27.06.2013 Views

Untitled - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG

Untitled - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG

Untitled - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Marcadé nos lembra que “além <strong>de</strong> Marey, é evi<strong>de</strong>nte que as experiências picturais <strong>de</strong><br />

Kupka, vizinho dos irmãos Duchamp à Puteaux, exerceram aqui um papel importante. Muito<br />

cedo, o pintor tcheco interessou-se pelo praxinoscópio que Émile Raynaud havia inventado<br />

em 1876 “para distrair suas crianças”. 279 Talvez possa se fazer uma relação <strong>de</strong> causa à efeito<br />

entre esse pequeno cinema <strong>de</strong> salão, uma atração digna <strong>da</strong> Science amusante (Ciência<br />

diverti<strong>da</strong>) <strong>de</strong> Tom Tit (1890) e o brinquedo Rotoreliefs, os Disques Optiques (Rotorelevos,<br />

Discos óticos) <strong>de</strong> 1935 que abor<strong>da</strong>mos anteriormente. Uma relação evi<strong>de</strong>nte entre as<br />

experiências cinematográficas inconclusas <strong>de</strong> Marey, os Cinetoscópios dos Boulevards,<br />

“pequenas caixas oblongas nas quais, através dois visores, o olhar mergulhava num pequeno<br />

quadrado cintilante <strong>de</strong>senhado por um amontoado <strong>de</strong> fotos folhea<strong>da</strong>s restituindo a ilusão do<br />

movimento...” 280 e o “pequeno cinema” do qual fala Duchamp a Cabanne: “Quando retornei<br />

a New York, fiz aquela coisa para Doucet, aquela coisa óptica que gira (a Rotative <strong>de</strong>misphère),<br />

em 1924-1925, e o pequeno cinema”, 281 Anémic cinéma, é claro, realizado em<br />

colaboração com Man Ray e Marc Alégret até setembro <strong>de</strong> 1926.<br />

O interesse <strong>de</strong> Duchamp pela estereoscopia, <strong>de</strong> acordo com nossa hipótese, teria<br />

terminado com a realização do filme estereoscópico Rotative <strong>de</strong>mi-sphère, sobre o qual Man<br />

Ray conclui:<br />

Nós pu<strong>de</strong>mos, efetivamente, salvar alguns filmes: dois pe<strong>da</strong>ços <strong>de</strong> tiras que<br />

estavam juntas e que, examina<strong>da</strong>s em um antigo stéréopticon, <strong>da</strong>vam a impressão<br />

<strong>de</strong> relevo. Mas para continuar essas experiências, precisávamos <strong>de</strong> capital, ain<strong>da</strong><br />

mais que certas modificações eram necessárias antes que esse tipo <strong>de</strong> filme<br />

pu<strong>de</strong>sse ser apresentado ao público. Nós abandonamos nosso projeto. 282<br />

Duchamp insiste: tanto a fotografia quanto o cinema o interessam somente como<br />

meios técnicos: “Não acredito no cinema como meio <strong>de</strong> expressão. Ele po<strong>de</strong>rá sê-lo, mais<br />

tar<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ser; mas, como a fotografia, não vai muito mais longe do que um meio mecânico<br />

<strong>de</strong> fazer alguma coisa. Não po<strong>de</strong> concorrer com a arte (…)”. 283 Quanto a esses “meios<br />

técnicos”, muito po<strong>de</strong>ria ser dito, bem como sobre o perigo pressentido muito cedo por<br />

Duchamp <strong>de</strong> um artista se <strong>de</strong>ixar invadir pela presença <strong>de</strong> sua técnica, a ponto <strong>de</strong> não mais<br />

279 MARCADÉ. Marcel Duchamp. La vie à crédit, p. 53<br />

280 CLAIR. Duchamp et la photographie, p. 30.<br />

281 CABANNE. Marcel Duchamp: Engenheiro do tempo perdido, p. 116.<br />

282 MAN RAY. Autoportrait, p. 98. “Nous pûmes effectivement sauver un peu <strong>de</strong> pellicule : <strong>de</strong>ux bouts <strong>de</strong><br />

ban<strong>de</strong> qui allaient ensemble et qui, examinés <strong>da</strong>ns un vieux stéréopticon, donnaient une impression <strong>de</strong> relief.<br />

Mais pour continuer ces expériences, il nous aurait fallu <strong>de</strong>s capitaux, d’autant plus que certaines modifications<br />

étaient nécessaires avant que ce genre <strong>de</strong> film puisse être présenté au public. Nous abandonnâmes notre projet.”<br />

283 CABANNE. Marcel Duchamp: Engenheiro do tempo perdido, p. 176.<br />

154

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!