamente<br />

porque o amor conjugal se apresenta ao espírito do trovador como um<br />

negócio; e nas relações entre mulher e marido, necessariamente materiais e<br />

terrenas, havia o que quer fosse <strong>de</strong> profanação, que chocava com o conceito<br />

do amor cortês, tendido s<strong>em</strong>pre para o infinito e plenitu<strong>de</strong>. Esse amor, s<strong>em</strong><br />

liberda<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong>ria ser nunca uma fonte <strong>de</strong> perfeição moral. Daí, o seu<br />

repúdio. (LAPA, p. 1973, p. 14).<br />

A concepção na qual a mulher é livre para dar o seu amor a qu<strong>em</strong> quisesse é, como<br />

expõe Lapa (1973, p. 14), audaciosa, acusando uma tendência revolucionária que vai <strong>de</strong><br />

encontro com a doutrina oficial da Igreja. Mesmo que, na maioria das vezes, não tenha<br />

consequências pelo caráter <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong> e a complacência dos maridos, <strong>em</strong> alguns casos<br />

resulta <strong>em</strong> <strong>em</strong>baraços aos ousados trovadores. Entretanto, o fato é amenizado pelo caráter<br />

fingido do amor (<strong>de</strong>nominado amour <strong>de</strong> tête pelos franceses), constituindo-se mais um<br />

produto da inteligência e da imaginação do que propriamente da sensibilida<strong>de</strong>. Apesar disso, é<br />

capaz <strong>de</strong> exprimir o sofrimento e o tormento do verda<strong>de</strong>iro amor, mesmo sendo uma produção<br />

da mente. (LAPA, 1973, p. 14).<br />

A poesia lírica latina traz também influência na formação doutrinal do amor<br />

trovadoresco, como <strong>de</strong>staca Lapa (1973, p. 20), <strong>de</strong>u-lhe principalmente “[...] aquilo <strong>em</strong> que os<br />

romanos foram mestres: um formulário a<strong>de</strong>quado às circunstâncias, um esqueleto <strong>de</strong><br />

retoricismo, um feixe <strong>de</strong> observações positivas sobre a natureza e os efeitos do amor”. É o<br />

espírito clássico latino, pagão e sensual que o crítico vê, sobretudo, na poesia dos primeiros<br />

trovadores. Contudo, esse mesmo espírito clássico não traduz a doutrina do amor cortês que<br />

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