Jornal das Oficinas 073
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DEZEMBRO 2011<br />
ENTREVISTA JORNAL DAS OFICINAS<br />
58 www.jornal<strong>das</strong>oficinas.com<br />
ANTÓNIO TEIXEIRA LOPES<br />
PRESIDENTE DA ARAN<br />
“É CARO<br />
UMA OFICINA<br />
ESTAR LEGAL”<br />
|| Umas sobrevivem, outras morrem. As oficinas estão<br />
numa situação bastante apertada, onde as condições<br />
de funcionamento podem ditar o tudo ou nada para<br />
a continuação da sua actividade, diz António Teixeira<br />
Lopes, presidente da ARAN<br />
D<br />
epois de conhecidos os contornos<br />
do último Orçamento de Estado,<br />
ainda antes de ser aprovado, a<br />
ARAN tem vindo a tomar posição<br />
oficialmente sobre alguns assuntos.<br />
Num dos comunicados, intitulado “O<br />
princípio do fim do sector automóvel”, a<br />
associação com sede no Porto disse<br />
mesmo que o sector da reparação não irá<br />
compensar a quebra na venda de novos<br />
que se prevê já. Advogando que os<br />
portugueses optam por fazer a<br />
manutenção mínima para as viaturas<br />
circularem, receia o encerramento de<br />
milhares de operadores. Mas em que<br />
termos é que isto poderá vir a acontecer,<br />
perguntámos a António Teixeira Lopes,<br />
presidente da associação. A resposta veio<br />
carregada de exemplos práticos, onde<br />
pontuavam os casos desesperados de<br />
reparadores que viam o fim da sua<br />
actividade a acontecer mesmo à sua<br />
frente, mas também os de sucesso,<br />
encontrados onde menos se espera.<br />
Colocando-se do ponto de vista de quem<br />
está por dentro do negócio, Teixeira Lopes<br />
falou de como as exigências normativas<br />
de vária ordem, como ambientais ou<br />
mesmo os licenciamentos de actividade,<br />
colocam pressões financeiras<br />
incomportáveis para quem tem a sua<br />
estrutura com pouca margem para<br />
acrescentar custos. Por outro lado, eles<br />
são necessários. Na sua opinião, as oficinas<br />
têm que se preocupar em prestar serviços<br />
de qualidade mas, acima de tudo, também<br />
garantir que o cliente consegue preços<br />
mais baixos assim que passar a sua porta.<br />
É que nestes tempos, “está tudo contra o<br />
lado oficinal”. Começando pela<br />
diminuição do poder de compra dos<br />
clientes.<br />
Pensava-se que o mercado de<br />
reparação suportava a quebra de<br />
novos, mas agora a associação vem<br />
dizer que não é bem assim. Como é<br />
que isto se explica?<br />
O que está por base deste contexto todo é<br />
a diminuição do poder de compra dos<br />
portugueses. Se a pessoa não tem<br />
dinheiro não pode fazer seja o que for. É<br />
preciso notar que os valores dos subsídios<br />
de Natal eram utilizados por algumas<br />
famílias para “questões extra”, como uma<br />
reparação para o carro antes de ir de<br />
férias. Todos sabemos que as oficinas<br />
tinham bem mais serviço nesses períodos.<br />
E agora as pessoas deixam de ter esse<br />
reforço.<br />
Isso significa que poderão haver<br />
muitas oficinas a fechar?<br />
Custa-me muito dizê-lo, mas não tenho<br />
dúvi<strong>das</strong>. Uma oficina que foi visitada pela<br />
ASAE e que não tinha Livro de<br />
Reclamações e dístico de tabaco, teve uma<br />
multa de cinco mil euros, que passou para<br />
o mínimo de 2.500 euros depois da<br />
intervenção da associação. Mas a empresa<br />
não tem dinheiro para pagar essa multa. O<br />
que é que vai acontecer? Vai fechar. Ficam<br />
cinco pessoas no desemprego e, pior que<br />
isso, não se vislumbra nenhuma<br />
alternativa para elas. Ou vão ficar a<br />
trabalhar à porta fechada a fazer<br />
concorrência a quem paga os seus<br />
impostos.<br />
Isso é algo que está a suceder<br />
muitas vezes?<br />
Sim, quando o IVA atinge quase um<br />
quarto do valor da reparação, isso é muito<br />
significativo. Esta é uma concorrência<br />
perfeitamente desleal para quem está<br />
aberto e tem que pagar os seus impostos.<br />
Os custos de exploração de uma<br />
oficina são muito mais baixos para<br />
esses casos…<br />
Sim, veja a componente ambiental. Para<br />
uma oficina, mesmo que seja pequena,<br />
são cerca de 400 euros por mês no<br />
mínimo. Fica caro para estar legal.<br />
Será esse um problema que afecta<br />
grande parte <strong>das</strong> oficinas nacionais,<br />
visto que poderão não estar<br />
prepara<strong>das</strong> para to<strong>das</strong> as<br />
exigências legais?<br />
É verdade. Se você tivesse dinheiro<br />
investia-o numa oficina, sabendo que ela<br />
não teria rentabilidade? Não investia. Da<br />
mesma forma, como é que as pessoas que<br />
têm oficinas vão investir sabendo que as<br />
oficinas poderão não ter continuidade? É<br />
que há uma percentagem muito larga que<br />
nem sequer têm licenciamento. Essas<br />
oficinas nem sequer têm condições para<br />
se licenciarem nos locais onde exercem<br />
actualmente. Terão que se deslocar para<br />
zonas industriais. E quem é que tem<br />
dinheiro para ir para uma zona industrial?<br />
Quem é que consegue comprar novos<br />
equipamentos? E a respeito de formação,<br />
a Lei obriga a que seja em horário laboral.<br />
Como é que a oficina que tenha quatro<br />
trabalhadores pode tirar um trabalhador<br />
que é o único na área para fazer<br />
formação? Temos que compreender isso.<br />
Está tudo contra o lado oficinal.<br />
Então quais são as opções para as<br />
oficinas?<br />
Existem dois tipos de oficinas. Umas são<br />
as que têm circunstâncias para sobreviver,<br />
com condições razoáveis, cumprem a<br />
legislação, estão licencia<strong>das</strong>, respeitam as<br />
normas ambientais e de segurança, e<br />
trabalham com pessoal formado e de<br />
qualidade. Há oficinas destas que estão<br />
cheias de trabalho. Mas elas têm que<br />
perceber que o cliente tem pouco<br />
dinheiro. Enviámos recentemente uma<br />
circular para os nossos associados para<br />
terem atenção a isso: olharem para o<br />
cliente e tentarem embaratecer as<br />
reparações. Se isso acontecer, o cliente<br />
volta a lá ir. É importante manter um<br />
preço o mais baixo possível assegurando a<br />
qualidade da reparação. Só assim as<br />
oficinas continuarão a ter serviço. As<br />
outras oficinas são as que não terão<br />
condições para sobreviver. Seja porque<br />
ARAN EM NÚMEROS<br />
A associação tem 60% dos associados de há<br />
três anos. O número de empresas de<br />
comércio e retalho desceu, fruto da<br />
concentração em grandes grupos, mas<br />
subiu no comércio de usados, fruto da sua<br />
política de certificados digitais para as<br />
empresas deste sector. Neste momento terá<br />
15% de empresas de retalho, 20%<br />
rebocadores e 65% de oficinas.