Untitled - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG
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E, nessa discussão, Damisch se “permite uma triviali<strong>da</strong><strong>de</strong>”: “há o con-vexo e o con-<br />
cavo...”. 221 Mas como Damish diz que o sexo do nu é visto “através do buraco”, e não<br />
através <strong>de</strong> dois buracos, ele terá dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em notar, nesse caso, que a visão binocular do<br />
Regar<strong>de</strong>ur “converge” 222 em direção ao “ponto do sexo, ou plano do sexo.” 223 A pulsão<br />
escópica paira no ar... 224<br />
Ao comentar a magia do relevo no prefácio escrito para o catálogo <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong><br />
Paris em relevo, Damish falará em “fixar” (Merleau-Ponty) 225 , em penetrar na profundi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
do campo <strong>da</strong> imagem que o olhar percorre (Rosalind Krauss) 226 , mas em nenhum caso, se<br />
lemos corretamente, ele falará em retourner en doigt <strong>de</strong> gant (virar com se fosse um <strong>de</strong>do <strong>de</strong><br />
luva) 227 essa profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> campo por simples permutação dos pontos <strong>de</strong> vista. Somente<br />
Michel Butor abor<strong>da</strong>rá mais precisamente essa inversão, antes <strong>da</strong> exposição <strong>de</strong> 1977 no<br />
Beaubourg e <strong>da</strong> febre duchampiana <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>da</strong> por ela, febre <strong>da</strong> crítica que ficou<br />
<strong>de</strong>satenta à observação <strong>de</strong> Butor:<br />
Da mesma forma que o <strong>de</strong>senho sobre uma superfície, por meio <strong>da</strong> perspectiva,<br />
nos permite representar um objeto <strong>de</strong> um número <strong>de</strong> dimensões superior, a<br />
estereoscopia ver aquele objeto, manipulações estereoscópicas <strong>de</strong>veriam nos<br />
tornar capazes <strong>de</strong> imaginar dimensões negativas: é o infra-<strong>de</strong>lgado. A inversão<br />
<strong>da</strong>s vistas estereo-scópicas inverte especialmente a sensação do relevo, permitenos<br />
transformá-lo em cavo. 228<br />
221 MICHA. Étant donné Étant donnés, p. 190.<br />
222 Em francês, uma curiosa associação feminino-masculino.<br />
223 DUCHAMP. Notes, p. 79.<br />
224 Seria interessante abor<strong>da</strong>r a pulsão escópica em Duchamp do ponto <strong>de</strong> vista psicanalítico.<br />
225 DAMISCH. La Dénivelée. À l’épreuve <strong>de</strong> la photographie, p. 49. Damisch lembra que Merleau-Ponty<br />
pergunta em Phénoménologie <strong>de</strong> la perception: “Mas o que é fixar?”<br />
226 DAMISCH. La Dénivelée. À l’épreuve <strong>de</strong> la photographie, p. 51.<br />
227 ver CLAIR. Duchamp et la photographie, p. 112. e DIDI-HUBERMAN. La ressemblance par contact, p.<br />
179. Didi-Huberman parece retomar essa metáfora <strong>de</strong> Jean Clair a respeito <strong>de</strong> Étant donnés, oposta ao Grand<br />
Verre: “Tout s’est inversé comme en miroir. L’intérieur est <strong>de</strong>venu le <strong>de</strong>hors <strong>de</strong>s choses. Le convexe est<br />
<strong>de</strong>venu le concave. Un mon<strong>de</strong> en creux. Par un mouvement infra-mince, tout semble s’être ainsi<br />
imperceptiblement retourné, comme un doigt <strong>de</strong> gant.” (Tudo virou como se fosse espelhado. O interior se<br />
tornou o fora <strong>da</strong>s coisas. O convexo se tornou o côncavo. Um mundo oco. Por um movimento infra-<strong>de</strong>lgado,<br />
tudo parece ter sido imperceptivelmente virado, como um <strong>de</strong>do <strong>de</strong> luva).<br />
228 BUTOR. Reproduction interdite, p.278. O artigo será citado na bibliografia do catalogue raisonné <strong>da</strong><br />
exposição do Beaubourg. “De même que le <strong>de</strong>ssin sur une surface, par le moyen <strong>de</strong> la perspective, nous permet<br />
<strong>de</strong> nous représenter un objet d’un nombre <strong>de</strong> dimensions supérieur, la stéréoscopie <strong>de</strong> le voir, <strong>de</strong>s manipulations<br />
stéréoscopiques <strong>de</strong>vraient nous rendre capable d’imaginer <strong>de</strong>s dimensions négatives : c’est l’infra-mince.<br />
L’inversion <strong>de</strong>s vues stéréoscopiques renverse en particulier le sentiment <strong>de</strong> relief, nous permet <strong>de</strong> transformer<br />
celui-ci en creux.”<br />
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