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Como disse o então Presidente da APAC de Itaúna, atual Presidente da FBAC<br />
(Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados), Valdeci Antônio Ferreira:<br />
A sociedade vive hoje o drama do medo. É como se ninguém mais pudesse se sentir seguro.<br />
Medo do terrorismo. Medo do tráfico de drogas. Medo da violência e da poluição. Medo<br />
do desemprego e da solidão. Medo da guerra e do abandono. Medo da doença e da velhice.<br />
Medo das balas perdidas e das balas não encontradas. Medo de que chova muito e leve as<br />
casas. Medo de que não chova e aumente a fome. Medo da fraude e da corrupção. Medo da<br />
verdade que dói e da mentira que mata.<br />
Os presidiários também vivem nesse constante estado de medo. Temem as fugas,<br />
as rebeliões, a doença, a morte na calada da noite, além de temerem o que está além<br />
do seu controle, no mundo exterior: a reação da família, a infidelidade do cônjuge, o<br />
rigor do julgamento e a (não) assistência do advogado. O medo funciona como uma<br />
doença, afetando o nosso bem-estar e disseminando insegurança. A cura, ou seja, a<br />
restauração da tranquilidade, é uma necessidade de todos nós. Valdeci Antônio Ferreira<br />
também percebeu esses sentimentos e concluiu:<br />
Nesse momento, me vem à memória as minhas avós já falecidas, minha mãe e meu pai em<br />
volta do fogão à lenha, comendo biscoito frito e tomando café. Recordo-me, com saudades,<br />
das histórias contadas e recontadas para afastar o nosso medo de criança. (...) Tem gente<br />
que conta histórias para afastar o medo; e essas histórias contadas e recontadas possuem o<br />
dom de encantar a vida.<br />
Contra o medo – nosso e dos presos – acredito na contribuição da força da palavra<br />
do conto ou da palavra encantada ou, ainda, na força na “boa palavra”, que carrega<br />
consigo a sabedoria e a possibilidade de dar nova interpretação a fatos do passado<br />
que não podem ser mudados. A palavra do contador de histórias, trabalhada artisticamente,<br />
ganha o atrativo estético, que cativa e encanta o ouvinte, conduzindo-o até<br />
a sabedoria e aos ensinamentos guardados no conto. A arte permite que o ouvinte se<br />
integre ao que é sublime, enriquecendo a experiência.<br />
Na atualidade, o retorno da prática da narração de histórias obedece a uma necessidade<br />
que extrapola a intenção profissional do artista, mas favorece a função social da<br />
Rosana Mont’Alverne<br />
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