Jornal das Oficinas 073
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JORNAL DAS OFICINAS<br />
www.jornal<strong>das</strong>oficinas.com<br />
EVENTO<br />
CONFERÊNCIA DE REPINTURA AUTOMÓVEL<br />
DEZEMBRO 2011<br />
19<br />
A rentabilidade, contudo, está na gestão<br />
dos processos, provavelmente com a<br />
utilização de métodos mais avançados e<br />
produtos mais desenvolvidos, porque hoje<br />
não podemos falhar no capítulo da<br />
qualidade. A mão-de-obra é o ponto mais<br />
difícil de fazer progredir, porque só<br />
conseguimos baixar os custos de<br />
mão-de-obra tornando as pessoas mais<br />
eficientes e mais produtivas. E essa é a<br />
maior dificuldade que as oficinas<br />
enfrentam neste momento. Há pessoal<br />
técnico que passa 30 horas na oficina,<br />
para produzir apenas 10 horas. Ou<br />
ganham mal, ou os orçamentos ficam<br />
muito caros e não são aprovados.<br />
|| José Carlos Gonçalves<br />
No mercado português de repintura, o<br />
trabalho representa cerca de 75% do custo<br />
de reparação e 25% é para a tinta e para<br />
os consumíveis. Se incluirmos a chapa, a<br />
percentagem pode passar para 72%/28%.<br />
Isso significa que o negócio se baseia num<br />
custo de mão-de-obra acessível, que é a<br />
única hipótese de trabalhar no mercado<br />
nacional.<br />
|| Neves Martins<br />
Nós conseguimos arranjar alguma<br />
margem na reparação <strong>das</strong> peças<br />
danifica<strong>das</strong>, porque as peças novas têm<br />
uma margem muito reduzida. A solução<br />
nas empresas multimarca passa por<br />
apostar na mão-de-obra mais barata,<br />
porque os orçamentos não são aceites<br />
pelos clientes, se tiverem custos muito<br />
elevados.<br />
|| Filipe Santos<br />
A percentagem de mão-de-obra na<br />
Europa parece rondar os 65% da factura.<br />
Mas nós cá em Portugal tentamos baixar o<br />
custo de mão-de-obra, que praticamente<br />
não tem margem de lucro. Nas peças, a<br />
margem é também reduzida, de modo<br />
que o lucro só pode vir da economia de<br />
custos e da rapidez de execução do<br />
serviço. No mercado português, a<br />
mão-de-obra deve andar abaixo dos 70%<br />
do custo da reparação.<br />
|| Nuno Gonçalves<br />
O custo de mão-de-obra hora é nas<br />
oficinas independentes cerca de<br />
34% inferior ao custo praticado nas<br />
oficinas autoriza<strong>das</strong>, onde é em<br />
média de € 34,6, segundo dados<br />
disponíveis. Considera que essa<br />
diferença é um factor de<br />
competitividade e de<br />
sustentabilidade dos negócios, ou o<br />
contrário?<br />
Oportunidades no mercado existem para<br />
todos, quer tenham a mão-de-obra mais<br />
barata, quer tenham mais cara, assim as<br />
queiram aproveitar e agarrá-las<br />
correctamente. Há no entretanto aqui<br />
uma diferença básica. O custo da<br />
mão-de-obra em si não é muito diferente<br />
numa oficina multimarca ou numa oficina<br />
autorizada. Os outros custos associados de<br />
instalações, equipamentos, gestão e<br />
imagem é que são totalmente diferentes,<br />
para mais, nas oficinas de marca. A oficina<br />
de marca não pode deixar de repercutir<br />
esses custos na mão-de-obra, porque tem<br />
que os pagar, embora espere obter<br />
retorno deles.<br />
As oficinas multimarca assumem um custo<br />
de mão-de-obra inferior, porque têm<br />
custos menores e é provável que a<br />
rentabilidade do trabalho seja também<br />
menor. Do ponto de vista do mercado, os<br />
orçamentos acabam por ser nivelados e<br />
todos têm oportunidades de facturar,<br />
desde que tenham condições mínimas<br />
para operar com a qualidade média que<br />
hoje é exigida.<br />
Há também uma grande diferença entre<br />
reparação mecânica e reparação de chapa<br />
e pintura. No primeiro caso, o cliente é<br />
que pede ao mecânico que resolva o<br />
problema e na área de carroçaria e<br />
repintura o reparador é que tem que<br />
saber vender ao cliente a reparação e<br />
outros serviços de valor acrescentado. Nós<br />
muitas vezes perdemos o mercado da<br />
pequena colisão porque não temos<br />
proximidade com o cliente e não<br />
“perdemos” tempo com ele. É esta<br />
mudança de mentalidade que pode fazer<br />
alguma diferença no futuro.<br />
|| José Carlos Gonçalves<br />
Por muito que nós queiramos melhorar o<br />
nosso negócio, temos que ver que o<br />
mercado português é muito pequeno.<br />
Basta olhar aqui para a vizinha Espanha,<br />
para percebermos como o nosso mercado<br />
é limitado. Apesar disso, temos cá as<br />
oficinas de marca, os centros de colisão e<br />
as oficinas independentes e todos querem<br />
ganhar a vida. As marcas nasceram e<br />
cresceram dentro do mercado que foram<br />
criando para elas próprias, enquanto que<br />
as oficinas multimarca tiveram que<br />
conquistar o seu espaço no mercado, que<br />
já era dominado pelas marcas. Essa é a<br />
principal diferença. Neste momento, as<br />
marcas não estão interessa<strong>das</strong> em<br />
esmagar os preços, porque os carros da<br />
sua marca vão lá parar quase<br />
inevitavelmente e os gestores <strong>das</strong> oficinas<br />
tem uma aptidão comercial mais elevada<br />
do que a média dos reparadores. As<br />
oficinas autoriza<strong>das</strong> têm assim a<br />
vantagem de possuírem pessoal<br />
especializado nos modelos da marca e<br />
têm gestores de cliente que sabem<br />
explicar correctamente as opções e as<br />
vantagens para o cliente. Uma delas é um<br />
menu extremamente alargado de<br />
serviços, que podem ser efectuados de<br />
uma forma programada, para evitar a<br />
imobilização desnecessária do veículo.<br />
Os grandes centros de colisão são<br />
financiados por grandes grupos<br />
económicos, que investiram para criar<br />
uma organização de escala, com grandes<br />
volumes e custos reduzidos. Juntaram à<br />
reparação a resolução do sinistro e isso<br />
interessa de forma evidente ao utilizador<br />
do veículo. Os vínculos económicos com<br />
outras empresas acabam por facilitar o<br />
contacto institucional com as respectivas<br />
frotas e assim canalizam para si as<br />
oportunidades de negócio em circuito<br />
fechado.<br />
Temos finalmente as oficinas multimarca,<br />
que terão que sobrevier entre estes dois<br />
principais protagonistas do mercado de<br />
colisão. É uma tarefa exigente e de certo<br />
modo difícil, mas há bons exemplos de<br />
sucesso e isso demonstra que é possível o<br />
David vencer o Golias. Para isso, as oficinas<br />
terão que apresentar uma oferta de<br />
serviços interessante e com preços<br />
competitivos, que levem os clientes a<br />
mudar de “ambiente”.<br />
As oportunidades existem, apesar do<br />
péssimo momento que o país está a<br />
atravessar. É tudo uma questão de apostar<br />
e investir em soluções com potencial de<br />
sucesso. É mais fácil pararmos quando<br />
vamos na estrada e vemos um restaurante<br />
ou uma pastelaria com bom aspecto, do<br />
que ir a uma área de serviço, que parece a<br />
cantina na tropa… Isso quer dizer que as<br />
oficinas têm que trabalhar de uma forma<br />
transparente, com uma organização<br />
impecável e utilizando toda a tecnologia<br />
que hoje está disponível. Os fornecedores<br />
de produtos são parceiros que dispõem<br />
de métodos de trabalho e de programas<br />
de formação que trazem a oficina para o<br />
mundo actual, havendo felizmente várias<br />
opções no mercado. É importante<br />
também que o pessoal seja polivalente e<br />
flexível, para poder tirar partido <strong>das</strong> horas<br />
que a oficina lhe paga. Neste momento, já<br />
há pintores que pegam no serviço desde a<br />
chapa e levam-no seguido até ao fim.<br />
Quer dizer que não há paragens, nem<br />
tempos mortos pelo meio, o que é<br />
excelente para a oficina e para a<br />
rentabilidade do trabalho. É tudo uma<br />
questão de abertura mental e de<br />
preparação técnica. O chapeiro também<br />
pode aplicar primários, aparelhos,<br />
efectuar a secagem lixar, sem estar à<br />
espera do colega pintor.<br />
Em termos de conclusão, diria que logo<br />
que a situação económica do país<br />
recupere, há espaço para toda a gente<br />
que pretenda trabalhar como se deve e<br />
diversificar as fontes de receita.<br />
|| Neves Martins<br />
Nós não podemos fazer como os<br />
“grandes”, que podem cortar nos produtos<br />
ou na mão-de-obra, só para tentarem<br />
deitar-nos abaixo. As pequenas oficinas de<br />
dimensão familiar podem tirar partido da<br />
proximidade com o cliente e da sua<br />
criatividade, para captarem mais<br />
oportunidades. Se não podem ter carros<br />
de substituição, podem levar o cliente a<br />
casa ou ir buscar o carro a casa do cliente,<br />
por exemplo, o que acaba por resultar do<br />
mesmo modo e o cliente sente-se mais<br />
como em sua casa. Isso é um bom ponto<br />
de partida para ele se sentir bem e querer<br />
voltar à nossa oficina.<br />
|| Filipe Santos<br />
Para haver produtividade, as pessoas têm<br />
que estar especializa<strong>das</strong> no que fazem e<br />
têm que ter volume de serviço, que<br />
permita manter o ritmo. As parcerias com<br />
seguradoras são por isso muito<br />
importantes, garantindo um fluxo de<br />
serviço que mantêm a ocupação do<br />
pessoal e garante a continuidade e<br />
organização dos processos de reparação.<br />
Este aspecto é muito importante para<br />
manter o nível de motivação dos técnicos.<br />
Essa motivação faz com que eles tenham<br />
vontade de aprender e queiram ir às<br />
acções de formação, porque sentem que é<br />
essencial terem capacidade de resposta.<br />
|| Nuno Gonçalves<br />
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