Revista de Letras - Utad
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168 M.ª Olinda Rodrigues Santana & M.ª <strong>de</strong> La-Salette F. <strong>de</strong> Castro<br />
referido à semente do linho (a linhaça) (Ferreira 1980: 1035), que era pesada em<br />
alqueires como qualquer outro cereal, quer como linho já <strong>de</strong>vidamente tratado e,<br />
nesse caso, era medido em estrigas 22 , estibas 23 e afusais 24 .<br />
Atente-se em alguns exemplos do discurso do tombo:<br />
treze allqueires <strong>de</strong> pão, quartado e treze allmu<strong>de</strong>s e vinte quanadas <strong>de</strong><br />
vinho e hum corazil <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> porquo e vinte e hua estrigua <strong>de</strong> linho e<br />
hua gallinha e três houos e meio e três reis em dinheiro (…) (fol. 4 L.5-10).<br />
O campo da fonte da Balouta leva dous allqueires e meio <strong>de</strong> lenhasa (f. 82v<br />
L7-8); houtro lameiro (…) levara hum allqueire <strong>de</strong> linhasa <strong>de</strong> semeadura<br />
(f. 107r L10-11).<br />
Ao longo <strong>de</strong> todo o discurso do tombo filipino, é possível confirmar que a<br />
principal activida<strong>de</strong> produtiva do concelho <strong>de</strong> Fontes <strong>de</strong> Penaguião, nos finais do<br />
século XVI, era, na verda<strong>de</strong>, a agricultura.<br />
Uma activida<strong>de</strong> subsidiária e complementar da agrícola era, sem dúvida, a<br />
pecuária. Nesta activida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stacamos a criação <strong>de</strong> gado ovino, caprino, bovino<br />
e porcino, e ainda a criação <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> capoeira, nomeadamente, galinhas, os<br />
quais aparecem referenciados no pagamento dos tributos: “hũ corazil <strong>de</strong> carne <strong>de</strong><br />
porquo” ( fol. 3r L 16), “huã gallinha e três houos e meio” ( fol. 3r L 18, 19).<br />
A criação <strong>de</strong> gado além <strong>de</strong> fornecer carne, leite e <strong>de</strong>rivados, lã e couro,<br />
servia também para o amanho da terra e sua fertilização. Esta activida<strong>de</strong> é<br />
mencionada no discurso do documento estudado.<br />
Conclusão<br />
Os tombos filipinos exarados, no final do século XVI inícios do século<br />
XVII, aproximadamente um século <strong>de</strong>pois da reforma manuelina dos forais,<br />
abordaram aspectos económicos e fiscais (levantamento <strong>de</strong> impostos), versaram<br />
matérias <strong>de</strong> justiça e <strong>de</strong> administração (indicação <strong>de</strong> cargos administrativos e<br />
jurídicos), tal como os forais manuelinos, mas introduziram um assunto novo: o<br />
cadastro da proprieda<strong>de</strong> régia, senhorial e concelhia. Com efeito, os tombos<br />
filipinos outorgados a inúmeros concelhos do reino são uma espécie <strong>de</strong><br />
continuação da reforma manuelina, porque se tornaram numa actualização dos<br />
direitos reais, mas são, sobretudo, uma inovação no domínio da <strong>de</strong>marcação do<br />
espaço geográfico concelhio. Ao estabelecer o cadastro da proprieda<strong>de</strong> régia e<br />
22 Estriga – o mesmo que estiva.<br />
23 Estiva (estiba) – medida <strong>de</strong> linho, equivalente ao espaço entre o polegar e o indicador.<br />
Veja-se Santana, Olinda (2001): 273.<br />
24 Afusal – medida ou peso <strong>de</strong> linho equivalente a dois arráteis e que compreendia doze<br />
estrigas. Viterbo <strong>de</strong>fine também a variante gráfica <strong>de</strong> afusal <strong>de</strong> linho, efusal <strong>de</strong> linho:<br />
“afusal”, que tem <strong>de</strong> peso “dous arráteis e constava <strong>de</strong> doze estrigas, e era a quarta parte<br />
<strong>de</strong> uma pedra, que são oito arráteis (…)”. Viterbo (1993): Vol. II: 206.