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suas transformações ao longo do tempo. A partir do trabalho feito com o livro “Contos<br />

e Lendas da Maré”, os alunos eram estimulados a ler, conhecer, criar e contar outras<br />

histórias. O mais interessante é que a partir da imaginação de cada um, iam surgindo<br />

através de desenhos e escritos novas maneiras de recontar os contos do livro. Percebi<br />

que, a partir do livro, criou-se um diálogo entre os jovens e seus pais, uma vez que<br />

estes pais vivenciaram e conheceram personagens vivos de alguns causos, surge uma<br />

importância maior e um sentimento de pertencimento dessas histórias, fazendo com<br />

que assim busquem ainda mais informações sobre esses fatos, cada local onde possivelmente<br />

aconteceram esses causos passaram a ser uma referência dentro da Comunidade.<br />

Com a construção do Museu da Maré, em maio de 2006, minhas ações e as do<br />

grupo foram ampliadas para também atender o público diversificado, recebendo grupos<br />

agendados uma vez por semana com contação de histórias. Uns dos contos é o<br />

Casamento na palafita, que eu conto na varanda do Tempo da Casa, segundo tempo<br />

do museu (uma vez que a concepção o divide em doze partes chamadas Tempos). E<br />

é dentro dessa réplica que as pessoas recordam, choram e resgatam, de dentro de si,<br />

toda a memória aterrada, adormecida, de uma época vivida ali. Numa dessas visitas<br />

que eu acompanhei, tive uma experiência com uma senhora que, ao entrar na réplica<br />

de uma palafita, construída dentro do Museu, chorou pelas lembranças que vieram<br />

à tona, ao ver expostos ali vários objetos e pertences que fizeram parte de sua vida.<br />

Quando a levei até o velho fogão Cosmopolita 1 e falei do “pente-quente” 2 , foi uma<br />

emoção ainda maior, pois choramos juntas e lembrei-me da época em que minha mãe<br />

alisava meus cabelos com esse objeto.<br />

Outra experiência que vivi foi no Tempo do Medo. Em uma visita, a filha reconheceu<br />

a mãe, os irmãos e o primo numa foto, sentados na ponte, exposta ali, e<br />

contou para a mãe. Na semana seguinte, a mãe veio conhecer o Museu e ficou muito<br />

emocionada com tudo que viu, percebi que ela tinha pressa em chegar onde estava a<br />

tal foto, e, quando chegou perto, apontou um por um de seus familiares e disse: “O<br />

tempo passou, pois nesse retrato aqui, os meus cabelos eram pretos e agora estou com<br />

a cabeça branca. Ah, minha filha, meus meninos caíam muito dentro dessa maré. E<br />

Lene Nunes<br />

165<br />

1. Marca de um fogão.<br />

2. Objeto que se esquentava ao fogo para alisar o cabelo (seria a prancha de hoje).

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