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[Bia Bedran]<br />

“Embora<br />

nenhum de nós vá viver para sempre, as histórias conseguem...”<br />

EAssim a autora Clarissa Pinkola Estés encerra seu livro escrito no início dos anos<br />

1990, O dom da história. Nesta obra ela pretende desvelar a amplitude do alcance das<br />

narrativas orais através dos tempos e seu efeito de longa duração. Os componentes do<br />

mundo mítico associados ao “feitiço libertador dos contos de fadas”, que se destina<br />

a provocar uma sensação de felicidade, e ao acolhimento do conselho, têm a capacidade<br />

de perdurar e coexistir num mundo técnico que corre cada dia mais em busca<br />

do sentido para a vida. E do mesmo modo Walter Benjamin cita os elementos constitutivos<br />

dos contos de fadas: “E se não morreram, vivem até hoje...”.<br />

O estudo acerca do valor de longa duração dos contos oriundos das tradições<br />

orais é tema recorrente na obra de Câmara Cascudo (1898-1986) desde a década de<br />

1930. Especialmente em Literatura oral no Brasil, escrito entre 1945 e 1949, o autor nos<br />

fornece dados relevantes sobre a atmosfera sagrada que envolve a prosa do narrador<br />

e suas situações simbólicas apresentadas. Segundo ele, alguns segredos constituem as<br />

técnicas da narrativa popular:<br />

Os velhos irlandeses têm repugnância de contar estórias de dia porque traz infelicidade.<br />

Os Bassutos africanos crêem que lhes cairá uma cabaça ao nariz ou a mãe do narrador<br />

transformar-se-á numa zebra selvagem. Os Sulcas da Nova Guiné acreditam que seriam<br />

fulminados por um raio. Os Tenas, do Alasca, contam histórias de dia, mas o local deve<br />

estar na mais profunda obscuridade. Essa interdição é a mesma em Portugal e Espanha,<br />

decorrentemente para o continente americano. Quem conta estórias de dia cria rabo de<br />

cotia. (CASCUDO, 1984, p. 228).<br />

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