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Untitled - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG

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O poema La Vue <strong>de</strong>screvia <strong>de</strong> fato uma minúscula imagem enchâssée (engasta<strong>da</strong>) no<br />

fundo <strong>de</strong> uma caneta que se vê <strong>de</strong> um olho: “Meu olho esquerdo fechado completamente me<br />

impe<strong>de</strong>/ De me preocupar com outra coisa, <strong>de</strong> estar distraído.” 129<br />

Em Nouvelles Impressions d’Afrique, estamos certamente diante <strong>de</strong> um dispositivo<br />

estereoscópico, o minúsculo binóculo-penduricalho, embora as duas imagens <strong>da</strong>s quais fala<br />

Roussel não sejam estereoscópicas, ain<strong>da</strong> que se possa necessariamente acoplá-las pela<br />

leitura e no imaginário. São justamente os parênteses, contamos nove, que projetarão ao<br />

infinito a imaginação do leitor-Regar<strong>de</strong>ur. Foucault falará <strong>de</strong> “frase-horizonte”. 130<br />

Quando Duchamp fala, muitos anos <strong>de</strong>pois do seu encontro com a poesia <strong>de</strong> Roussel,<br />

<strong>de</strong> um outro tipo <strong>de</strong> obscuri<strong>da</strong><strong>de</strong> concernente ao jogo <strong>de</strong> palavras rousseliano, talvez não se<br />

trate mais <strong>de</strong> (ótica) <strong>de</strong> precisão e <strong>de</strong> imprecisão. Em seu ensaio literário “virtuose” 131 sobre<br />

Roussel, Foucault não tratará, voluntariamente, como acreditamos, <strong>de</strong> histeria, <strong>de</strong><br />

sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong> ou ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> história, como se respeitasse um segredo bem escondido. E<br />

provavelmente um segredo tão bem guar<strong>da</strong>do que, no fundo, não haja mais segredo do que<br />

em qualquer outro lugar. Nesse ensaio, literário, certamente, trata-se <strong>de</strong> linguagem, <strong>de</strong><br />

espaço tropológico <strong>da</strong> linguagem, assunto ao qual voltaremos a respeito <strong>de</strong> circulari<strong>da</strong><strong>de</strong> no<br />

terceiro capítulo.<br />

1.3.3 “sombras dos Ready-Ma<strong>de</strong>s”<br />

Consi<strong>de</strong>remos agora os famosos readyma<strong>de</strong>s, com o objetivo <strong>de</strong> verificar se a<br />

estereoscopia está envolvi<strong>da</strong> nesse tipo <strong>de</strong> produção.<br />

Em seu ensaio Résonances do readyma<strong>de</strong>, Thierry <strong>de</strong> Duve elege o readyma<strong>de</strong> como<br />

“paradigma” <strong>da</strong> obra duchampiana, assim como a obra duchampiana po<strong>de</strong>ria ser eleita como<br />

paradigma <strong>da</strong> arte contemporânea. O paradigma, do grego, paradigma, mo<strong>de</strong>lo, exemplo, é<br />

também norma. Thierry <strong>de</strong> Duve pensa que “o único ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro problema é encontrar — ou<br />

129 ROUSSEL. La Vue, p. 9. “(Mon œil gauche fermé complétement m’empêche/ De me préoccuper ailleurs,<br />

d’être distrait)”.<br />

130 FOUCAULT. Raymond Roussel, p. 159.<br />

131 ROSSET. L’anti-nature, p. 318.<br />

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