Untitled - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG
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escolha <strong>de</strong> Possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s legitima<strong>da</strong>s por essas leis e também ocasionando-os”. 364 Entre<br />
dois pontos no espaço, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>senhar uma infinitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> linhas possíveis, a mais reta<br />
sendo o caminho mais curto, mas como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, como opção, como escolha. Os Trois<br />
Stoppages-Étalon, confirmando a medi<strong>da</strong> padrão, possibilita outros caminhos além <strong>da</strong> reta.<br />
O xadrez, como projeção reduzi<strong>da</strong> <strong>de</strong> um mundo social — e artístico para Duchamp —<br />
torna-se o plano, a base <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> jogar tudo, inclusive, como Duchamp o teorizou<br />
com Halberstadt, uma parti<strong>da</strong> com o nulo, a indiferença ou a “reconciliação”. A presença do<br />
tabuleiro, remetendo ao geometral e ao perspectivo dos pintores e dos arquitetos, se tornaria<br />
a base <strong>de</strong> qualquer elevação, <strong>de</strong> tudo que po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senrolar e acontecer sobre tal superfície<br />
ou, antes, no espaço: uma “très plastique” (muito plástica) 365 parti<strong>da</strong> <strong>de</strong> xadrez ou um nu em<br />
“Repouso”. Ao contrário do Petit Verre que comentamos, não olhar esse nu com um olho<br />
só 366 mas do olho esquerdo e <strong>de</strong>pois do olho direito, durante um tempo que falta <strong>de</strong>terminar.<br />
Roger Caillois, que André Breton chamará seriamente <strong>de</strong> “bússola mental”, será o<br />
primeiro a comentar, em setembro <strong>de</strong> 1937, L’opposition et les cases conjuguées sont<br />
réconciliées, na mesma resenha que Les échecs artistiques (Os xadrezes artísticos, 1934) <strong>de</strong><br />
André Chéron. Caillois nos adverte:<br />
Tem-se o hábito <strong>de</strong> incluir Marcel Duchamp na última on<strong>da</strong> <strong>de</strong> libertadores <strong>da</strong><br />
imaginação: que se tenha cui<strong>da</strong>do, ao fazê-lo, para não pren<strong>de</strong>r o lobo junto com<br />
as ovelhas. Sem dúvi<strong>da</strong>, um certo equívoco no conteúdo <strong>da</strong>s obras po<strong>de</strong> conduzir<br />
ao engano, uma vez que seu aspecto <strong>de</strong>liberado, construído, mecânico em certos<br />
aspectos, parece não ter chamado tanto a atenção quanto sua fabulação superficial<br />
[...]. 367<br />
Roger Caillois acrescenta, mais adiante, em tom mais teórico :<br />
Po<strong>de</strong>ríamos facilmente esten<strong>de</strong>r o registro <strong>de</strong>ssas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s; assim, a matemática,<br />
bem como as palavras cruza<strong>da</strong>s e a versificação encontrariam ali seu lugar, pois a<br />
natureza <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> permanece idêntica: <strong>de</strong>terminar um lugar geométrico, um<br />
ponto que satisfaça simultaneamente a diversas exigências num <strong>de</strong>terminado<br />
sistema <strong>de</strong> relações. 368<br />
364<br />
DUCHAMP. Duchamp du signe, p. 43-44. “Un choix <strong>de</strong> Possibilités légitimées par ces lois et aussi les<br />
occasionnant”.<br />
365<br />
DUCHAMP. Duchamp du signe, p. 183.<br />
366<br />
DUCHAMP. Duchamp du signe, p. 107. Nota <strong>da</strong> Caixa branca: “Choses à regar<strong>de</strong>r d’un œil… <strong>de</strong> l’œil<br />
gauche… droit”<br />
367<br />
CAILLOIS. Les échecs artistiques et L’opposition et les cases conjuguées sont reconciliées, p. 86. “On a<br />
coutume <strong>de</strong> joindre Marcel Duchamp à la <strong>de</strong>rnière vague <strong>de</strong>s libérateurs <strong>de</strong> l’imagination : qu’on prenne gar<strong>de</strong>,<br />
ce faisant, d’enfermer le loup <strong>da</strong>ns la bergerie. Sans doute une certaine équivoque <strong>da</strong>ns le contenu <strong>de</strong>s œuvres<br />
permet-elle qu’on s’y trompe, puisque leur aspect délibéré, construit, mécanique à certains égards, semble avoir<br />
moins attiré l’attention que leur affabulation superficielle […].” Ver também ANTELO. Maria com Marcel.<br />
Duchamp nos trópicos, p. 202.<br />
368<br />
CAILLOIS. Les échecs artistiques et L’opposition et les cases conjuguées sont reconciliées, p. 88. “On<br />
pourrait aisément étendre le registre <strong>de</strong> ces activités et les mathématiques comme les mots croisés et la<br />
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