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Untitled - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG

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monocular”. 162 Jean Clair se perguntará, aliás, até que ponto Duchamp se inspirou, para a<br />

iconografia do Grand Verre, <strong>da</strong>s figuras que se encontram nos tratados <strong>de</strong> perspectiva e <strong>de</strong><br />

sua disposição. Voltaremos, no terceiro capítulo, às conclusões fecun<strong>da</strong>s às quais chega Jean<br />

Clair a respeito dos Perspectivistas, mais liga<strong>da</strong>s à linguagem do que à perspectiva<br />

propriamente dita.<br />

Vejamos com mais clareza, mas <strong>de</strong> nosso próprio ponto <strong>de</strong> vista, aquilo que Jean<br />

Clair não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> comentar sobre o Grand Verre e em torno <strong>de</strong>le. O ponto inicial po<strong>de</strong>ria<br />

ser essa nota do Grand Verre:<br />

Lupa (com um esboço)<br />

C e D tesouras que se abrem. Ao se abrirem, A e B não se veem mais através <strong>da</strong><br />

lupa — Logo... consequências ad libitum 163<br />

O esboço anuncia, sem dúvi<strong>da</strong> alguma, um outro “pequeno vidro”, concluído em<br />

Buenos Aires em 1918, intitulado “A regar<strong>de</strong>r (l’autre côté du verre) d’un œil, <strong>de</strong> près<br />

pen<strong>da</strong>nt presque une heure” (A ser visto [o outro lado do vidro] por um olho, <strong>de</strong> perto<br />

durante quase uma hora). O esboço <strong>da</strong> nota não anuncia a pirâmi<strong>de</strong> transparente que se<br />

encontra na parte superior <strong>de</strong>sse vidro, nem o obelisco que Jean Clair i<strong>de</strong>ntifica, justamente,<br />

com o apoio <strong>da</strong>s gravuras, como o estilo ou gnômon (a agulha) <strong>de</strong> um relógio <strong>de</strong> sol. Clair<br />

evi<strong>de</strong>nciará a ligação exata do dispositivo representado por Duchamp com uma obra que ele<br />

po<strong>de</strong>ria ter consultado, na ficha sobre o assunto Perspectiva, na <strong>Biblioteca</strong> Sainte-Geneviève:<br />

a Perspectiva Horaria do Padre Emmanuel Maignan, especialista <strong>da</strong>s perspectivas curiosas,<br />

publicado em 1648. 164 Clair <strong>de</strong>monstra, com base em cálculos <strong>de</strong> ângulos, que a hora em<br />

questão correspon<strong>de</strong>ria ao <strong>de</strong>slocamento do sol durante uma hora. E Clair <strong>de</strong>duz que o<br />

estranho dispositivo astronômico, uma vez recolocado nos mecanismos do Grand Verre,<br />

possibilita a circulação <strong>da</strong> energia amorosa dos celibatários...<br />

O que nos interessa mais particularmente nesse dispositivo é aquilo que Duchamp<br />

chama <strong>de</strong> Ciseaux (Tesouras). Elas aparecem assim no pequeno esboço <strong>da</strong> nota, no “pequeno<br />

vidro” que acabamos <strong>de</strong> evocar e, enfim, quase no centro do espaço celibatário do Grand<br />

Verre, no alto do eixo <strong>da</strong> Broyeuse (Moen<strong>da</strong>) já cita<strong>da</strong>, mais precisamente sob o véu, o halo<br />

<strong>da</strong> Mariée, ou ain<strong>da</strong> a Voie Lactée (Via Láctea). Jean Clair o menciona nos seguintes termos:<br />

162 CLAIR. Marcel Duchamp et la tradition <strong>de</strong>s perspecteurs, p. 146-154. Jean Clair consi<strong>de</strong>ra que o anáglifo,<br />

assim como a anamorfose, não se <strong>de</strong>ixam ver <strong>de</strong> imediato; para o primeiro, é preciso óculos, para o segundo,<br />

um certo ponto <strong>de</strong> vista.<br />

163 DUCHAMP. Notes, p. 82 (Jean Clair não cita a nota). “Loupe (avec un croquis)/ C et D ciseaux qui<br />

s’écartent. En s’écartant, A et B ne se voient plus à travers la loupe / — Donc… conséquences ad libitum”.<br />

164 CLAIR. Marcel Duchamp et la tradition <strong>de</strong>s perspecteurs, p. 140-143.<br />

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