Revista de Letras - Utad
Revista de Letras - Utad
Revista de Letras - Utad
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Teatro Popular Mirandês… 265<br />
2. Representações<br />
Desnecessário será dizer que as representações do TPM se tornaram cada<br />
vez mais raras. Razão que se pren<strong>de</strong>m com as mudanças sociais e sociológicas,<br />
com as transformações ocorridas na socieda<strong>de</strong> miran<strong>de</strong>sa que fizeram, por<br />
exemplo, com que os textos tenham perdido actualida<strong>de</strong>, interesse, e se tenham<br />
tornado opacos e incompreensíveis. Ainda assim, <strong>de</strong> tempos a tempos, em<br />
algumas al<strong>de</strong>ias, lá se vai fazendo uma ou outra representação. E é pena que as<br />
Associações Culturais, os grupos <strong>de</strong> teatro, miran<strong>de</strong>ses ou não, não aproveitem<br />
este manancial para lhe incutir nova vida.<br />
Tradicionalmente, excepto com os textos <strong>de</strong> carácter mais ritual, associados<br />
ao ciclo pascal e natalício, assim como ao Entrudo, as representações tinham<br />
lugar no final do Inverno. Durante este período, aos serões, faziam-se os ensaios<br />
nos currais ou à volta das enormes fogueiras, que eram também ocasiões <strong>de</strong><br />
encontro e <strong>de</strong> festa. Chegada a Primavera, aí pelos meses <strong>de</strong> Abril, Maio e<br />
Junho, antes das safras estivais do trigo e do centeio, armavam-se os gran<strong>de</strong>s<br />
tablados para a representação. O espectáculo era montado nestes enormes<br />
estrados <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, elevados, para permitir boa visibilida<strong>de</strong>. O cenário <strong>de</strong> fundo<br />
é composto por colchas, representando as casas das personagens, servindo as<br />
primeiras <strong>de</strong> meio <strong>de</strong> entrada e saída em cena.<br />
A <strong>de</strong>scrição do TPM, feita pelos elementos do GEFAC, que aqui acorreram<br />
após o 25 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1974, imbuídos pelo espírito revolucionário e cultural das<br />
Brigadas do Serviço Cívico, mantém plena actualida<strong>de</strong>:<br />
A representação <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> teatro era, pelo menos pela altura da nossa<br />
recolha, extremamente simples e ingénua <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo por completo da<br />
maior ou menor graça, jeito ou engenho dos seus intervenientes. (…) Os<br />
espectáculos <strong>de</strong>corriam em ambiente vicinal com um público "familiar" na<br />
própria al<strong>de</strong>ia ou nas al<strong>de</strong>ias vizinhas. O ponto que sussurrava o texto aos<br />
ouvidos <strong>de</strong> algum actor que tivesse uma branca (esquecimento do texto),<br />
era perfeitamente assumido pelo "ensaiador" que dirigia a cena, junto à<br />
boca <strong>de</strong> cena, não se inibindo <strong>de</strong> corrigir em voz alta algum actor mais<br />
esquecido ou até mandar repetir alguma cena 9 .<br />
ou representações <strong>de</strong> algum mistério (…) as representações <strong>de</strong>ste género são sempre ao<br />
ar livre – um teatro <strong>de</strong> feira. Na Terra <strong>de</strong> Miranda Colóquio ou Quilóquio é<br />
representação séria, da vida <strong>de</strong> um santo, por exemplo, num teatro armado <strong>de</strong> rua”. Op.<br />
cit., p. XVI.<br />
“Casco”, esclarece Machado Guerreiro, é o nome dado na Terra <strong>de</strong> Miranda, ao<br />
manuscrito da peça, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do género a que possa pertencer e em todo o<br />
Norte do País (ver Guerreiro 1976: xv).<br />
9 Ver http://www.uc.pt/gefac/teatro_popular/teatro_teatro.htm (consultado dia<br />
16.05.2007)