Untitled - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG
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torno <strong>da</strong>s noções <strong>de</strong> gonzo, como Octavio Paz no ensaio escrito pouco tempo <strong>de</strong>pois <strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>scoberta pelo público <strong>de</strong> Étant donnés…, 7 no museu <strong>da</strong> Filadélfia. Jean-François Lyotard,<br />
ao fazer o “inventário” <strong>de</strong>sse último nu (<strong>de</strong> Étant donnés…) no Abécé<strong>da</strong>ire do catálogo <strong>da</strong><br />
exposição Duchamp <strong>de</strong> 1977, no Beaubourg, tinha articulado em torno <strong>da</strong> noção <strong>de</strong><br />
dobradiça inúmeras oposições, vários paradoxos, propondo enfrentar o humor duchampiano<br />
com um jogo <strong>de</strong> “contra-armadilha”. 8 Jean Clair, no mesmo catálogo, olhando <strong>de</strong> mais perto<br />
o vínculo <strong>da</strong>s pesquisas <strong>de</strong> Duchamp sobre a perspectiva por volta dos anos 1910 – aliás, na<br />
contra-mão <strong>da</strong>s preocupações vanguardistas do momento –, tentou mostrar como o espaço<br />
perspectivo podia ser revertido. Pouco tempo <strong>de</strong>pois, ain<strong>da</strong> durante essa febre editorial<br />
evoca<strong>da</strong> por <strong>de</strong> Duve, Clair precisava, no seu ensaio sobre Duchamp e a fotografia, 9 o<br />
interesse <strong>da</strong> topologia mo<strong>de</strong>rna pelos volumes paradoxais, tal a fita <strong>de</strong> Möbius ou a garrafa<br />
<strong>de</strong> Klein, <strong>de</strong>finidos também por sua reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> geométrica, sendo mo<strong>de</strong>lizacões<br />
inteligíveis <strong>da</strong> passagem <strong>de</strong> uma dimensão à outra. Jean Clair, John Dee, no colóquio<br />
Duchamp <strong>de</strong> Cerisy-la-Salle (no ano <strong>da</strong> exposição <strong>de</strong> Beaubourg, e sob a direção <strong>de</strong> Jean<br />
Clair), mas também Bernard Marcadé <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois, fizeram uma leitura <strong>de</strong> Duchamp e <strong>da</strong><br />
vanguar<strong>da</strong>, principalmente parisiense, sobre as teorias do hyperespaço, cujo conceito mais<br />
pregnante era certamente o <strong>da</strong> quarta dimensão.<br />
Os hermeneutas duchampianos pareciam mais atentos a essa quarta dimensão, que<br />
preocupou tanto os meios científicos quanto os jovens pintores vanguardistas, sensíveis às<br />
teorias geométricas complexas liga<strong>da</strong>s ao plano <strong>da</strong> tela, a antiga pariete di vetro<br />
bidimensional. Por prova o ensaio <strong>de</strong> Jean Clair, ain<strong>da</strong> nesses anos <strong>de</strong> febre duchampiana,<br />
focando sua atenção no romance <strong>de</strong> antecipação do esquecido Gaston <strong>de</strong> Pawlowski, Voyage<br />
au Pays <strong>de</strong> la Quatrième Dimension (Viagem ao País <strong>da</strong> Quarta Dimensão), publicado<br />
inicialmente em revista, narrativa com um toque <strong>de</strong> humor atraente frente a tantos cálculos e<br />
especulações. Henri Poincaré, <strong>de</strong> quem Marcel Duchamp leu La Science et l’Hypothèse<br />
(1902), 10 tinha prevenido o público interessado sobre a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>: “Alguém que <strong>de</strong>dicasse a<br />
sua existência a isso po<strong>de</strong>ria conseguir representar-se a quarta dimensão”. Os jogadores <strong>de</strong><br />
7<br />
PAZ. “*WATER WRITES ALWAYS IN * PLURAL”. In: Marcel Duchamp: l’apparence mise à nu…<br />
(tradução francesa <strong>da</strong> última edição do ensaio <strong>de</strong> Octavio Paz: “Apariencia <strong>de</strong>snu<strong>da</strong>, la obra <strong>de</strong> Marcel<br />
Duchamp”, 1976).<br />
8<br />
LYOTARD. E. Étant donnés. Inventaire du <strong>de</strong>rnier nu, p. 91.<br />
9<br />
CLAIR. Duchamp et la photographie, p. 102.<br />
10<br />
Henri Poincaré comenta, no terceiro capítulo <strong>de</strong> La Science et l’Hypothèse, as geometrias não-euclidianas (as<br />
Geometrias <strong>de</strong> Lobatchevsky e <strong>de</strong> Rieman) e as geometrias ditas não-arquimedianas (a Geometria <strong>de</strong> Hilbert),<br />
que tentam pensar o espaço além <strong>da</strong>s três dimensões familiares.<br />
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