Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - Uem
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mesma miniatura. Nas cenas <strong>de</strong> interior, as personagens atuam <strong>em</strong> baixo <strong>de</strong> arcos planos,<br />
<strong>de</strong>stacando-se claramente do fundo. Com frequência, os arcos dão <strong>em</strong> coberturas que estão<br />
colocados <strong>em</strong> disposição oblíqua ou com efeitos <strong>de</strong> sombreado ten<strong>de</strong>ntes a expressar a<br />
profundida<strong>de</strong>. Não existe a perspectiva <strong>de</strong>stinada a converter a superfície pintada <strong>em</strong> uma<br />
versão s<strong>em</strong>elhante a uma janela, com as linhas convergindo <strong>em</strong> um só ponto. Contudo,<br />
tampouco se dá a absoluta anulação espacial própria da miniatura francesa do século XIII.<br />
Essa dupla concepção quanto ao espaço predominante na miniatura afonsina<br />
ex<strong>em</strong>plifica uma etapa intermediária <strong>em</strong> que subsist<strong>em</strong> alguns el<strong>em</strong>entos da disposição <strong>em</strong><br />
perspectiva que não encerra uma apresentação unitária do espaço.<br />
Esta etapa intermedia ha sido consi<strong>de</strong>rada por Panofsky como un fenómeno<br />
típico <strong>de</strong> la pintura italiana anterior a la gran renovación aportada en el<br />
Trecento por Duccio y Giotto. Según Panofsky, la pintura bizantina habría<br />
conservado estos planteamientos espaciales consistentes en fragmentos<br />
dispersos en disposición perspectiva, pero la gran renovación <strong>de</strong> los pintores<br />
<strong>de</strong>l Trecento sólo seria posible tras el total arrasamiento <strong>de</strong>l espacio, la total<br />
planitud en las escenas <strong>de</strong> interiores lograda por la miniatura parisina <strong>de</strong>l<br />
siglo XIII 55 . (DOMÍNGUES; GAJARDO, 2007, p. 180).<br />
É provável que, por isso, Aita 56 (1919 apud DOMÍNGUEZ; GAJARDO, 2007, 182)<br />
aponte s<strong>em</strong>elhanças entre as miniaturas do Códice Florentino com os manuscritos produzidos<br />
no sul da Itália, durante a mesma época. Contudo, na apreciação <strong>de</strong> Domínguez e Gajardo<br />
(2007, p. 182), a amplitu<strong>de</strong> da produção afonsina é maior que a napolitana e exist<strong>em</strong><br />
importantes diferenças entre ambas. Muitas das s<strong>em</strong>elhanças po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>rivar <strong>de</strong> um foco<br />
comum, os manuscritos bizantinos ou árabes, que chegaram as duas cortes mediante relações<br />
culturais anteriores. De qualquer forma, a questão não está <strong>de</strong>finida, ainda é necessário<br />
aprofundar os estudos dos valores da produção afonsina que constitui uma das mais<br />
importantes <strong>em</strong>presas da miniatura medieval gótica.<br />
As Cantigas <strong>de</strong> Santa Maria são consi<strong>de</strong>radas uma das obras afonsinas mais<br />
<strong>completa</strong>s <strong>em</strong> seu formato e <strong>de</strong>senho artístico; além disso, são mo<strong>de</strong>los comuns da oficina<br />
régia, excepcionais pela riqueza e complexida<strong>de</strong>, ao unir po<strong>em</strong>a, ilustração e partitura<br />
musical. Segundo Domínguez e Gajardo (2007, p. 48), nos códices marianos busca-se a<br />
concepção <strong>de</strong> livro como conjunto, como objeto artístico total, <strong>de</strong>stinado a ser exibido aberto,<br />
55 Esta etapa intermediária t<strong>em</strong> sido consi<strong>de</strong>rada por Panofsky como um fenômeno típico da pintura italiana<br />
anterior a gran<strong>de</strong> renovação contribuída por Duccio e Giotto no Trecento. Segundo Panofsky, a pintura bizantina<br />
havia conservado estas disposições espaciais consistentes <strong>em</strong> fragmentos dispersos <strong>em</strong> disposição perspectiva,<br />
mas a gran<strong>de</strong> renovação dos pintores do Trecento somente seria possível <strong>de</strong>pois do total nivelamento do espaço,<br />
a total planitu<strong>de</strong> nas cenas <strong>de</strong> interiores conseguida pela miniatura parisina do século XIII. [tradução livre].<br />
56 Obra citada: AITA, N., Miniature spagnoule in un códice fiorentino. Rasegna d’Arte, XIX (1919), p. 149-155.<br />
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