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Untitled - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG

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a científica, mas também a física diverti<strong>da</strong> <strong>de</strong> Tom Tit 81 para relativizar, pelo humor, a<br />

serie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tais investigações — Jarry seria o campeão <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> ironia — tornam-se<br />

rapi<strong>da</strong>mente o lugar utópico por excelência, “enquanto impresso e projetado no papel, o<br />

‘passeio do imaginário’” 82 o mais imediato, o mais acessível, assim como serão as Notas que<br />

começam a surgir, sombras projeta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> inúmeras “fontes <strong>de</strong> luz” (I<strong>de</strong>ia, espírito,<br />

consciência, cérebro...) que iluminam o jovem artista ou “anartista” em <strong>de</strong>vir. O avô <strong>de</strong><br />

Francis Picabia, Davanne, já constatava: “Você po<strong>de</strong> fotografar uma paisagem, mas não as<br />

i<strong>de</strong>ias que tenho em mente.” 83 Nas três primeiras Notas guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s por Duchamp em suas<br />

pastas, encontra<strong>da</strong>s junto às Instruções <strong>de</strong> montagem <strong>de</strong> Étant donnés, po<strong>de</strong>mos ler palavras<br />

que vão se tornar recorrentes no vocabulário duchampiano: possible, infra mince, <strong>de</strong>venir,<br />

passage, allégorie, analogie, porteurs d’ombre, sources <strong>de</strong> lumière (soleil, lune, étoiles,<br />

bougies, feu… lumière noire, feu-sans fumée). Mais adiante, na sétima Nota, que nos<br />

interessa mais precisamente nesta reflexão, lemos: “Dans le temps un même objet n’est pas<br />

le même à 1 secon<strong>de</strong> d’intervalle” (No tempo um mesmo objeto não é o mesmo a 1 segundo<br />

<strong>de</strong> intervalo). Se associarmos, como <strong>de</strong>terminavam as teorias físicas <strong>da</strong> época (Henri<br />

Poincaré, Albert Einstein, Paul Langevin…), o espaço ao tempo, sem mesmo substituir a<br />

palavra tempo pela palavra espaço, temos as condições perfeitas <strong>de</strong> uma visão estereoscópica<br />

<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s pela diferença inframince (infra<strong>de</strong>lga<strong>da</strong>) que separa a visão esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong> visão<br />

direita. Diferença semântica “infra<strong>de</strong>lga<strong>da</strong>” que separa, aliás, as duas primeiras palavras<br />

<strong>de</strong>ssa sétima Nota: “Semblablité/similarité”. 84 Semelhançabili<strong>da</strong><strong>de</strong> sendo um neologismo<br />

forjado por Duchamp para se aproximar <strong>da</strong> palavra similari<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Releiamos Alfred Jarry, a propósito do “HA ! HA !”, o único “hiatus” que Bosse-<strong>de</strong>-<br />

Nage, o gran<strong>de</strong> macaco do Docteur Faustroll, consegue pronunciar em to<strong>da</strong>s as situações:<br />

A justaposto a A e sendo ali sensivelmente igual, essa é a fórmula do princípio <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>: uma coisa é ela própria. Ao mesmo tempo é a refutação a mais excelente<br />

disso, pois os dois A diferem no espaço, quando os escrevemos, senão no tempo, assim<br />

como dois gêmeos nunca nascem juntos (...). 85<br />

81<br />

CLAIR. Duchamp et la photographie, p. 8.<br />

82<br />

SUQUET. Le Guéridon et la Virgule, p. 127: ”La quatrième dimension, à l’aube <strong>de</strong> ce siècle, c’est le<br />

promenoir <strong>de</strong> l’imaginaire, le refuge <strong>de</strong> toutes les transcen<strong>da</strong>nces, le lieu d’exil <strong>de</strong>s dieux déracinés, l’habitation<br />

<strong>de</strong>s “grands transparents”, l’“univers supplémentaire à celui-ci”, la galaxie-image, l’x = o en quoi se déguise,<br />

toujours la même, l’inconnue.”<br />

83<br />

LE PENVEN. L’art d’écrire <strong>de</strong> Marcel Duchamp, p. 132. “Tu peux photographier un paysage mais non les<br />

idées que j’ai <strong>da</strong>ns la tête”.<br />

84<br />

DUCHAMP. Notes, p. 21. Ver também a nota n°35 rv (p. 33), <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> do dia 29 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1937, talvez ela<br />

mesma relaciona<strong>da</strong> com certos paradoxos emitidos a respeito <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong><strong>de</strong> restrita, tal dos gêmeos<br />

(paradoxo <strong>de</strong> Langevin), discutido por Einstein em 1911, e o paradoxo do trem.<br />

85<br />

JARRY. Gestes et Opinions du Docteur Faustroll, p. 100. “A juxtaposé à A et y étant sensiblement égal,<br />

c’est la formule du principe d’i<strong>de</strong>ntité : une chose est elle-même. C’en est en même temps la plus excellente<br />

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