Untitled - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG
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Concluir na Escola <strong>de</strong> Belas Artes <strong>da</strong> <strong>UFMG</strong> o que o nosso <strong>de</strong>stino não permitiu<br />
antes pareceu-nos oportuno. Sabíamos que pouco havia sido publicado no Brasil a respeito<br />
<strong>de</strong> Marcel Duchamp, tanto no campo editorial em geral quanto no acadêmico, se comparado<br />
com as constantes publicações na França e nos Estados Unidos. Por acaso, uma amiga<br />
belorizontina nos ofereceu Maria com Marcel. Duchamp nos trópicos, <strong>de</strong> Raúl Antelo<br />
(publicado pela <strong>UFMG</strong> em 2010), aconselha<strong>da</strong> por seu livreiro, sem saber <strong>de</strong> nosso interesse<br />
por Duchamp.<br />
Esses fatos po<strong>de</strong>riam justificar a razão <strong>de</strong>sta dissertação. Constatamos, ain<strong>da</strong>, que os<br />
ditos, fatos, gestos duchampianos, enfim, a obra duchampiana, começavam novamente a<br />
serem discutidos, pelo menos no Brasil. 4 Diante <strong>de</strong>sse interesse pressentido, sentimos<br />
novamente o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> mettre notre grain <strong>de</strong> sel (“<strong>da</strong>r palpite”) nessa agitação, embora<br />
durante o longo intervalo <strong>de</strong> tempo que <strong>de</strong>ixamos passar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> nosso primeiro projeto, nosso<br />
principal foco não foi a vi<strong>da</strong> e a obra <strong>de</strong> Marcel Duchamp, a ponto <strong>de</strong> recolher e analisar<br />
tudo o que podia ser produzido em torno do assunto, como o faria qualquer amador com<br />
espírito <strong>de</strong> colecionador. Aliás, nem o próprio Duchamp teria erguido tal culto a ele mesmo<br />
com o tempo, o que a famosa entrevista com o historiador <strong>da</strong> arte e crítico Pierre Cabanne 5<br />
<strong>de</strong>ixa perceber numa leitura mais atenta.<br />
Tampouco nos afastamos muito do assunto Duchamp e dos <strong>de</strong>bates teóricos em<br />
torno <strong>de</strong> sua obra. Como artista plástico preocupado com assuntos estéticos, não paramos <strong>de</strong><br />
refletir, <strong>de</strong> modo mais ou menos concentrado, em torno <strong>da</strong> obra e do artista, tendo<br />
encontrado muitas vezes nas mais varia<strong>da</strong>s produções contemporâneas, problemáticas que<br />
consi<strong>de</strong>ramos já enuncia<strong>da</strong>s por Duchamp ou pela crítica duchampiana, seja em torno do<br />
mo<strong>de</strong>lo, do papel do artista, <strong>da</strong> tradição, do mercado, entre outras. A respeito do assunto<br />
mais especificamente escópico que nos interessava em Duchamp, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquele tempo <strong>da</strong><br />
ENSAD e <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong>, guar<strong>da</strong>mos a intuição principal que uma reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
generaliza<strong>da</strong>, enuncia<strong>da</strong> mais tar<strong>de</strong> por Didi-Huberman a respeito <strong>de</strong> Duchamp, 6 mas<br />
aponta<strong>da</strong> por vários comentaristas, tornaria-se fun<strong>da</strong>mental, não só na obra, mas também na<br />
filosofia duchampiana. Lembramos que vários autores tinham falado <strong>de</strong> reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> em<br />
4 Seria, aliás, interessante observar <strong>de</strong> mais perto o que acreditamos ser uma nova “elevação <strong>de</strong> temperatura” a<br />
respeito, a partir <strong>da</strong> exposição <strong>da</strong>s setenta e cinco obras <strong>de</strong> Marcel Duchamp na Bienal <strong>de</strong> São Paulo em 1987<br />
(que não chegamos a ver por morar ain<strong>da</strong> na França).<br />
5 Vale lembrar que, no primeiro ano <strong>da</strong> ENSAD, no curso <strong>de</strong> “Atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> (<strong>da</strong>s artes)”, cujo professor <strong>de</strong><br />
História <strong>da</strong> arte era, justamente, Pierre Cabanne, fizemos uma comunicação sobre a obra <strong>de</strong> Marcel Duchamp<br />
(a famosa entrevista Cabanne/Duchamp tinha sido publica<strong>da</strong> <strong>de</strong>z anos antes).<br />
6 DIDI-HUBERMAN. La ressemblance par contact, p. 254: “Duchamp consegue a reversão <strong>de</strong> tudo […]”.<br />
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