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Édipo, um rapaz de Lisboa - Fonoteca Municipal de Lisboa

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MICHAEL CHILDERSSeguidor dos Upanixa<strong>de</strong>s eautor <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> textos sobreSri Ramakrishna Paramahamsae a filosofia vedanta, traduziudo sânscrito para inglês o“Vivekachudamani” <strong>de</strong> AdiShankara. Assim se tornou<strong>um</strong>a ave rara da “intelligentzia”americana. Se toda a diferençaperturba, a <strong>de</strong> Isherwoodnunca se distinguiu pelaparcimónia: oriundo das “upperclasses”britânicas, causticousem ambiguida<strong>de</strong>s as suasidiossincrasias; ass<strong>um</strong>iu ahomossexualida<strong>de</strong> sem álibis <strong>de</strong>“bom comportamento”; abandonouo marxismo quando ele estavaem alta; exilou-se na Califónia poroposição aos sofisticados círculosliterários da Costa Leste; fez a<strong>de</strong>fesa dos Vedas na socieda<strong>de</strong>da abundância; por último masnão em último, feito discípulo <strong>de</strong>Swami Prabhavananda, ajudou-o atraduzir o “Bhagavad Gita”.Sublinhando com ênfase quea sua escrita é <strong>um</strong> exemplo do“melhor inglês narrativo doperíodo” (anos 1930-40), Jorge <strong>de</strong>Sena fez a síntese lapidar: “estilovivo e inteligente, inquietação<strong>de</strong> espírito, <strong>de</strong>silusão do mundo,sexualida<strong>de</strong> perturbada, gostodo fantástico e do grotesco, e <strong>um</strong>aamargura íntima e profunda quenão há ioguismo que dissolva.”(cf. “A Literatura Inglesa”, 1963)Sexualida<strong>de</strong> “perturbada” eracomo, para amolecer censor, se<strong>de</strong>signava a homossexualida<strong>de</strong>.Natural <strong>de</strong> Wyberslegh Hall,no Cheshire, Christopher WilliamBradshaw-Isherwood nasceu a 20<strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1904. Como vimos,conheceu Au<strong>de</strong>n cedo. Spen<strong>de</strong>r,com quem mais tar<strong>de</strong> viajou pelaAlemanha, e Edward Upward, comquem escreveu “The MortmereStories” (contos apenas publicadosem 1994), são amiza<strong>de</strong>s coevas.“All the Conspirators”, o primeiroromance, foi publicado em 1928.Nessa altura já ele havia escrito“People One Ought to Know”,colectânea <strong>de</strong> poemas impressaem 1982. De facto, os poemassão <strong>de</strong> 1925, coincidindo com atemporada que Isherwood passouem casa <strong>de</strong> André Mangeot. Nãohá notícia <strong>de</strong> reincidência poética.A bibliografia é extensa, muitomarcada, nos anos europeus, pelaspreocupações políticas. É notórioo interesse pela ficção, o teatroe o memorialismo. “Christopherand His Kind”, a autobiografia <strong>de</strong>1976, é <strong>um</strong> testemunho <strong>de</strong>cisivo.Noutro registo, a biografia dospais, “Kathleen and Frank”,publicada em 1971, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> serreveladora.Edward Morgan Forster foi <strong>um</strong>adas amiza<strong>de</strong>s que fez em Berlim.Apesar da diferença <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s(era 25 anos mais velho do queIsherwood), frequentaram juntosos bordéis masculinos da cida<strong>de</strong>,divertindo-se na companhia<strong>de</strong> jovens operários alemães.Para mais <strong>de</strong>talhes, consultar“Der Puppenjunge” (1926) <strong>de</strong>John Henry Mackay. O advento<strong>de</strong> Hitler pôs termo à movediçaCamelot em que se transformara acapital alemã. Isherwood e Au<strong>de</strong>n<strong>de</strong>ixaram a Alemanha em 1933. Em1939, antes da partida <strong>de</strong>finitivapara os EUA, passaram uns diasem Sintra.Pouco <strong>de</strong>pois da chegada àAmérica separaram-se. Au<strong>de</strong>npermaneceu em Nova Iorque,no n.º 7 <strong>de</strong> Middagh Street, emBrooklyn Heights. No mesmoprédio viviam Carson McCullerse Erika Mann, Benjamin Britten eIsherwood e o companheiroDon Bachardy (relação queenforma muito <strong>de</strong> “A SingleMan”) no doc<strong>um</strong>entário“Chris & Don: a Love Story”,<strong>de</strong> Tina Mascara e GuidoSantiPeter Pears, Jane e Paul Bowles.Au<strong>de</strong>n e Golo Mann ficaram“pendurados”. Parece que todos sedivertiam à brava, mas Isherwoodpreferiu ir com o fotógrafo WilliamCaskey (com quem passou aviver) conhecer os países doCaribe. O resultado da viagem estádoc<strong>um</strong>entado em “The Condorand the Cows” (1949). No regresso,os dois estabeleceram-se em LA,tendo privado com Aldous Huxley,David Hockney e Igor Stravinsky.Christopher e DonFoi lá que, no dia <strong>de</strong> São Valentim<strong>de</strong> 1953, Isherwood conheceuDon Bachardy, então com 18 anos.Bachardy, artista plástico, tornouse<strong>um</strong> retratista <strong>de</strong> sucesso. Osdois viveram juntos até à morte <strong>de</strong>Isherwood, em 1986. São co-autores<strong>de</strong> “Frankenstein: The True Story”(1973) e “October” (1983). O casalfoi imortalizado n<strong>um</strong> quadro <strong>de</strong>Hockney, “Christopher Isherwoodand Don Bachardy” (1976), bemcomo n<strong>um</strong> filme que Tina Mascarae Guido Santi estrearam em 2008:“Chris & Don: a Love Story”.Ou seja, <strong>um</strong> <strong>de</strong>calque do quese passou com Au<strong>de</strong>n <strong>de</strong>pois<strong>de</strong> Isherwood o ter trocado porCaskey. Vejamos: Chester Kallmantambém tinha 18 anos quandoconheceu Au<strong>de</strong>n, também viveramjuntos até à morte <strong>de</strong>ste, e sãoco-autores dos libretos <strong>de</strong> váriasóperas, entre elas “The Rake’sProgress” (1951) <strong>de</strong> Stravinsky e“Elegy for Young Lovers” (1961) <strong>de</strong>Henze. N<strong>um</strong> caso como noutro, adiferença <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s era gritante:Isherwood tinha mais 30 anosque Don Bachardy, e Au<strong>de</strong>n maiscatorze que Chester Kallman.Quando a morte o surpreen<strong>de</strong>u,a 4 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1986, Isherwoodtinha 81 anos e cancro napróstata. Nessa altura, jáninguém se lembrava damística do Au<strong>de</strong>n Gang, <strong>de</strong> queele fora <strong>um</strong> dos vértices. Nestemomento, a obra passa por<strong>um</strong> processo <strong>de</strong> reavaliação, àmargem dos preconceitos <strong>de</strong>tribo: os intelectuais que viamnele <strong>um</strong> “hippie”; os gays quetêm dificulda<strong>de</strong> em lidar coma heterodoxia; a socieda<strong>de</strong>heterossexual que o olhava <strong>de</strong>viés. Em Portugal estão traduzidos“O Memorial”, “A<strong>de</strong>us a Berlim”,“O Mundo no Crepúsculo”, “UmHomem no Singular” e “Encontroà beira do rio”, o último romance,injustamente subavaliado (oincesto entre irmãos continua aser tabu). Bau<strong>de</strong>laire, o primeirodos mo<strong>de</strong>rnos, teria gostado <strong>de</strong>saber que ele traduziu os seus“Journaux Intimes”. Tudo visto,Isherwood é <strong>um</strong> continente porexplorar.METROPOLITANATEMPORADA 2009|201018 Anos – Ida<strong>de</strong> Maior direcção artística Cesário CostaFEVEREIROSexta-Feira 19, 18h00 Se<strong>de</strong> da Metropolitana [ensaio aberto]Sábado 20, 21h30, Auditório da Casa do Povo <strong>de</strong> Aveiras <strong>de</strong> Cima, AzambujaDomingo 21, 17h00, Auditório da Reitoria da Universida<strong>de</strong> Nova <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>menos em Isherwood (mesmo que“muita da textura do amor entre aspersonagens possa ser encontrada narelação real entre Isherwood e o seuamante Don Bachardy”) do que emTom Ford. Conta que bastaram “doisdias” <strong>de</strong> rodagem para perceber “claramente”o que o realizador queria epara sentir a confiança que Ford <strong>de</strong>positaranele com esta personageme <strong>um</strong> filme tão pessoais.Ajuda a explicar a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste“huis clos” – mesmo quando o filmese passa em exteriores, é <strong>um</strong>a LosAngeles subtilmente sugerida, como<strong>um</strong>a fantasmagoria interior – o facto<strong>de</strong> a rodagem ter <strong>de</strong>corrido <strong>de</strong> formaíntima, durante cinco semanas, trabalhandoquase sempre <strong>de</strong> noite, <strong>um</strong>mundo isolado do mundo; ainda, a“meticulosida<strong>de</strong>” <strong>de</strong> Ford, testemunhao actor, que não se confun<strong>de</strong> com“o controlo cansativo sobre as coisas”,antes cria “espaço para que aimaginação possa florescer, e é issoque é dirigir”. (Serve para a “petitehistoire” <strong>de</strong> “A Single Man”: a sequênciaem que George recebe a notícia,ao telefone, da morte do seu companheiroJim, e on<strong>de</strong>, não tão subtilmenteassim, lhe informam que ele não é<strong>de</strong>sejado no funeral, “foi rodada nanoite em que Barack Obama foi eleito[para a presidência americana], porisso não foi o dia mais fácil para estararrasado pelo luto”, brinca Colin.)Regressando à epifania <strong>de</strong> George,que é a epifania <strong>de</strong> Tom. Diz o realizador<strong>de</strong> “A Single Man” que a suare<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Isherwood foi <strong>um</strong>alição <strong>de</strong> vida: “Se começamos a vidacomo água <strong>de</strong> ‘toilette’, <strong>de</strong>vemos tera possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a acabar como perf<strong>um</strong>e.”Que é o mesmo que dizer quenão há aqui fantasmas (da moda), hásó <strong>um</strong> cineasta.Para as citações <strong>de</strong>ste artigo foramusadas <strong>de</strong>clarações entrevista ao Ípsilon(Colin Firth) e conferências <strong>de</strong> imprensaem Cannes e em Toronto (TomFord)Ver crítica <strong>de</strong> filmes págs 52 e segs.DE MOZART A BEETHOVENTatiana Samouil violino Maximino Z<strong>um</strong>alave direcção musicalOrquestra Metropolitana <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>Wolfgang Ama<strong>de</strong>us Mozart (1756-1791)– Abertura da ópera Don Giovanni, K. 527– Concerto n.° 1 para Violino em Si bemol maior, K. 207Ludwig vanBeethoven (1770-1827)– Sinfonia n.° 6 em Fá maior, Pastoral+informações www.metropolitana.pt telefone: 21 361 7320Ípsilon • Sexta-feira 19 Fevereiro 2010 • 19

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