Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - Uem

diferente organização social e política, não conseguiram obter o mesmo acolhimento e não
puderam exercer a pressão catequizante sobre um público diretamente acessível.
[...] Com efeito, a diferença de estruturas socioeconômicas e de
superestrutura ideológicas, políticas e culturais por um lado e, por outro, as
diversidades lingüísticas impõem a estas áreas periféricas uma dupla
“tradução”, uma adaptação ainda mais radical do formulário e da ideologia
corteses. Assim, e noutros termos, a nova concepção da poesia sofre a ação
modificadora de duas forças conjuntas: ou seja, não só tem de se subordinar
às estruturas de uma língua diferente como tem de se adaptar também a uma
organização diferente da sociedade e da cultura. (TAVANI, 2002, p. 31).
Essas áreas extremas, segundo Tavani (2002, p. 31-32), são a siciliana, cuja influência
dos trovadores provém da área alto-italiana, e a galego-portuguesa, que recebe as inovações
trovadorescas, primeiro de Barcelona, passagem quase obrigatória para todas as correntes
culturais de procedência occitana, e, sobretudo, por Toledo que, durante quase todo o século
XIII e até a morte de Afonso X, foi o centro mais ativo de recolha, adaptação e distribuição,
no Ocidente peninsular, dos principais elementos ideológicos e formais da poesia cortês.
Nesse centro é encontrado ainda o grupo mais importante de poetas galego-portugueses, para
o qual a corte de Toledo constitui o principal ponto de encontro com a cultura provençal. A
importância que a corte castelhana assume na história da poesia peninsular é fruto da presença
sempre renovada de trovadores provençais e pela constante pressão exercida por um sistema
sociocultural fechado em si mesmo, além do posicionamento como centro essencial de
elaboração poética. (TAVANI, 2002, p. 32).
A produção dos poetas líricos do sul da França entra em declínio, como afirma Spina
(1996, p. 26), no século XIII, quando, em 1209, desencadeia-se contra a heresia albigense das
cidades meridionais a cruzada de Inocêncio III, comandada por Simon de Monfort. A
produção trovadoresca transforma-se numa poesia dirigida. A Igreja impõe o culto de Maria
como tema oficial aos novos trovadores pela ação dos dominicanos: “A derivação do culto da
Mulher para o lirismo contemplativo da Virgem encontraria condições favoráveis, pois o
serviço cavaleiresco, humilde e genuflexo, prestado pelo vassalo à sua dama, tinha o seu
correspondente religioso no culto dos fiéis à Virgem Santíssima”. (SPINA, 1996, p. 26).
Assim, o Languedócio vê, aos poucos, apagar-se o clarão do seu “doce paganismo poético”,
perdendo com ele a independência política, pois vinte anos depois o sul seria anexado à
França do Norte, que, vitoriosa, consegue, sob o reinado de Luís VIII, estabelecer a unidade
nacional. Entretanto, a poesia lírica dos trovadores provençais não morreria, haviam sido
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