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posto Optei por adaptar histórias curtas e fragmentos de histórias. Entreguei os textos<br />
e eles me pediram para diminuir o tempo para dois minutos. Fiz as novas adaptações<br />
e... pediram para diminuir para um minuto. Um minuto! Agora fui eu que tive<br />
um espanto: Impossível!! Não conseguiria contar uma história em um minuto por<br />
mais curta que ela fosse. Pensei em recusar e apresentei minhas alegações. Para minha<br />
alegria, voltaram aos dois minutos, mas eu tinha que cronometrar as histórias para<br />
que tivessem realmente o tempo exigido. Fiz.<br />
Na época eu estava produzindo um espetáculo teatral baseado no conto popular<br />
“O rei doente do mal de amores”. Como eram vinte histórias e eu estava enrolado<br />
com a produção do espetáculo, pedi para que os textos adaptados fossem colocados<br />
num teleprompter. Eles aceitaram, mas aí veio a surpresa: seriam três câmeras!<br />
Não tenho muito experiência com o veículo. Não sei bem como agir na frente de<br />
uma câmera. Como ator, estou mais acostumado com o teatro. No teatro o gesto é<br />
grande, a voz é empostada e precisa atingir a famosa velhinha surda que está sentada<br />
na última fila. Como contador de histórias, dependendo do público, o processo é<br />
semelhante ao do teatro. Com o diferencial que na contação de histórias o texto é<br />
transmitido exclusivamente para o público.<br />
E ainda tinha o problema das tais três câmeras. O tempo de mudança de uma<br />
câmera para outra não tinha sido cronometrado. Resumindo: todas as adaptações<br />
ultrapassaram o limite de dois minutos. Para meu alívio, eles gostaram do resultado<br />
e não pediram para refazer as adaptações. Mas ainda tinha um problema: o olhar.<br />
Quando você vira de uma câmera para a outra, o seu olho vai antes do que seu<br />
rosto. Já imaginou Nunca tinha pensado nisso! Precisava controlar meu olhar que,<br />
teimoso, insistia em ir antes do meu rosto. E também tinha que imaginar algumas<br />
figuras que seriam colocadas posteriormente pela computação gráfica. Como se eu<br />
interagisse com essas figuras. Foi difícil. Principalmente porque não tinha um único<br />
olhar para aquecer a contação. Somente o frio olho da câmera. Gravei em três dias.<br />
Três manhãs para ser mais preciso. Não podia me mexer muito e tinha que estar com<br />
uma “cara boa”. Essa era a pior parte. Como estava produzindo um espetáculo, tinha<br />
Augusto Pessôa<br />
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