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Untitled - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG

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com André Breton <strong>de</strong> Les Champs Magnétiques (Os Campos Magnéticos, 1919) notará a<br />

<strong>de</strong>sconfiança dos Surrealistas, exceto <strong>de</strong> Paul Éluard, com relação à sentimentali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

aparente <strong>da</strong>s queixas e lamentos <strong>de</strong> Laforgue, que também foi amigo do jovem poeta Paul<br />

Bourget, a própria ovelha negra dos Surrealistas.<br />

A respeito <strong>de</strong> Complaintes (Lamentos, 1885) e do trocadilho, Daniel Grojnowski<br />

apontará o afloramento constante do <strong>de</strong>sejo, um vocabulário “precisamente marcado pelas<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> libido”. Mais adiante: “O trocadilho interessa por ser criador <strong>de</strong> uma<br />

imagem que resulta <strong>de</strong> uma aproximação inopina<strong>da</strong>, sintomática dos procedimentos<br />

inconscientes.”A referência a Freud nessa observação, coloca<strong>da</strong> em relação aos palíndromos<br />

<strong>de</strong> Anémic cinéma, faz sentido. Daniel Grojnowski acrescenta: “Sabemos que, para Freud, o<br />

mot d’esprit permite superar as resistências, autoriza as inibições, e que essa economia do<br />

esforço repressivo, a liqui<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s tensões que vem sem segui<strong>da</strong>, estão na origem <strong>da</strong><br />

euforia reencontra<strong>da</strong>.” 304<br />

Sem avançar em direção à dimensão psicológica <strong>de</strong> Marcel Duchamp, como o fará<br />

mais precisamente Thierry <strong>de</strong> Duve em Nominalisme pictural, 305 e embora tenhamos uma<br />

certa intuição <strong>da</strong> personali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Duchamp, po<strong>de</strong>mos imaginar, através <strong>de</strong> sua obra e do<br />

que sabemos <strong>de</strong> seus atos e gestos, um Duchamp pouco inibido e não tão “preocupado” pela<br />

questão sexual quanto sua obra po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar supor à primeira vista. Essa reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

onipresente em Duchamp, <strong>da</strong> qual trata Didi-Huberman, esse leitmotiv do côncavo e do<br />

convexo, remete certamente à reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos sexos. Didi-Huberman afirma: “E brincar<br />

<strong>de</strong> ‘retornar’ as palavras sempre aju<strong>da</strong> a captar alguma coisa <strong>da</strong> reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos corpos,<br />

on<strong>de</strong> domina, por meio do contato, o motivo <strong>da</strong> penetração sexual.” 306 Não resta dúvi<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

que “revirar para ver melhor” po<strong>de</strong> satisfazer, a curto prazo, alguma pulsão escópica. Seria<br />

preciso ain<strong>da</strong> estar persuadido <strong>de</strong> que tudo “retorna” à dimensão sexual. Estamos<br />

convencidos <strong>de</strong> que, com Marcel Duchamp, o caminho é outro, ou, mais niti<strong>da</strong>mente,<br />

ambivalente.<br />

304 GROJNOWSKI. Poétique <strong>de</strong>s Complaintes, p. 531 e 533. “On sait que pour Freud le mot d’esprit permet <strong>de</strong><br />

surmonter les résistances, <strong>de</strong> lever les inhibitions, et que cette épargne <strong>de</strong> l’effort répressif, la liqui<strong>da</strong>tion <strong>de</strong>s<br />

tensions qui s’ensuit, sont à l’origine <strong>de</strong> l’euphorie retrouvée”.<br />

305 DUVE. Nominalisme pictural, p. 21. Thierry <strong>de</strong> Duve justifica claramente a sua abor<strong>da</strong>gem duchampiana<br />

enquanto historiador <strong>de</strong> arte e não como psicanalista que confessa não ser.<br />

306 DIDI-HUBERMAN. La ressemblance par contact, p. 257. “Et jouer à ‘retourner’ les mots sert toujours à<br />

saisir quelque chose <strong>de</strong> la réversibilité <strong>de</strong>s corps, où domine, avec le contact, le motif <strong>de</strong> la pénétration<br />

sexuelle.”<br />

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