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Untitled - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG

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xadrez, acostumados a certos exercícios cerebrais dos quais percebemos rapi<strong>da</strong>mente a<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>, seriam os mais dotados para visualisar mentalmente aquela dimensão superior às<br />

essas três tão familiares ao nosso olhar. O humor, presente também na reflexão <strong>de</strong> Marcel<br />

Duchamp sobre a quarta dimensão, contribuiu para relativizar essas questões. Desta vez<br />

irônico, ele confessará a Cabanne, em entrevista: “A quarta dimensão virou uma coisa <strong>de</strong> que<br />

se falava, sem saber o que significava. Ain<strong>da</strong> hoje, aliás”. 11 Mas, na falta <strong>de</strong> uma clara<br />

representação <strong>de</strong>ssa quarta dimensão, procuraremos abor<strong>da</strong>r essa busca duchampiana a partir<br />

<strong>da</strong>s três dimensões <strong>da</strong> geometria euclidiana, a “mais cômo<strong>da</strong>” 12 para quem a enten<strong>de</strong>u<br />

perfeitamente, como Poincaré ou Merleau-Ponty.<br />

Preferimos examinar <strong>de</strong> mais perto, através <strong>da</strong> esterescopia presente na obra <strong>de</strong><br />

Duchamp — comprova<strong>da</strong> pela crítica <strong>da</strong> mesma maneira que a presença <strong>da</strong> fotografia, 13 mas<br />

nem tão estu<strong>da</strong><strong>da</strong> em si —, o quê, no dispositivo estereoscópico, reteve Marcel Duchamp,<br />

além <strong>da</strong> simples percepção do relevo pela visão binocular, a nossa visão, mais “natural”, vale<br />

lembrar, do que a visão monocular <strong>de</strong> um… telescópio, por exemplo. Não po<strong>de</strong>mos esquecer<br />

também que o processo técnico dos anáglifos tinha sido elaborado menos <strong>de</strong> vinte anos antes<br />

<strong>da</strong>s primeiras pinturas <strong>de</strong> Duchamp.<br />

Interessante observar, sobre esse ponto, que as obras <strong>de</strong> Duchamp que usam do<br />

próprio dispositivo estereoscópico não são muitas, para não dizer poucas. A estereoscopia e<br />

sobretudo os anáglifos, 14 estão presentes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Pharmacie [Farmácia], <strong>de</strong> 1914 (pelo menos<br />

por alusão, como readyma<strong>de</strong> aidé, “aju<strong>da</strong>do” <strong>de</strong> pontos ver<strong>de</strong> e vermelho), até a “lareira<br />

anaglífica” do outono <strong>de</strong> 1968, o último <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Duchamp, como se vê (infelizmente em<br />

preto e branco) no catálogo raisonné <strong>da</strong> exposição <strong>de</strong> 1977, em Beaubourg. La stéréoscopie<br />

à la main (A estereoscopia à mão), <strong>de</strong> 1918, revela-se um outro readyma<strong>de</strong> aidé, a primeira<br />

e, talvez, a penúltima estereoscopia <strong>de</strong> Duchamp, um estereograma comprado em Buenos<br />

Aires e sobre o qual <strong>de</strong>senhou pirâmi<strong>de</strong>s estereoscópicas duplas.<br />

Vale lembrar que Charles Wheatstone (1802-1875) — para fazer uma comparação<br />

com a história <strong>da</strong> estereoscopia — não precisou inicialmente <strong>de</strong> máquina fotográfica. Antes<br />

11 CABANNE. Marcel Duchamp: Engenheiro do tempo perdido, p. 36.<br />

12 POINCARÉ. La Science et l’Hypothèse, p. 76.<br />

13 DIDI-HUBERMAN. La ressemblance par contact, p. 187-191. O autor lembra que Rosalind Krauss publica,<br />

paralelamente ao ensaio <strong>de</strong> Jean Clair sobre Duchamp e a fotografia, um texto breve colocando também “a obra<br />

to<strong>da</strong> <strong>de</strong> Duchamp sob a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> do paradigma fotográfico.”<br />

14 O dispositivo anaglífico permite a percepção do relevo por meio <strong>de</strong> um jogo <strong>de</strong> oposição <strong>de</strong> cores complementares,<br />

geralmente o vermelho e o ver<strong>de</strong> (por serem equilibrados também em termos <strong>de</strong> luminosi<strong>da</strong><strong>de</strong>),<br />

usados tanto na impressão do anáglifo quanto nos binóculos ad hoc.<br />

15

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