Revista de Letras - Utad
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Teatro Popular Mirandês… 269<br />
mesmo processo <strong>de</strong> adaptação e <strong>de</strong> transformação que o povo e os regradores<br />
impuseram aos restantes textos. O estudo e a edição <strong>de</strong> cada um darão conta<br />
<strong>de</strong>stas particularida<strong>de</strong>s.<br />
Porém, o seu espólio não comporta apenas os textos, ou cascos, mas<br />
também outros estudos sobre o teatro, assim como <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> fotografias que<br />
ilustram estas representações, a sua importância e impacto em toda a Terra <strong>de</strong><br />
Miranda e para além <strong>de</strong>la. O próprio António Mourinho foi organizador do Auto<br />
da Paixão, a que já me referi, e que constituiu uma das maiores manifestações<br />
teatrais <strong>de</strong>sta natureza, cujas marcas memoriais se prolongaram até aos nossos<br />
dias. Para outra representação, a Comédia <strong>de</strong> D. Inês <strong>de</strong> Castro, (assim lhe<br />
chamou o povo) representada em Picote no dia 8 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1947, Mourinho<br />
escreveu, em verso, o texto da Profecia.<br />
Para além do seu talento <strong>de</strong> investigador, da sua paixão pelas “coisas<br />
miran<strong>de</strong>sas”, o seu interesse pelo TPM foi também estimulado pelo contacto<br />
com outros etnógrafos como José Leite <strong>de</strong> Vasconcelos, o Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Baçal, Luís<br />
Chaves, Azinhal Abelho, o Padre Firmino Martins, assim como o etnógrafo<br />
brasileiro Luís da Câmara Cascudo. Sabemos igualmente que era um assíduo<br />
espectador <strong>de</strong>stes colóquios, aos quais só não assistia por imperativos pessoais<br />
ou profissionais. Numa das suas cartas, datada <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1950, dirigida<br />
ao ilustre brasileiro, informa-o <strong>de</strong> que A vida da Santa Imperatriz Porcina<br />
subiria ao palco no mês <strong>de</strong> Maio seguinte. Um pouco mais tar<strong>de</strong>, informá-lo-ia<br />
<strong>de</strong> que, por razões profissionais, não pu<strong>de</strong>ra assistir a essa representação 10 .<br />
Mas Mourinho sofreu uma das doenças que afectam a esmagadora maioria<br />
dos homens e mulheres que se <strong>de</strong>dicam à Ciência: a falta <strong>de</strong> tempo. Por isso, não<br />
lhe foi possível cumprir o seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> publicar os textos recolhidos. Deixou,<br />
isso sim, variadíssimas notas sobre o teatro em geral e sobre o TPM em<br />
particular, reafirmando amiú<strong>de</strong> a sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> publicar todos os textos que<br />
tinha em seu po<strong>de</strong>r. Desconhecemos como o pretendia organizar e editar,<br />
sabendo apenas, a partir <strong>de</strong> uma nota do seu Arquivo, que seria “um volume <strong>de</strong><br />
cerca <strong>de</strong> 600 páginas”. Sabemos igualmente, a partir <strong>de</strong> outra nota manuscrita,<br />
que era seu <strong>de</strong>sejo que estes textos voltassem a ser impressos, “em folhetos <strong>de</strong><br />
cor<strong>de</strong>l, para que <strong>de</strong> novo andassem nas mãos dos boieiros e dos pastores, da<br />
gente do campo”, que assim os viesse a representar. Foi neste sentido que o<br />
10 Estas cartas encontram-se no seu Arquivo. Todavia encontramos também notícia da<br />
primeira missiva numa obra <strong>de</strong> Câmara Cascudo (1953: 289): “No norte <strong>de</strong> Portugal<br />
representa-se a SANTA IMPERATRIZ que é Porcina. O rev. Padre Antônio Maria<br />
Mourinho, <strong>de</strong> Duas Igrejas, Miranda do Douro, uma autorida<strong>de</strong> como estudioso e<br />
<strong>de</strong>fensor dos autos e bailados tradicionais <strong>de</strong> Portugal, informava-se em carta <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong><br />
abril <strong>de</strong> 1950: - A vida da SANTA IMPERATRIZ, ou IMPERATRIZ PORCINA vai no próximo<br />
mês <strong>de</strong> maio ao tablado aqui na minha região, numa al<strong>de</strong>ia chamada Póvoa.”