Flash - Fonoteca Municipal de Lisboa
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JEAN-PAUL PELISSIER/REUTERS<br />
Jean-Luc Godard “lives”<br />
Um dos ícones vivos da outrora<br />
chamada arte cinematográfica: a<br />
estreia <strong>de</strong> “Film Socialisme” será um<br />
dos pontos altos do ano.<br />
“Exit Through<br />
the Gift Shop”<br />
O retrato do<br />
vazio da fama<br />
que La<br />
Coppola<br />
propõe em<br />
“Somewhere”<br />
é autobiográfico<br />
ou<br />
satírico?<br />
JEAN-PAUL PELISSIER/REUTERS<br />
Banksy, o gran<strong>de</strong><br />
manipulador<br />
Um filme que cai em<br />
pleno <strong>de</strong>bate do que é e<br />
po<strong>de</strong> ser hoje o cinema.<br />
Acabou <strong>de</strong> se tornar octogenário (em<br />
Dezembro), sobreviveu a duas biografias<br />
(uma do americano Richard<br />
Brody, crítico da “New Yorker”, outra<br />
do francês Antoine <strong>de</strong> Baecque),<br />
e uma estapafúrdia campanha (suscitada<br />
pelo livro <strong>de</strong> Brody) que pretendia<br />
fazer <strong>de</strong>le um perigoso antisemita.<br />
Também sobreviveu a um<br />
muito publicitado “Óscar especial”<br />
e, tudo indica, à agressivida<strong>de</strong> (nalguns<br />
casos inimaginável) com que a<br />
crítica mais generalista recebeu<br />
“Film Socialisme”. Longe vão os<br />
tempos em que a estreia <strong>de</strong> um filme<br />
<strong>de</strong> Godard fazia parar as máquinas<br />
– mas, c’os diabos, trata-se <strong>de</strong> um<br />
dos dois ou três ícones vivos da outrora<br />
chamada arte cinematográfica,<br />
e a estreia em Portugal será um dos<br />
pontos altos do ano. Majestoso e labiríntico,<br />
encantador e exasperante<br />
– é tudo menos uma abstracção: viaja<br />
pelo Mediterrâneo, “mar fundador”,<br />
e fala <strong>de</strong> nós, europeus, no<br />
ponto da história em que estamos,<br />
prevendo o momento em que se ia<br />
conseguir convencer os gregos <strong>de</strong><br />
que são eles quem está em dívida<br />
para com a Europa. L.M.O.<br />
Lugares-comuns: “uma imagem vale<br />
mais do que mil palavras”, “um velling é uma questão <strong>de</strong> moral”, “a<br />
tra-<br />
câmara nunca mente”. A era do “falso<br />
documentário” como laboratório<br />
formal e criativo do cinema mo<strong>de</strong>rno<br />
tem <strong>de</strong>svalorizado ou revalorizado<br />
esses lugares-comuns, <strong>de</strong> “O Projecto<br />
Blair Witch” a “I’m Not Here”. Mas<br />
quando o “falso documentário” é um<br />
“documentário verda<strong>de</strong>iro”, como<br />
“Exit Through the Gift Shop”, que<br />
pega em imagens reais mas nos<br />
leva a perguntar a qualquer momento<br />
o que é verda<strong>de</strong> e o que<br />
é mentira? O filme do provocaem<br />
Abril) é um exercício <strong>de</strong> manipulação<br />
<strong>de</strong> materiais e da própria<br />
forma do documentário que toma<br />
dor Banksy (nas nossas salas<br />
como tema a manipulação, mas também<br />
o modo como um ponto o <strong>de</strong> vista<br />
ou um olhar muda as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong><br />
compreensão e recepção <strong>de</strong> qualquer<br />
objecto. Se quisermos, um cumentário sobre si mesmo – e um<br />
meta-do-<br />
filme que cai em pleno <strong>de</strong>bate do que<br />
é e po<strong>de</strong> ser hoje o cinema. J. M.<br />
ALESSANDRO BIANCHI/REUTERS<br />
Sofia<br />
ou o<br />
regresso<br />
da filha<br />
pródiga<br />
Sofia já per<strong>de</strong>u<br />
o prazo <strong>de</strong><br />
valida<strong>de</strong> ou<br />
acaba <strong>de</strong> se<br />
reinventar?<br />
“Somewhere”<br />
promete ser um<br />
dos assuntos da<br />
temporada.<br />
É o seu cinema, ou é só o seu apelido?<br />
Sempre que Sofia Coppola reaparece,<br />
os holofotes assestam-se nela. Depois<br />
da controvérsia “Marie Antoinette”,<br />
“Somewhere” tem polarizado a<br />
crítica e o público <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a estreia<br />
em Setembro no Festival <strong>de</strong> Veneza,<br />
on<strong>de</strong> ganhou o Leão <strong>de</strong> Ouro por<br />
entre acusações <strong>de</strong> compadrio (Quentin<br />
Tarantino, presi<strong>de</strong>nte do júri, foi<br />
seu namorado) e aclamações <strong>de</strong> genialida<strong>de</strong>.<br />
O retrato do vazio da fama<br />
que La Coppola propõe em “Somewhere”<br />
é autobiográfico ou satírico?<br />
Um retorno ao estado <strong>de</strong> graça <strong>de</strong><br />
“Lost in Translation” ou a sua confirmação<br />
como frau<strong>de</strong> empolada? Sofia<br />
já per<strong>de</strong>u o prazo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> ou acaba<br />
<strong>de</strong> se reinventar? “Somewhere”<br />
promete ser um dos assuntos <strong>de</strong> conversa<br />
da temporada. Respostas, ou<br />
<strong>de</strong>bates, quando por cá estrear (17 <strong>de</strong><br />
Fevereiro). J. M.<br />
Cinco horas e meia para televisão<br />
reduzidas a duas horas e meia para<br />
cinema, versão anunciada entre nós<br />
para Fevereiro - é verda<strong>de</strong> que algo<br />
se per<strong>de</strong>... –, “Carlos” é várias coisas:<br />
um “puzzle” ou miniatura que <strong>de</strong>senha<br />
as movimentações e figuras do<br />
terrorismo das décadas <strong>de</strong> 70 e 80 do<br />
século XX; uma tragédia sobre a pureza<br />
revolucionária que é <strong>de</strong>vorada;<br />
um retrato da ambição em movimento,<br />
retrato em aberto, esse, <strong>de</strong> um<br />
sedutor nato que gostava <strong>de</strong> armas e<br />
<strong>de</strong> mulheres. A estratégia <strong>de</strong> Carlos<br />
como estratégia <strong>de</strong> sensualida<strong>de</strong>, a<br />
História no corpo do terrorista. Assayas<br />
encontra uma figura para esse<br />
narcisismo que se consome: o plano<br />
<strong>de</strong> Ramírez nu, <strong>de</strong>spudoradamente<br />
embeiçado por si próprio, momento<br />
que se repete, ao som <strong>de</strong> “Dreams<br />
never end”, dos New Or<strong>de</strong>r, quando<br />
Carlos é já corpo inchado pelo excesso<br />
e pelo ego, mas ainda capaz <strong>de</strong> um<br />
último “hurrah” ao espelho. No centro<br />
das atenções, Edgar Ramírez, 33<br />
anos, actor secundário em “Che”, <strong>de</strong><br />
So<strong>de</strong>rbergh, ou em “The Borne Ultimatum”,<br />
tem agora o seu momento.<br />
Frente ao espelho.<br />
Ípsilon • Sexta-feira 7 Janeiro 2011 • 11