Untitled - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG
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a- a própria i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> precisão<br />
e b. linguagem transparente 197<br />
“Tautologia” 198 , em certo sentido; po<strong>de</strong>-se “girar em torno” <strong>da</strong>s palavras como elas<br />
giram em torno <strong>de</strong> si mesmas nos trocadilhos e jogos <strong>de</strong> palavras <strong>de</strong> todos os tipos — po<strong>de</strong>-<br />
se dizer que elas giram ou fazem girar o sentido à vi<strong>de</strong> (<strong>de</strong>sengrena<strong>da</strong>s). Mas, em outro<br />
sentido, no simples uso que fazemos <strong>da</strong>s palavras, e <strong>da</strong> linguagem como “instrumento <strong>de</strong><br />
precisão”, num jogo <strong>de</strong> triangulação (1° se consi<strong>de</strong>ramos isso 2° mas também aquilo:<br />
teremos talvez 3…), po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>terminar e direcionar essas palavras a ponto <strong>de</strong> focalizar,<br />
“tocar”, pelo menos pela vista, o que elas preten<strong>de</strong>m <strong>de</strong>signar. Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ssa maneira, com<br />
um mínimo <strong>de</strong> palavras, focar uma estrela localiza<strong>da</strong> a anos-luz do olho e justificar nesse<br />
apontamento o seu sentido. Também, por exemplo, se dissermos a palavra “rua”, po<strong>de</strong>mos<br />
entendê-la como algo arbitrário, in<strong>de</strong>finido, que remete a um espaço que começa e termina<br />
não se sabe on<strong>de</strong>, que não tem talvez outra reali<strong>da</strong><strong>de</strong> senão o som pronunciado, que po<strong>de</strong>mos<br />
confundir com rut (cio), o que remete a outro imaginário, outras sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e assim por<br />
diante. Mas se acrescentarmos a ela um segundo termo, um nome próprio por exemplo, “rue<br />
Larrey”, a palavra rue [rua] não é mais um ponto ou uma ilha perdidos no espaço infinito <strong>da</strong><br />
linguagem. Digitar letras e palavras num “motor <strong>de</strong> pesquisa” — Duchamp teria gostado<br />
<strong>de</strong>ssa associação <strong>de</strong> palavras — na Internet, hoje, mostra até que ponto esse jogo <strong>de</strong><br />
triangulação consegue apontar e atingir com uma certa eficácia, numa veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> recor<strong>de</strong>, o<br />
ponto procurado.<br />
O dispositivo estereoscópico que começa a surgir com ca<strong>da</strong> vez mais interesse em<br />
Duchamp (o vermelho e o ver<strong>de</strong>, Pharmacie, Stéréoscopie à la main, certamente) mostra<br />
isso: é preciso focalizar para ver melhor, fazer convergir e entrecruzar dois eixos, confundir<br />
duas perspectivas. Se quisermos ver algum relevo, é preciso que isso coinci<strong>da</strong> exatamente.<br />
Falávamos <strong>de</strong> triangulação: um ponto observado, dois pontos <strong>de</strong> observação, o que resulta na<br />
enunciação <strong>de</strong> um triângulo. Triângulo que po<strong>de</strong> reproduzir-se invertido do outro lado do<br />
ponto observado — o esquema <strong>da</strong>s tesouras <strong>de</strong>veria nos permitir enten<strong>de</strong>r tal inversão<br />
espelha<strong>da</strong> — e <strong>da</strong>r, assim como nas especulações perspectivistas, uma vez esses triângulos<br />
representados em relevo, duas pirâmi<strong>de</strong>s inverti<strong>da</strong>s como as <strong>de</strong> Stéréoscopie à la main.<br />
197 DUCHAMP. Notes, p. 50. “Difficile <strong>de</strong> : /présenter un Repos en termes ni techniques ni poétiques […]/1 -<br />
[…] /2 – Idée prédominante et langage seulement comme son instrument (<strong>de</strong> précision) /a – idée elle même <strong>de</strong><br />
précision/ et b. langage transparent”.<br />
198 CABANNE. Marcel Duchamp: Engenheiro do tempo perdido, p. 180.<br />
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