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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - Uem

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conversão dos pagãos. A carta a Serenus <strong>de</strong>ve ser tomada por aquilo que é: “não um tratado<br />

sist<strong>em</strong>ático e geral, mas uma resposta, visando <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as imagens <strong>em</strong> um contexto hostil”<br />

(BASCHET, 1996, p. 9). Este fato conduz o Papa a legitimar as imagens aproximando-as da<br />

fonte <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> reconhecida por todos: as Escrituras e os textos santos. Por outro lado, ao<br />

insistir na função <strong>de</strong> instrução, ele abre caminho para a afirmação <strong>de</strong> duas outras funções das<br />

imagens: “apren<strong>de</strong>r não é apenas <strong>de</strong>scobrir, mas também recordar, <strong>de</strong> forma que a imag<strong>em</strong><br />

t<strong>em</strong> o papel <strong>de</strong> alimentar o pensamento das coisas santas; além disso, ela po<strong>de</strong> comover o<br />

espírito, suscitar um sentimento <strong>de</strong> compunção que permite o elevar-se para a adoração <strong>de</strong><br />

Deus”. (BASCHET, 1996, p. 8).<br />

As atitu<strong>de</strong>s <strong>em</strong> relação à imag<strong>em</strong> são <strong>de</strong>finidas sob o controle das Escrituras. Contudo,<br />

essa pedagogia da história pintada não se fecha sobre si mesma, na medida <strong>em</strong> que leva à<br />

adoração <strong>de</strong> Deus. De acordo com Schmitt (2007, p. 97), ao olhar<strong>em</strong> as imagens, os iletrados<br />

apren<strong>de</strong>m a adorar somente a Deus, pois, como discorre Gregório Magno, uma coisa é adorar<br />

a pintura, outra é apren<strong>de</strong>r, graças à história que está pintada, o que é preciso adorar.<br />

O que é visto na cena religiosa representada na pintura convida à adoração<br />

<strong>de</strong> Deus, a imag<strong>em</strong> material não é investida <strong>de</strong> nenhum po<strong>de</strong>r sagrado e se<br />

ela po<strong>de</strong> ser, na ausência da escrita, a ocasião do transitus, jamais po<strong>de</strong>ria<br />

ser o lugar. O que é visto na imag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve, enfim, suscitar um sentimento <strong>de</strong><br />

“compunção” que sustente a adoração da Trinda<strong>de</strong> e inspire os gestos da<br />

prece cristã. (SCHMITT, 2007, p. 97).<br />

A compunção <strong>de</strong>signa o sentimento <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong> dolorosa da alma que se <strong>de</strong>scobre<br />

pecadora, expressando uma atitu<strong>de</strong> mais afetiva <strong>em</strong> relação à imag<strong>em</strong>. Para Schmitt (2007, p.<br />

98), <strong>em</strong> relação à imag<strong>em</strong>, a compunção expressa uma atitu<strong>de</strong> mais afetiva que iria<br />

<strong>de</strong>senvolver-se progressivamente nos séculos posteriores. O termo funcionou como um<br />

alicerce, permitindo a legitimação das novas atitu<strong>de</strong>s para com as imagens religiosas.<br />

Schmitt (2007, p. 98) consi<strong>de</strong>ra ainda duas outras cartas importantes para compor o<br />

“dossiê” gregoriano sobre as imagens. Na Carta a Januarius, Bispo <strong>de</strong> Cagliari (julho <strong>de</strong><br />

599), o Papa or<strong>de</strong>na que o Bispo restitua a uma comunida<strong>de</strong> judaica da Sar<strong>de</strong>nha uma<br />

sinagoga transformada <strong>em</strong> igreja. Antes disso, era preciso retirar do edifício os objetos <strong>de</strong><br />

culto cristão, <strong>em</strong> particular a venerável cruz e uma imag<strong>em</strong> da Mãe <strong>de</strong> Deus. Ao lado da<br />

Carta a Serenus, que fala das funções da imag<strong>em</strong>, a Carta a Januarius apresenta o interesse<br />

<strong>de</strong> informar sobre as práticas que acentuam o valor das imagens.<br />

A outra é a carta redigida ao er<strong>em</strong>ita Secundinus, também <strong>de</strong> 599. Apesar <strong>de</strong> não tratar<br />

das imagens, no século VIII, foi enriquecida por uma interpolação que toda a tradição<br />

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