Flash - Fonoteca Municipal de Lisboa
Flash - Fonoteca Municipal de Lisboa
Flash - Fonoteca Municipal de Lisboa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
eatro<br />
e a tua<br />
“A Game of You”: aquilo que vemos<br />
ao espelho é o nosso avatar<br />
VIRGINIE SCHREYEN<br />
ELIES VAN RENTERGHEM<br />
l Trilogy”, compacto que reúne “Internal”, “The Smile Off<br />
, mas às vezes reencontrado, no seu labirinto. Inês Nadais<br />
ir seja para on<strong>de</strong> for”, diz Devriendt.<br />
“Internal” (amanhã e <strong>de</strong>pois), a<br />
peça que veio a seguir, continua a<br />
po<strong>de</strong>r ir parar a lugares imprevisíveis:<br />
ao contrário <strong>de</strong> “The Smile Off<br />
Your Face”, praticamente não há<br />
guião, e os actores constroem o espectáculo<br />
à medida que entram no<br />
labirinto do seu espectador (à entrada,<br />
cada um dos cinco actores escolhe<br />
o seu “acompanhante”, que <strong>de</strong>pois<br />
leva para um privado: “Internal”<br />
está entre o “speed-dating” e a<br />
terapia <strong>de</strong> grupo). O céu só não é o<br />
limite porque os Ontroerend Goed<br />
não estão dispostos a tudo (e sobretudo<br />
não estão dispostos a ultrapassar<br />
os limites <strong>de</strong> cada espectador),<br />
mas esta é a peça <strong>de</strong>pois da qual,<br />
algures num quarto belga, não ficou<br />
pedra sobre pedra. Eis portanto a<br />
razão pela qual Alexan<strong>de</strong>r Devriendt<br />
não nos conta tudo o que sabe:<br />
“Os espectadores sabem que o que<br />
acontece nas nossas peças fica nas<br />
nossas peças. Isso é <strong>de</strong>terminante.<br />
Mas há histórias, pá, tivemos pessoas<br />
a fazerem as coisas mais estranhas...<br />
O que é incrível é que as pessoas sejam<br />
cúmplices <strong>de</strong>ste mistério: nós<br />
nunca pedimos segredo aos espectadores,<br />
mas eles não dizem a ninguém<br />
o que se passa aqui <strong>de</strong>ntro. É lindo. É<br />
“O que acontece<br />
nas nossas peças fica<br />
nas nossas peças (...).<br />
O que é incrível<br />
é que (...) nós nunca<br />
pedimos segredo aos<br />
espectadores, mas<br />
eles não dizem a<br />
ninguém o que se<br />
passa aqui <strong>de</strong>ntro.<br />
É lindo. É como<br />
se a peça fosse só<br />
nossa e <strong>de</strong>las”<br />
Alexan<strong>de</strong>r Devriendt<br />
como se a peça fosse só nossa e <strong>de</strong>las”.<br />
Continua a parecer assustador: um<br />
buraco negro, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> pelos vistos se<br />
sai melhor mas sabemos lá a que preço.<br />
Mas é tão assustador para nós como<br />
para eles: “Aqui os actores não são<br />
servos do texto, como costuma acontecer<br />
no teatro, mas são servos do<br />
público. Po<strong>de</strong> parecer que estamos<br />
sempre em controlo, mas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>mos<br />
completamente do espectador.<br />
Estamos lá para ele. Ele po<strong>de</strong> continuar<br />
a viver a sua vida <strong>de</strong>ntro das<br />
nossas peças, nós é que não. Mesmo<br />
que ele venha e não faça nada, nós<br />
temos qualquer coisa para lhe mostrar”,<br />
continua.<br />
Também é esse o jogo em “A Game<br />
of You” (dias 15 e 16), em que os Ontroerend<br />
Goed criam um avatar para<br />
cada espectador. Parece uma oferta<br />
generosa - e é. “Quando estávamos a<br />
fazer a peça na Bélgica, houve um dia<br />
em que uma crítica flamenga apareceu<br />
para ver e nos atirou com um ‘Então,<br />
é esta a peça em que vou ficar a<br />
saber tudo sobre mim?’. Ficámos em<br />
pânico. Mas acho que sim, que ela ficou<br />
a saber uma ou outra coisa sobre<br />
ela”, conclui Devriendt.<br />
Venha daí a nossa peça <strong>de</strong> teatro:<br />
também queremos ter qualquer coisa<br />
que não seja <strong>de</strong> mais ninguém.<br />
Ípsilon • Sexta-feira 7 Janeiro 2011 • 25