Flash - Fonoteca Municipal de Lisboa
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“Artel” e “My<br />
Joy”, que no<br />
dia 20 chega<br />
ao circuito<br />
comercial<br />
é estar no centro <strong>de</strong> um – traumático,<br />
começámos por dizer – processo<br />
<strong>de</strong> revelação: como se os filmes mostrassem,<br />
finalmente, o que estava por<br />
trás <strong>de</strong> uma fabricação, a URSS, e aquilo<br />
que irrompeu com o colapso da<br />
fabricação. Veja-se – sinta-se – a espessura<br />
do trabalho e do esforço humano<br />
em “Factory” (2004, sábado, 15,<br />
18h30) e “Artel” (2006, sábado, 15,<br />
21h30), e como essa espessura, tão<br />
humana, tão dramática, tão cruel e<br />
tão irredutível se opõe ao heroísmo<br />
<strong>de</strong> papelão dos filmes <strong>de</strong> propaganda.<br />
“My Joy”, finalmente, filme que começa<br />
com um cadáver a ser sepultado<br />
no cimento, beneficiou talvez da liberda<strong>de</strong><br />
da ficção para se po<strong>de</strong>r entregar<br />
<strong>de</strong> forma selvagem à <strong>de</strong>sagregação.<br />
“Estou sempre<br />
a ver filmes, às vezes<br />
vários filmes por dia.<br />
Não se po<strong>de</strong> viver sem<br />
filmes e sem livros...”<br />
Cresci na URSS e essas imagens <strong>de</strong><br />
propaganda são-me familiares, pertencem<br />
à minha infância. Na verda<strong>de</strong>,<br />
quando <strong>de</strong>scobri essas imagens<br />
no arquivo <strong>de</strong> cinema documental<br />
<strong>de</strong> S. Petersburgo, senti-me nostálgico...<br />
Lembrou-me a minha infância.<br />
Claro, tive que me livrar <strong>de</strong>ssa emoção<br />
e abeirar-me do material como<br />
se fosse outro qualquer, do ponto <strong>de</strong><br />
vista do seu significado e do objectivo<br />
que serviria no meu filme. Mas nho que qualquer pessoa que cresceu<br />
naquela parte do mundo e que esteve<br />
supo-<br />
submetida a este tipo <strong>de</strong> lavagem ao<br />
cérebro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tenra ida<strong>de</strong> e<br />
que sobreviveu a isso tornouse<br />
imune a qualquer tipo <strong>de</strong><br />
propaganda. E torna-se também<br />
muito sensível a esse tipo <strong>de</strong><br />
questão. Torna-se muito fácil brir on<strong>de</strong> está a propaganda e<br />
<strong>de</strong>sco-<br />
<strong>de</strong>scodificá-la.<br />
E David Lynch? Sente-se<br />
próximo? É que “My Joy”<br />
podia chamar-se também “Lost<br />
Highway”.<br />
Dou muito valor aos filmes <strong>de</strong> David<br />
Lynch. Aliás, há vários cineastas cujo<br />
trabalho me toca em termos artísticos<br />
e intelectuais: Bresson, Dovjenko,<br />
Dreyer, Buñuel – para nomear al-<br />
guns. Estou sempre a ver filmes, às<br />
vezes vários filmes por<br />
dia. Não se po<strong>de</strong> viver<br />
sem filmes e sem livros...<br />
Loznitsa<br />
acompanhará<br />
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30 • Sexta-feira 7 Janeiro 2011 • Ípsilon