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um caboclo. Vi logo que era cria do lugar: um pescador de palavras. Sua voz estava na<br />

praça, mas apenas sussurrava uma história-para-dois. “Quem cochicha, o rabo espicha”.<br />

Pensando assim, espichei o meu pescoço, meti o nariz entre os três (narrador e<br />

seu público de dois): “Sou Seu Cochicha-Língua-Espicha!“ Ele a mim se apresentou.<br />

E continuou contando sua história agora pra três. Pensei nessa modalidade: Públicomicro<br />

em meio à macro-visão de gente. Ideia só dele ou não, foi um jeito encontrado<br />

de ser ouvido com atenção, valorizando, de verdade, cada palavra então falada. É nessas<br />

pequenas grandes nuances, por entre ouvidos e praças, que se percebe: espaço do<br />

contador de histórias nos dias atuais não se mede apenas pelo volume de público à<br />

sua volta, mas também pelo conteúdo e boa qualidade que se imprime em seu contar.<br />

Já em pleno pôr do sol, um céu de plasticidade: Azul, vermelho, amarelo, suavemente<br />

mandou a estrela-guia alumiar a cidade, pro Cortejo das Linguagens. Assim<br />

sendo: Do Homem de Papel ao Mímico, passando pelo Narrador-Para-Três, Mamulengos,<br />

Cirandeiros... Até Mestre Vitalino, com Bonecos de Lampião e Maria Bonita,<br />

acrescentaram pontos diversos na interação de contadores com outras artes. Desse<br />

ponto de partida, ao som de tambores, cantos, danças, contos, etc. – por ruas, praças<br />

e beira-mar o Cortejo circulou. Sendo o Ponto-de-Chegança o mesmo de onde partira:<br />

Frente à igreja: lugar do Circo Armado. Cortejo chegou, fez-se a Roda, rodou-se,<br />

então, o chapéu. Era o mesmo chapéu do começo dessa Jornada de Palavras.<br />

Sem mais o que dizer, peço licença a Guimarães Rosa pra indagar: “Aqui, a<br />

história acabada”. Acaba é nada! A história é dada a se verter, virar outras, conforme<br />

muda de voz ou de lugar. Toda história que se preza ser contada, guarda em si outras<br />

versões. Falando nisso...<br />

Lá Não vi foi DeusNumDé,<br />

mas ele segue no ar,<br />

contando, pra quem quiser<br />

em seu mundo navegar<br />

e contar, como puder,<br />

a história que imaginar.<br />

Edmilson Santini<br />

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